a forma como se fala sobre a idade no inglês, demonstra mais nua e cruamente a força e a indiferença do tempo.
- how old are you?
- i am 32 years old.
que na tradução literária:
- quão velho é você?
- eu estou 32 anos velho.
nascemos e desde este dia ficamos velho a cada inda e vinda dos pulmões. quando bebês não pensamos muita coisa, apenas sobreviver, quentinho, seco e alimentado. qualquer alteração e disparamos o alarme.
mais crescidinhos, crianças, vivemos intensamente a cada dia. talvez por notar que o tempo é feroz no cumprimento do seu dever de passar, vivemos intensamente. dormir é perder tempo de vida. só dormimos porque o esgotamento vence a vontade.
a adolescência, aquela fatídica idade (a qual fui obrigado a passar), em que só pensamos em não pensar. crianças crescidas, jovens ranzinzas. tão rebeldes que queremos ficar mais velhos só para contrariar a nós mesmos de que ficar velho é um saco.
na fase adulta, não tem jeito. tudo se torna pateticamente claro. acordo, me encaro no espelho com dó
do que vejo. finjo não reparar nas marcas de expressão, na calvície e naquele maldito fio de cabelo
branco. eutearranqueiontemseufilhodeuma...
e ela chega. a velhice. aquela fase em que ninguém nunca se prepara para recebê-la e quando chega dá
um sustinho, uma melancolia, uma vontade de rever a vida e de ter aproveitado mais os espaços em branco do passado. na velhice, onde informados de que a vida passa ligeiro e impotentes para qualquer outra coisa, levantam num último brado de fulgor e tentam alertar aos mais jovens. vivam, seus imbecis, aproveitem melhor a vida. em vão, claro, bem sabem que deixaram passar diversos alertas dos profetas do pretérito, quando mais novos.
só não diga que não avisei.
evandro l! melo