terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Jesus Nasceu, por isso, Feliz Natal!!!!

Amigos, mais um ano que se finda, mais um Natal que chega!

Momento de reflexão, de olhar para o ano que se foi e pensar no que fizemos e o deixamos de fazer.
Lembrar de todas as bençãos que recebemos do Pai.

Gostaria de agradecer a todos que visitaram este humilde blog, já temos mais de 5 mil visitas e isso me alegra bastante.

Espero que de alguma forma, os textos aqui deixados possa abençoar a vida de vocês, como tem abençoado a minha.

Espero a visita de cada um de vocês em 2009.
Muito obrigado mesmo, de coração.

Jesus Nasceu, por isso, Feliz Natal!!!!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Televisão. Para que serve isso?

Para que serve a televisão? Já parou para pensar nisto?

A televisão é um meio de comunicação, entao serve para comunicar.
Mas comunicar o que?

Certo dia, me preparando para ir trabalhar liguei a televisão para assistir o noticiário da manhã, o que não é rotina, pois dificilmente acordo com tempo de me dar a esse luxo.
Como não dispunha de muito tempo assisti o noticiário por menos de 10 minutos. O que me alarmou foi que nesses poucos minutos eu pude ver 3 matérias e todas elas de tragédias.

Crianças que ficaram soterradas por uma casa que desabou, mulher que foi encontrada morta em uma favela do Rio etc.

Então me pergunto, isto é comunicação? É para isto que serve a Televisão ?

Recebemos eese monte de notícia logo no início do dia, e em qualquer noticiário encontramos a mesma coisa.
Não quero parecer duro e incensível, mas eu o que eu penso quando eu vejo esse tipo de notícia, é "e daí".

Não me convenço de que a televisão mostre esse tipo de matéria para ajudar a população de alguma maneira, para ajudar os cidadãos a formarem senso crítico ou a mudarem suas atitudes, pelo contrário, vejo a televisão entregando drogas a viciados.

O cidadão esta viciado em caos, tudo é caos, e a televisão explora essa fraqueza do ser humano de gostar de desgraça e vende cada dia mais CAOS. Compramos as drogas que nós mesmos produzimos, o caos.

George Orwell já mostrou isso em 1949, em seu livro "1984" onde detalha com maestria como o governo controla todo o povo, controlando os meios de comunicação. Se chegou ao seu ouvido e visão é poruqe assim pensadamente o desejaram.
Quanto maior a divulgação do caos, maior nosso sentimento de insegurançca e baixo auto-estima, e quanto maior for isso maior será nosso desespero por querer que "superiores" preparados nos governe.

Será que precisamos mesmo saber que uma criança foi soterrada, que uma mulher foi enconrada morta, que um motoboy sofreu acidente, que as ruas estão congestionadas, todos os dias, todas as horas?

Porque não falar de coisas belas e boas que acrescente algo em nossa cultura, que nos desperte para a formação de opnião, que nos ajude a aumentar a auto-estima? A resposta é simples, porque viciado quer sempre mais DROGA.

Isso porque fiquei só nos noticiários, nem quero pensar em novela, programas de auditório, programas de domingo a tarde, programas de religião e os shows da fé etc.


A quem quiser arriscar a desintoxicação televisiva, fica a dica de alguns bons livros.

1984 - George Orwell
A cabana - William P. Young
O mundo de Sofia - Jostein Gaarder
O pequeno príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
Anarquistas graças a Deus - Zélia Gatai

E por aí vai....

PAZ!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Os paradoxos do Natal




Neste final de semana, larguei a capa que vestia de insegurança, receio e medo e me enchi de coragem para colocar em prática um dos planos que listei na virada do ano de 2007 para 2008.

Na lista de 10 itens, que incluia ler ao menos 10 livros (li uns 5) entre outras coisas, incluía também, sair do teórico e partir mais para prática no que se refere a ser Cristão.

Há aproximadamente dois anos venho, junto da minha esposa, visitando o Lar Pequeno Leão, que acolhe crianças que por algum motivo foram retiradas da guarda de seus pais.
Visitamos toda a semana durante um bom tempo essas crianças, e sempre dizíamos um ao outro para "adotar" uma delas para passar um final de semana com a gente.

Pois bem, esse era um dos itens da minha lista de afazeres para 2008, e somente agora no final do ano que colocamos isso em prática, trouxemos um menino de 8 anos para passar o final de semana em nossa casa.

Foi um momento muito especial onde pudemos dar um pouco de amor, carinho e companhia a esta criança. Momento que pensei que iria abençoar mas saí muito mais abençoado.

Poderia escrever diversos textos sobre este momento, muitos foram os acontecimentos que me dispertaram a atenção e me fizeram refletir minha vida, mas o que ficou em minha mente desde o final de semana, foi o nosso "Natal".

Isso porque fomos visitar os enfeites de Natal tão lindos que vemos pela cidade, e neste passeio encontrei pelo menos dois paradoxos.

O primeiro é porque o "nosso" natal, e falando do natal comercial, com 'ene' minúsculo mesmo, não é nosso.

Não é um natal brasileiro mas sim Europeu/Americano, pois vivemos em um país de clima tropical, o natal ocorre no verão, e todo enfeite de natal que temos no país traz bonecos de neve, papai noel com roupas de frio, bonecos com roupas de frio, e neve por toda parte. Esse natal não é nosso, é deles.

Outro paradoxo, este sim mais grave, foi mostrar um natal rico a uma criança pobre. E esse natal me fez pensar no Natal de verdade.

O Natal simboliza e celebra o nascimento de Jesus. Todos sabemos que Jesus nasceu pobre, sua família era pobre e seu nascimento foi numa manjedoura, local onde animais se alimentam.
O rei dos reis nasceu em uma estrebaria, nasceu pobre.

Jesus recebeu presentes dos 3 magos, que não eram reis, eram apenas magos, daí talvez a tradição dos "presentes" no natal que reina absoluto nos dias de hoje.

O que me espanta nisto tudo não é o fato de levarmos tão a sério o natal comercial e a tradição dos presentes, mas sim o desprezo como tratamos o Natal - Nascimento de Jesus.

Jesus não veio ao mundo a passeio, veio fazer a diferença, veio ser a diferença, veio mudar o mundo.

Nós que nos julgamos cristãos e discípulos de Cristo somos instigados por Ele a sermos sal e luz, a sermos a diferença que o mudo precisa, a sermos radicais e não nos conformarmos com o mundo.

Qual a diferença que nós cristãos, que nós igreja de Cristo temos feito?

Comemoramos nosso natal felizes em casa, comendo boas comidas, tomando bons vinhos, trocando presentes e esquecendo que lá fora existem pessoas passando necessidades, pessoas com frio, fome e carentes de amor.

Esquecemos que para sermos Cristãos temos que ter o comportamento de Cristo.
Jesus Cristo nasceu pobre e viveu para os pobres. Conhecia os ricos, mas preferia a companhia dos pobres, amava estar próximo a eles.

E nós, igreja de Cristo, não temos acolhido os companheiros de Jesus.

Não quero romper com a tradição, com as festas etc, mas quero pensar melhor no meu comportamento.

Os 3 magos deram o melhor presente de que dispunham para Jesus.

Qual o nosso melhor presente para Ele?

Pensemos nisto.

PAZ!

Evandro.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O show da fé

Sou cristão desde pequeno.Nasci, cresci e vivi em lar evangélico. 
Frequentei religiosamente os cultos dominicais.Cursei a EBD* e não perdia as EBFs*.
Nunca li a Bíblia toda, mas conheço bastante passagens, embora seja um livro que sempre há algo a mais a conhecer.

Até início da minha juventude aceitei como verdades absolutas e indiscutíveis os sermões dos líderes da igreja.
Depois descobri que eu podia "pensar", que eu podia refletir e até mesmo discordar.

Nesse caminho de pensador, alguns pontos tomam mais tempo e espaço em minha mente. 
Um desses assuntos que ficam indo e vindo em minha mente, me provocando a pensar e repensar, é a FÉ.

Já me fiz diversar perguntas sobre o que é Fé, e ainda não cheguei a uma resposta única e convincente.

Afinal o que é fé? É crer que Deus fará tudo o que queremos? É crer que Deus nos livrará de todo mal?
É crer que seremos abonados aqui na Terra? O que é fé?

Já cheguei a pensar em fé, e esta hoje é a idéia mais próxima que consegui arrumar, é que fé não é crer num futuro próspero, mas sim aceitar o presente que Deus nos dá. Não é acreditar que Deus faça o  que você pede, mas agradecer e aceitar o que Deus te dá.

Vejo muito hoje em dia, nesse evangelho espetacular que estamos vivendo, com programas de TV intitulados "O show da fé", estádios lotados para ver cristãos se apresentando e vendendo a marca de sua igreja e de seu trabalho, "pastores" que ensinam como obter as bençãos de Deus, como O chantagear e O forçar a fazer o que você precisa; Bíblias com ênfase na prosperidade financeira, e por aí vai.

Quando vejo tais programas e tais pregações, fico pensando no alcance que isso tem e como as pessoas menos instruídas e mais suscetíveis a essas lorotas recebem esse tipo de mensagem.

Imgine o quão decepcionante deve ser para a mulher que mora na favela ver na TV o pastor dizendo que Deus vai fazer o que você pedir, e depois de desligar a TV ter que conviver com o filho drogado, o marido alcoólatra e violento, ou ainda mães com filhos com doenças incuráveis.

Fico pensando nessas pessoas que não conseguem distinguir entre farsantes e pessoas idôneas, o quão decepcionante é crer em um Deus vendido nas TVs como o gênio da lâmpada pronto para atender seus pedidos, quando a verdade é diferente disso.

E quando ousam perguntar "porque?" ouvem desses farsantes que "não teve fé", "não acreditou", "não confiou" direito.

Gostaria muito de chegar ao fim deste texto, com uma conclusão brilhante, ou mesmo uma conclusão. 
Infelizmente não a tenho, o que tenho são idéias, perguntas, dúvidas, e disposição para procurar em Deus essas respostas.

Não sei dizer exatamente o que Deus é mas posso afirmar o que não é.

Evandro.

*EBD = Escola Bíblica Dominical
*EBF = Escola Bíblica de Férias



Paciência

Num mundo em que vivemos em velocidade acelerada,
perdemos os pequenos momentos, deixamos passar...

Não temos tempo de apreciar as coisas simples da vida,
e tão pouco apreciar a Deus.

Num mundo onde não fazemos a diferença que deveríamos,
onde somos mais um na multidão...

Sorte nossa que Deus nos ama e envia poetas e artistas para expressar Sua beleza.



sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O verdadeiro evangelho

Olá.


Dia desses ouvi uma frase que achei muito interessante:

"Pregue o evangelho, se precisar, fale alguma coisa"


A verdadeira pregaçao do evangelho está nas atitudes, não nas palavras.


Abaixo, segue 1 video dividido em 3 partes mostrando as obras da missão SAL (http://www.missaosal.org.br/), conduzida pelo Capellette.


Paz.




31 E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;

32 E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;

33 E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.

34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

35 Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;

36 Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.

37 Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

38 E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? 39 E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

40 E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.

41 Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;

42 Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;

43 Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.

44 Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?

45 Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.
46 E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.








sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

Dia desses fui ao cinema assistir “Ensaio sobre a cegueira” filme adaptado do livro de mesmo título, escrito pelo português José Saramago, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.
O filme conta a história de uma epidemia de cegueira que contamina uma cidade, deixando grande parte da população cega de um dia para outro. Com a cegueira, essas pessoas são enviadas para um local isolado, em uma espécie de quarentena onde são abandonadas à própria sorte.
É nesse contexto que o escritor coloca à mostra, em carne viva, o quão frágil é nossa sociedade, o quanto não sabemos conviver uns com os outros, como somos mesquinhos, egoístas, egocentricos, o quanto somos cegos.

Vivemos num mundo de faz de conta, onde fingimos estar tudo bem, tudo na perfeita ordem, sem estress, e quando algo sai da rotina, quebra o silêncio da tranquilidade, não somos capazes de nos organizar e lidar com essa situação.

O filme permite diversas leituras e entendimentos, o que relato agora foi o que mais me marcou.

Me marcou porque mostrou o quão superficial nós somos, o quão cegos estamos aos acontecimentos do dia-a-dia de nosso mundo, do nosso país, da nossa cidade.

Como posso estar feliz e em paz comigo mesmo, me dizendo Cristão, sendo que existem pessoas passando fome, frio, morrendo. Como posso me dizer Cristão e ainda estar em paz, apesar de tudo isso?

Lembro de uma pregação que ouvi recentemente de um pastor muito querido, que falava sobre a passagem do evangelho onde Jesus, que estava entre a multidão, ouve chamarem por seu nome. Eram dois cegos, que clamavam por ajuda ao mesmo tempo em que a multidão os mandava ficar quietos. Jesus então parou seu caminho e movido de íntima compaixão voltou até eles e os curou. (Mateus 20:30-34).

Qual seria nossa reação? Qual é nossa reação?
Qual é nossa reação quando vemos o menino vendendo drops no semáforo?

Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo drops no sinal pra alguém Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo drops no sinal pra alguém ...”(Relampiano – Lenine).

Estamos cegos e não percebemos. Estamos cegos como indivíduos e como igreja. Diria até que principalmente como igreja.

Jesus andava entre podres, mendigos, prostitutas, leprosos. Amava e vivia por esse povo, o povo necessitado. Como mandamento disse “amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesmo”. (Marcos 12:30-31)

Como ensimanento disse: “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.... quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim”. (Mateus 25: 31-46).

Vejo a igreja hoje mais preocupada com protocolos e costumes do que com os pobres e necessitados.
Vivemos um evangelho engomadinho, de pessoas bem vestidas, pessoas cultas, templos bem cuidados, som impecável e nenhum ou quase nenhum cuidado com as pessoas que realmente precisam do amor de Cristo.

Se você frequenta uma igreja, faça esse teste, durante o culto procure por algum mendigo, criança de rua, procure por alguém pobre a sua volta... não achou ninguém? Agora pergunte a si mesmo, isso está correto?

Vivemos um cristianismo “domingueiro”, esquecemos de pôr em prática tudo o que aprendemos através dos ensinamentos de Jesus.

- “ ...estou cego.
Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana...

O trecho acima, retirado das primeiras páginas do livro, relatam o momento em que o homem percebe-se cego. Nada indicava que estava, a íris apresenta-se nítida, luminosa, nada dava a impressão da cegueira.

Que Deus posso nos abrir os olhos enquanto há tempo.

PAZ!


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pecadores sem maldição

Pecadores sem maldição
Ricardo Gondim
Desde a adolescência, organizei minha vida com valores religiosos. Freqüentei e lecionei em escolas dominicais. Militei em grupos de jovens cristãos. Estudei em um instituto bíblico. Conheci bem os bastidores do mundo religioso, tanto no Brasil como nos Estados Unidos. 

Sincero e zeloso, sempre procurei cumprir as exigências de todas as instituições que participei. Se a igreja não permitia as mulheres cortarem o cabelo, briguei com a minha por aparar as franjas; se era pecado ir ao cinema, eu, que não aceitava essa proibição absurda, para evitar mau testemunho, viajava para longe se queria ver algum filme.

Relevei disparates, incoerências e hipocrisias eclesiásticas, porque considerava a causa de Cristo mais importante que as pessoas. Para não "escandalizar", fazia vista grossa para comportamentos incompatíveis com a mensagem cristã. 

Abraçado às instituições, acabei conivente de mercenários, alguns intencionalmente cobiçosos. Justifiquei tolices argumentando que as pessoas eram minimamente sinceras. Nem sei como me iludi a ponto de dizer: "fulano faz bobagem, muita bobagem, mas é sincero".

Cheguei a um tempo de vida, que algumas reivindicações da religião perderam o apelo. Com tantas decepções, deixei de acreditar na pretensa santidade dos religiosos. Considero piegas as pregações de que Deus exige uma santidade perfeita. Lembro imediatamente dos malabarismos que testemunhei que tentavam falsear tantas inadequações, dos jogos de esconde-esconde para não expor demagogias.

Jesus não conviveu com gente muito certinha. Ao contrário, ele os evitava e criticava. Chamou os austeros sacerdotes de sepulcros caiados, de cegos que guiam outros cegos, de hipócritas e, o mais grave, de condenarem os prosélitos a um duplo inferno. Cristo gostava da companhia dos pecadores, que lhe pareciam mais humanos.

Jesus alistou pessoas bem difíceis para serem apóstolos; Pedro era tempestivo; Tomé, hesitante; João, vingativo; Filipe, lento em compreender; Judas, ladrão. Acostumado com os freqüentadores de sinagoga e com os doutores da Lei, por que ele não buscou seguidores nesses círculos? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.

Jesus aceitou que uma mulher de reputação duvidosa lhe derramasse perfume; elogiou a fé de um centurião romano, adorador de ídolos; não permitiu que apedrejassem uma adúltera para perdoá-la; mostrou-se surpreso com a determinação de uma Cananéia; prometeu o paraíso para um ladrão nos estertores da morte. Sabedor das exigências da lei, por que Jesus não mediu esforços ou palavras para enaltecer gente assim? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.

Para Jesus, santidade não significava uma simples obediência de normas. Para ele, os atos não valem o mesmo que as intenções. Adultério não se restringe a sexo, mas tem a ver com valores que podem ou não gerar uma traição. 

O ódio que explode com ânsias de matar é mais grave do que o próprio homicídio. Para ele, portanto, pecado e santidade fazem parte das dimensões mais profundas do ser humano. Lá, naquele nascedouro, de onde brotam os primeiros filetes do que se transformará em um rio, forma-se o caráter. E santidade depende da estrutura do ser, com índole que gera as decisões.

Para Jesus, santidade se confunde com integridade; que deve ser compreendida como inteireza. As sombras, as faltas, as inadequações, os defeitos, bem como as luzes, as bondades, as grandezas, as virtudes, de cada um precisam ser encaradas sem medos, sem panacéias, sem eufemismos. 

Deus não requer vidas perfeitinhas, pois ele sabe que a estrutura humana é pó; não exige correção absoluta, pois para isso, teria que nos converter em anjos.

As prostitutas, que souberem lidar com faltas e defeitos com inteireza, precederão os sacerdotes bem compostos, mas que vivem de varrer as faltas para debaixo dos tapetes eclesiásticos. O samaritano, que traduziu humanidade em um gesto de solidariedade, é herói de uma parábola que descreve como herdar o céu. O tempestivo Pedro, que transpirava sinceridade, recebeu as chaves do Reino de Deus. A mulher, que fora possessa de sete demônios, anuncia a alvissareira notícia da ressurreição.

Os mandamentos e a lei só serviram para mostrar que para produzir humanidade não servem os legalismos. Integridade e santidade nascem  do exercício constante de confrontar suas luzes e sombras trazendo-as diante de Deus e mesmo assim saber-se amado por Ele.

Soli Deo Gloria.


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O segredo de agradar a Deus.

Achei este texto escrito pelo Gondim em seu site. É incrível como ele consegue escrever meus pensamentos e sentimentos.

O texto que segue abaixo exprime muito do que eu penso sobre viver, sobre como agradar a Deus.

Uma passagem da Bíblia que sempre me vem à cabeça, é Jesus falando que o céu pertence às crianças, que se quisermos ter a morada eterna, temos que ser como crianças.

E quem nesse mundo vive melhor do que as crianças? Criança vive cada dia como se fosse o último, curte, aproveita, brinca até se cansar a cada dia.

Criança não se preocupa com o dia de amanhã, criança é humilde, criança é.... criança!

Que Deus tenha misericórdia de nós, que não sabemos gastamos nossa vida com vaidades!

Boa leitura!



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Portanto, vá, coma com prazer a sua comida e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz – Eclesiastes 9.7.

José Fulano de Tal morreu ontem. Pobre homem! Consciente dos seus deveres, nunca atrasou no relógio de ponto. Jamais perdeu um trem. Era impensável que acelerasse no sinal amarelo. Correto, pagou todas as suas prestações na data exata. Vestiu a mesma camisa até puir o colarinho. Sempre elegeu o candidato que votou. Leu o jornal diariamente. Teve um enterro comedido, sem muita emoção, parecido como a sua existência.

José Fulano de Tal foi assíduo membro de uma igreja. Submeteu-se aos regulamentos e exigências de sua religião - seu maior desejo na vida era agradar a Deus. Trabalhou incansavelmente nos mutirões do bairro. Contribuiu com entidades filantrópicas. Em sua última jornada, os amigos, parentes e curiosos caminharam circunspetos pelas alamedas do cemitério. Despediam-se de um homem que não conseguiu viver.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta gostar, mas gostar mesmo, de poesia. No poema, a palavra ganha ritmo para sincronizar-se com o pulsar do universo. E nessa magnífica, porém silenciosa palpitação, ressoa a voz do Divino.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta achar tempo para ouvir música. Quando melodia e rima se acasalam, nasce a sublime sonoridade do Paraíso. O Pai Eterno sorri quando seus filhos se aquietam para escutar os artesãos dos salmos, dos noturnos, das toadas, dos réquiens, das cantatas, das óperas, das polcas, do samba, dos hinos, dos recitais, dos corais, do jazz, da bossa-nova.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta amar os livros. É prazeroso para Deus, ver os filhos transcendendo para mundos imaginários através da prosa, da narrativa. Os romances dissecam a alma humana, enaltecem a virtude, expõem a crueldade e quando não sofrem censura, descrevem a realidade crua da vida.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta transformar cada refeição em um ágape, cada aperto de mão em uma aliança e cada abraço em uma declaração de amor.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta deixar-se conduzir por um vento desatento, rumo ao horizonte inatingível; e esperar por um porvir insubstancial. Já que Deus gosta de prados selvagens e de matas sem cercas, viver é arriscar-se. Deus sabe desenhar o arco-íris com as gotas do ribeiro que despenca no precipício. Portanto, só vive quem não teme esvaecer.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta gostar de vinho, de doce de leite, de tapioca com manteiga, de filme de amor, de esporte, de meia hora de sono extra no feriado, de bolo de milho, de cafuné, de beijo, de viagem de férias com dois dias sobrando para descansar do descanso.

José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta chamar Deus de Pai ou de Mãe.


Ricardo Gondim.

Soli Deo Gloria.

domingo, 21 de setembro de 2008

Obediência

Bom é quando a palavra de Deus nos surpreende.
E surpreende não apenas pela grandeza em si, mas também porque a cada leitura e estudo descobrimos coisas novas, somos tocados de maneiras diferentes.

Em um domingo desses, em uma visita ao Pequeno Leão, lar para crianças desamparadas, a tia que ministrou a escola bíblica dominical trouxe a boa, velha e bem conhecida história de Jesus quando encontra Simão Pedro, que havia passado a noite toda tentando pescar, mas em vão, pois não conseguiu nenhum peixe.

Já tinha ouvido esta história diversas vezes, mas neste dia eu me toquei de uma coisa que não tinha percebido antes.

Na história, narrada no capíulo 5 do livro de Lucas, conta que Jesus, para sair do meio da multidão que o apertava, subiu em um barco, o barco de Simão Pedro, e pediu que se afastasse um pouco da borda, e dali pregava para a multidão.

Depois de ensinar as pessoas, Jesus pediu para Simão Pedro que fosse a alto mar e jogasse as redes ao mar, e Simão iniciou um diálogo que eu imagino mais ou menos assim:

- Mas Jesus, ficamos a noite toda fazendo isso e não pegamos nada.
- Simão, vai por mim, me obedeça.
- Olha Jesus, eu te disse, fiquei nessa a noite toda e o mar não está para peixes, mas beleza, vou te obedecer e vou jogar só porque o senhor está pedindo.

Simão Pedro em nenhum momento teve fé que aquilo traria resultados, está bem claro que fé foi algo que ele não teve. O que Simão Pedro teve naquele momento foi OBEDIÊNCIA.

Ao obedecer Jesus, e jogar as redes ao mar, Simão Pedro foi surpreendido com a quantidade enorme de peixes, que segundo a história, chegou a rasgar as redes e precisaram de ajuda para carregar tudo.

Quando eu ouvi essas palavras da tia que ensinava as crianças, eu me toquei que quando falta a fé, devemos dar lugar então a obediência.

Ao obedecer Jesus, certamente não nos decepcionaremos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Leia a bíblia e faça oração se quiser crescer...

Cresci com uma música que dizia: "leia a bíblia e faça oração se quiser crescer".
http://particulasdagraca.blogspot.com/
Acontece que quando me ensinaram a ler a Bíblia, também me disseram que eu deveria ler repetindo os conceitos antigos por mais antiquados que parecessem. Assim, se existisse algum texto que não combinasse com o conhecimento atual, deveria ficar com os conceitos antigos e ignorar as discrepâncias entre o saber e o texto.
Chegaram a me afirmar o saber "moderno mundano", como uma armadilha do inimigo para desviar da fé. Lembro-me que o medo de perder a fé era tão grande, que não havia o incentivo para os estudos. Ouso afirmar que os estudiosos acusados de incrédulos, necessariamente não se desviaram de Deus, mas afastaram-se do antiquário religioso, pois perceberam as incoerências de uma teologia hermética.

No máximo, ao estudante da Bíblia seria permitido afirmar que o que estava escrito, não se tratava daquilo que estava escrito, mas de uma aparente contradição.
Por mais louco que pareça, fórmulas extraordinárias explicavam que apesar do autor registrar alguma coisa, não deveria se ler o que ele escreveu, mas sim o que a tradição mandava ler.
Assim, todas as vezes que encontrava na Bíblia que Deus se arrependeu, jamais deveria afirmar que ele voltara.
Não sei explicar direito isto, mas sei que, se a Bíblia é a palavra de Deus e uma pessoa não religiosa a lê pela primeira vez, logo em suas primeiras páginas terá certeza de que Deus mudou.
Mas como o dogmatismo religioso não permite fazer esta afirmação, pois tudo o que discorda dele é marginalizado à heresia, me pergunto se quem fala a verdade é a interpretação ou a Bíblia?
Se temos a Bíblia como palavra de Deus inspirada, somente uma que tenha comentários, comunica a voz de Deus?
A verdade é a Bíblia como está escrita ou as notas de rodapé?

Não me permito desconsiderar a ciência da interpretação Bíblica. Sei do valor da tradição, da teologia histórica, mas quero aprender a ler a Bíblia.
Pelas minhas retóricas dá para perceber, que meu jeito de ler foi profundamente transformado.
Não consigo olhar para o texto e ver sempre as mesmas coisas que a religião manda ver e nem tampouco me iludir com as incoerências entre o que leio e o que creio. Entre saber e texto.
Em diversos lugares da Bíblia me incomodava ver que estava escrito algo, porém conflitando com os conceitos herdados, não deveria considerar o que o texto dizia, mas tentar encontrar alguma coisa que possibilitasse mexer no texto e justificar o desatino.

Por exemplo em Jeremias 14:22 tem uma pergunta com uma resposta do profeta:
- "Podem os céus, por si mesmos, produzir chuvas copiosas? Somente tu o podes, SENHOR, nosso Deus!".

O que um meteorologista diria deste texto?
Que a Bíblia se engana, que o profeta mentiu ou ignorava leis da natureza ou que os crentes são ignorantes em acreditar em um livro assim?

Para validar a fé dentro dos conceitos antigos, tal qual um bom número de crentes, ao ler este texto eu precisaria ignorar o conhecimento científico e negar eventos naturais. Necessitaria continuar afirmando como um primitivo homem das cavernas, que as chuvas são produzidas e manipuladas pelas divindades.

Nesta compreensão, para fazer Deus favorável, minhas orações me tornaria em um índio batendo seus tambores na dança da chuva, reduzindo Deus em uma divindade como Tupã. Se necessitasse de uma intervenção heróica, ao orar me tornaria um guerreiro primitivo nórdico, tornando Deus semelhante ao Thor.

Quantas horas gastas em orações para alterar a natureza!
Como se não bastasse, todo o prejuízo causado ao planeta pela manipulação do meio-ambiente para o bem individual, ainda estaria considerando a possibilidade de Deus ajudar. Como um fanático beato insistiria com Deus para fazer sol em minhas praias e festas, chover nas minhas hortas e lançar tempestades contra meus desafetos.
De qualquer maneira Thomas Alva Edson, Evangelista Torricelli, Daniel Gabriel Fahrenheit, Galileu Galilei, Santorio de Santorio e outros, nos levaram a constatar que não há divindades manipulando as chuvas, mas estas ocorrem naturalmente e dentro de uma determinada lógica, por isso previsíveis, manipuláveis e atingem indistintamente a todos.

Talvez, você que lê este texto esteja se retorcendo, trazendo em sua mente diversas experiências com chuvas ou quem sabe, textos bíblicos para comprovar que estou errado. Não o julgo, pois é exatamente este o grande problema. Repetir sem refletir.

Lembra-se de quando a AIDS chegou ao patamar de epidemia, diversos crentes com a Bíblia em mão, aberta em Romanos 1 diziam ser castigo divino?
Hoje, com o vírus codificado, suas múltiplas ações catalogadas, ninguém precisa ir a uma igreja evangélica e nem ter fé para interromper com o castigo divino, basta tomar um coquetel famacológico e todo o efeito drástico do castigo é revertido. Dentro de pouco tempo, com a vacina em mãos, o que dizer dos profetas de Romanos 1?
Quantas pestes acometeram a população na história e pregadores relegando ao castigo divino através de textos Bíblicos adaptados, e hoje este "castigo" radicalmente eliminado por uma vacina?
Estaria Deus ficando sem saída diante do conhecimento humano?
Ou o seu poder ameaçado pela tecnologia?

Não quero mais ler a Bíblia obrigando-a a falar, mas quero que ela comunique o que deseja transmitir. Não quero apenas ler um texto, desejo ardentemente ouvir uma voz. Porque a Bíblia, além de um livro para ser lido, é uma mensagem a ser ouvida.

Sugiro que compreendamos a Bíblia como a Palavra de Deus, escrita em linguagem humana. Uma peça literária extraordinária, que lida dentro de seu próprio contexto e compreendido o nível de conhecimento e cultura de seus escritores, nos dará a voz de Deus clara e audível para hoje. A Bíblia não contraria o saber, mas este aplicado à leitura possibilita ouvir a mensagem mais maravilhosa do universo!

O que dizer do profeta?
Um homem cheio de fé que entregou inteiramente sua vida a Deus e com o pouco que seu meio possibilitava saber sobre o mundo, transcendeu em muito o seu próprio mundo ao reconhecer que há um só Deus e Senhor, Criador de céus e terra.

Eliel Batista

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A dúvida de mãos dadas à fé

A dúvida de mãos dadas à fé
Ricardo Gondim

- Texto de um debate acadêmico na Bienal do Livro 2008

Introdução.

Como sei o que sei? Nesta pergunta básica reside todo o problema da epistemologia. Um nó apertado. Este trabalho não pretende lidar com os fundamentos filosóficos do conhecimento, mas com a crise que o protestante brasileiro, e particularmente com a crise do evangélico, que esperneia quando se defronta com a dúvida.

Sinto-me desafiado a aliviar este nó epistemológico, porque o assunto me toca de perto. Como pastor evangélico, como pesquisador das Ciências da Religião e como cristão praticante, preciso entender o porquê do receio diante da possibilidade da dúvida.

É próprio de o sujeito religioso assegurar a sua convicção inabalável, a sua certeza absoluta e o seu acesso perfeito à verdade divina. Ele se considera tão convicto de que atingiu a realidade única, objetiva, real e concreta, que sai para fazer prosélitos. Admitir a remota possibilidade de não estar alinhado à verdade absoluta, constitui-se em uma fraqueza inadmissível para os demais praticantes de sua tradição religiosa.

O problema se torna agudo entre os evangélicos e protestantes que optaram pelo que Rubem Alves denominou de “Protestantismo da Reta Doutrina”. E precisamente os da reta doutrina levedam a precária produção literária e teológica dos evangélicos nacionais. Segundo Rubem Alves, os “Protestantes da Reta Doutrina privilegiam a concordância com uma série de formulações doutrinárias, tidas como expressões da verdade, e que devem ser afirmadas sem nenhuma sombra de dúvida, como condição para participação na comunidade eclesial”[1].

Esse grupo se firmou nos Estados Unidos no apogeu da modernidade, quando se questionava a legitimidade “científica” dos relatos bíblicos. Alguns teólogos calvinistas se apressaram em demonstrar que o cristianismo não era apenas racional, mas a única revelação de Deus aos homens. O teólogo Charles Hodge catalogou cinco ou seis fundamentos da fé cristã, para ele inegociáveis. E de seus primeiros tratados, nasceu um movimento que passou a ser conhecido como “fundamentalismo”.

Hodge afirmava:

“A tarefa do teólogo consiste não em buscar significado além das palavras, mas em organizar os claros ensinamentos das Escrituras num sistema de verdades gerais”[2].

Hodges propunha que “Deus inspirou cada uma das palavras da Bíblia; portanto, é preciso levá-las a sério e não distorcê-las com exegeses alegóricas ou simbólicas”[3].

Portanto, o termo fundamentalismo, hoje carregado de significados negativos, a princípio não passava de um esforço sincero de tornar os textos sagrados em “verdades factuais”. Os teólogos fundamentalistas cometiam, entretanto, o mesmo erro dos cientistas da natureza, os racionalistas que se ocupavam com a razão – com análise de dados, com fatos, fenômenos, operações, processos, energias, estruturas, evoluções”[4].

Hans Küng afirmou que caso os teólogos e filósofos queiram dialogar com a ciência natural, será necessário modéstia e autocrítica. Pois “muitos cientistas já chegaram a reconhecer que não podem oferecer verdades definitivas”[5].

Küng não mede palavras quando aborda a atitude do teólogo quanto à verdade: “Pois também eles, que profissionalmente estão empenhados na verdade da fé, não possuem de antemão esta verdade, nem dela dispõem de forma definitiva”[6].

A crise evangélica nacional e esperneia dentro da lógica fundamentalista. Segundo Prócoro Velasques Filho, em Introdução ao Protestantismo no Brasil (Edições Loyola, p. 126) o corte do protestantismo, os evangélicos brasileiros têm raízes no fundamentalismo norte americano, que se caracterizou precisamente por dois eixos principais: o milenarismo e a teologia da inerrância ou inspiração plenária da Bíblia. Para os teólogos originais do fundamentalismo, a “revelação de Deus só seria perfeita se fosse ‘isenta de erros, contradições, paradoxos e inconsistências’”.

Com esta característica de privilegiar a adesão dogmática à uma “verdade absoluta”, antecipo dois caminhos para os “Protestantes da Reta Doutrina”:

a) Acomodam-se em repetir os antigos dogmas, sem coragem para se repensarem, sem ousadia para fazer perguntas que os deixarão sem respostas, sem determinação de levar às últimas conseqüências suas deduções.

A repetição produz conforto. Os crentes estão sempre em busca de conforto quando vão às igrejas aos domingos. A repetição conforta porque ela confirma a imutabilidade da verdade. E na medida em que a verdade afirmada no momento é a verdade que alguém já está acostumado a ouvir, cria-se a certeza de ser-se senhor da verdade[7].

Acontece que a repetição também conduz ao enfado. A optar pela repetição de verdades bem assentadas e previamente cridas, o evangélico cria um ambiente de mesmice. E para sair da mesmice, precisa inventar ambientes emocionalmente carregados, para isso apela para os cânticos que eletrizem em nome de louvores, as emoções que o discurso não gera.

Antônio Gouvêa Mendonça, pesquisou os primórdios da evangelização brasileira e concluiu:

“Sabemos que os sermões eram conservasionistas e polêmicos; o pregador procurava apelar para a distinção entre a “verdade” e o “erro”, entre a nova mensagem e a religião dominante. O tom do sermão era dogmático e racionalista ao mesmo tempo; dogmático ao fundamentar-se nos dogmas comuns do cristianismo que deviam ser recuperados diante de uma melhor e mais verdadeira fundamentação escriturística, e racionalista ao procurar tecer o sermão numa lógica irrecusável. O objetivo era convencer o ouvinte e uma verdade contra outra. Mas o dogmatismo-epistemológico-polêmico nem sempre era suficiente para mover o ouvinte a uma mudança de atitudes; daí a necessidade de aliar ao sermão, já na maior parte das vezes dramático, cânticos apropriados para auxiliar a elevação do “tônus” emocional da reunião, formando ambiente favorável às decisões individuais (conversões)[8]

b) Recrudescem na intolerância, fecham-se em guetos, endurecem o controle criam “historiadores oficiais”, “teólogos chancelados”, “voltam os tribunais inquisitoriais” para caçar os que se atrevem caminhar até as fronteiras (Boaventura), os que saem dos paradigmas (Kuhn), os que desafiam os marcos categoriais (Juan Luis Segundo).

Atrevo-me a sugerir que o movimento evangélico brasileiro reconheça sua incapacidade de abarcar “a verdade”, que abandone o pressuposto de que vai codificar a correta doutrina de Deus, admita que o conhecimento absoluto de Deus está para além da capacidade humana. Na verdade, ninguém tem o acurado conhecimento de Deus; caso fosse possível, como alguém já afirmou, “eu seria ele”.

O teólogo espanhol, Andrés Torres Queiruga propõe que a teologia abra um diálogo até com os ateus:

O ateísmo, em sua própria negatividade, pode ser uma grande oportunidade para a fé; pode até ser uma medida da Providência para que os cristãos, assumindo a crítica atéia, compreendam que Deus é sempre muito maior. – “Deus sempre maior” – do que as idéias que nós fazemos dele. A crítica dos ateus pode ajudar-nos a romper os esquemas em que tantas vezes encadeamos e deformamos a idéia de Deus[9].

Para sair do impasse de que a fé precisa de verdades absolutas e a possibilidade de dúvida. Proponho que a cosmovisão protestante evangélica re-signifique a fé. Sugiro, portanto que:

  1. A verdade seja tratada como “boa-fé”.

No excelente “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, André Comte-Sponville coloca a “boa-fé” como um dos grandes valores da humanidade. O filósofo francês, depois de lutar entre os termos veracidade, veridicidade e autenticidade, optou finalmente por “boa-fé”. Para ele, boa-fé é um fato, portanto, aomesmo tempo uma realidade psicológica e uma virtude, ou um traço moral. Como fato, boa-fé, é “a conformidade dos atos e das palavras com a vida interior, ou desta, consigo mesma”. Como virtude, é o amor ou respeito à verdade. Ter boa-fé é dizer o que acredita, mesmo que esteja enganado, como acreditar no que diz. É crença fiel, e fidelidade no que se crê.

A verdade deixaria, então de ser a concordância a um postulado ou a uma asseveração previamente estudada e concordada, para ser uma integridade. A boa-fé se opõe, portanto, ao dogmatismo. E quem opta pela verdade em nome do dogmatismo e não como uma “boa-fé”, vira intolerante.

“Tomam sua fé por um saber. Por ela, estão dispostos a morrer e a matar. Eles não duvidam. Eles não hesitam. Eles conhecem a Verdade e o Bem. Para que necessitam de ciências? Para que necessitam de democracia? Tudo está escrito no Livro. Basta crer e obedecer. Entre Darwin e o Gênesis, entre os direitos do homem e a Sharia, entre os direitos dos povos e a Tora, eles escolheram de que lado estão, de uma por todas. Eles estão do lado de Deus.. Como poderiam estar errados? Por que deveriam crer em outra coisa? Fundamentalismo. Obscurantismo. Terrorismo. Eles querem fazer-se anjos; fazem-se de bestas ou de tiranos. Tomam-se por Cavaleiros do Apocalipse. São os janízaros do absoluto, que eles pretendem possuir com exclusividade e que reduzem à dimensão, singularmente estreita, de sua boa consciência. São prisioneiros da sua própria fé, escravos de Deus ou do que consideram ser – sem provas – sua Palavra ou sua Lei[10].

  1. A verdade como história, como narrativa, como metáfora.

Jonathan Sacks diz que o judaísmo é repleto de histórias, segundo o dito judaico, “Deus criou o homem porque gosta de histórias”). A própria Bíblia é um dos exemplos fundamentais da verdade como história, ao contrário do modelo ocidental conhecido – a história como sistema[11]. O saber conceitual não é o mesmo do saber proverbial. O conhecimento absoluto não está na mesma categoria do conhecimento intuitivo. A percepção das entranhas não é a mesma da razão.

  1. A verdade como compromisso com a vida.

De acordo com Michel de Foucault a “verdade” como conceito absoluto precisa do anteparo do poder. A verdade que prevalece não é necessariamente “a” verdade, mas aquela que as instituições dominantes impõem:

... a verdade não existe fora do poder ou sem poder (não é – não obstante um mito, de que seria necessário esclarecer a história e as funções – a recompensa dos espíritos livres, o filho das longas solidões, o privilégio daqueles que souberam se libertar). A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro[12].

A ortodoxia se estabelece como o piso da ortopraxia. E a ortopraxia é o que anima a ortodoxia. Portanto, segundo David Bosch, na esteira do iluminismo, as igrejas antigamente “se arrogavam do direito de determinar qual era a verdade ‘objetiva’ da Bíblia e de dirigir a aplicação dessa verdade intemporal ao cotidiano dos crentes”[13]. Bosch afirma que Schleiermacher “foi o pioneiro em perceber que toda teologia era influenciada, se não determinada, pelo contexto em que evoluíra”[14].

Dessa forma, Bosch chega à conclusão que “ a reivindicação universal da hermenêutica da linguagem precisa ser contestada por uma hermenêutica da ação, porque fazer é mais importante que saber ou falar. Nas escrituras são bem-aventuradas as pessoas que agem. E eu concordo com ele que, “não existe, em verdade, conhecimento exceto na própria ação, no processo de transformar o mundo através da participação na história’”[15]

  1. A verdade como uma aproximação do sublime.

Deslumbramento, ou fascínio pelo numinoso, o mistério tremendo, como queria Rudolf Otto.

O rabino Abraham Joshua Heschel dizia que os gregos aprenderam para compreender. Os hebreus aprenderam para reverenciar. O homem moderno aprende para fazer uso de seu conhecimento[16]. E sugere um outro nível de conhecimento, que leve ao espanto, ao deslumbramento, ao maravilhamento. A verdade seria, portanto, um encontro com o sublime.

Heschel define sublime como aquilo que podemos ver e não conseguimos definir. É a alusão silenciosa das coisas a um significado maior do que elas mesmas. É o que todas as coisas definitivas simbolizam; “o silêncio inveterado do mundo que permanece imune à curiosidade e às indagações, como uma folhagem perdida no anoitecer”. O sublime é o que nossas palavras, fórmulas e categorias não podem jamais alcançar.

Para o rabino, o sublime não está, necessariamente, relacionado com o que é vasto e esmagador por suas dimensões. “O sublime pode ser percebido em cada grão de areia, em cada gota de água. Todas as flores no verão, todos os flocos de neve no inverno podem despertar em nós uma sensação de maravilhamento, que é nossa resposta ao sublime”[17]. Por isso, a verdade está onde a mente não necessariamente consegue elucidar.

Porque a verdade é sublime, porque o real está no imponderável, porque a realidade não se limita aos contornos da racionalidade, nasce a poesia e minha verdade foi expressa no meu poema “Sobre Deus”:

Não sei explicar as razões da minha fé. Não sei dizer os porquês da minha devoção. Sinto-me inadequado para convencer os indiferentes a desejaram a pitada do sal que tempera o meu viver. Tudo o que sei sobre o Divino é provisório. Minhas convicções vacilam. Todas as certezas são, decididamente, vagas.

Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Empenhei o futuro por seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou, os retalhos do meu mapa se encaixaram, caíram os tapumes da minha estrada, o ponteiro da minha bússola se imantou.

Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, virou um doce ponto de interrogação. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência.

Sei tão somente que Ele se desfraldou como bandeira sobre os meus ombros. E o cilício, as purgações, os sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios culposos, achei um ambulatório. Os livros contábeis onde se registravam meus erros foram rasgados. As punições, suspensas. Já não fujo dele como de um Átila. Eu agora o chamo de Clemente.

Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acende a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma como um jardim. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração; o alforje onde guardo os acertos e desacertos do meu destino.

Sei tão somente que Ele me fascina quando refrata luz. Dele vem o encarnado que tinge minha face com o rubor do sol. Seu amarelo me brinda com o açafrão do mundo do mistério; e o roxo me colore de púrpura real. Seu branco é lunar e me prateia. Seu preto me conduz até o nanquim celestial. Por sua causa, espelho o azul dos oceanos mais longínquos.

O que dizer de Deus? Tão pouco! Espero, tão somente, que o meu espanto expresse o tamanho da minha reverência.

Soli Deo Gloria.



[1] Alves, Rubem – Religião e Repressão – Edições Loyola, São Paulo, 2005. p.44.

[2] Armstrong, Karen – Em nome de Deus – Companhia das Letras, São Paulo, 2005, p.168.

[3] Idem, p.168.

[4] Küng, Hans – O princípio de todas as coisas – Editora Vozes, São Paulo, 2007, p.62.

[5] Idem, p.62.

[6] Idem, p.62.

[7] Alves, Rubem – Religião e Repressão, Editor Loyola, São Paulo, p. 138.

[8] Mendonça, Antônio Gouvêa – O Celeste Porvir, a Inserção do Protestantismo no Brasil – Edições Paulinas, 1984, p.208.

[9]Queiruga, Andrés Torres – Creio em Deus Pai – Editora Paulus, São Paulo, 2005, p.21.

[10] Comte-Sponville, André – O espírito do ateísmo – Martins Fontes, São Paulo, 2007, p.32.

[11] Sacks, Jonathan – “Para curar um mundo fraturado – a ética da responsabilidade, Editora Sefer, São Paulo, p. 23.

[12] Foucault, Michel – Microfísica do Poder, Edições Graal, São Paulo, 2007, p.12.

[13] Bosch, David – Missão Transformadora – Mudanças de Pradigma na Teologia da Missão, Editora Sinodal, Rio G. do Sul, 2002, p.504.

[14]Idem, p.505.

[15] Idem, p.508.

[16] Heschel, Abraham Joshua – Deus em busca do homem – Editora Arx, São Paulo, p.43.

[17] Idem, p. 49.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Como o ar que eu respiro

Algumas vezes eu me encontro em uma situação que me deprime. Me sinto como se estivesse “longe” de Deus. Não que eu esteja desviado, andando em caminhos tortos, ao contrário, mas mesmo assim me sinto a milhas de distância de Deus.

A correria do dia-a-dia, as preocupações terrenas, entre outros fatores acabam tomando todo o tempo e quando percebo, já estou nesta situação.

Compartilhando este meu sentimento com um grande amigo, ele citou um conto, que segue abaixo, e eu achei bárbaro. Deve ser bastante conhecido, mas eu não conhecia e veio bem a calhar.

Deus é como o ar, nós precisamos Dele para viver, sem Ele não sobrevivemos, mas só nos demos conta disso quando sentimos falta.

Como seria bom se buscássemos a Deus sempre, como quem busca o ar após passar alguns instantes embaixo d’água.

Mas também, como é bom saber, que mesmo nós não nos dando conta disso, Deus continua a nos envolver e cuidar de nós.

Fiquem na PAZ!
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Certa ocasião, um discípulo que procurava seguir o caminho espiritual, dirigiu-se ao seu orientador, dizendo-lhe:

Mestre! Embora o senhor nos tenha ensinado que Deus está sempre à nossa disposição, não consigo encontrá-lo, por mais que O procure.

O mestre então levou o discípulo até um lago e o convidou a entrarem no lago.

Ao chegarem a determinado ponto, o mestre segurou o discípulo pelos ombros e mergulhou sua cabeça, sem deixar que ele a levantasse.

O discípulo começou a debater-se, tentando inutilmente sair daquela situação.

Quando o mestre percebeu que ele estava perdendo as forças, soltou-o e ele procurou imediatamente respirar, buscando o ar com desespero.

Perguntou-lhe o mestre: que foi, meu filho?

Ar, mestre! Ar! Sem respirar, eu morreria.

Respondeu-lhe então o mestre:

No dia em que você procurar Deus com o mesmo empenho com que buscou o ar para viver, você O encontrará.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Em nome de Jesus

Em nome de Jesus

Por Paulo Brabo

O drama da narrativa bíblica reflete, em muitos sentidos, um árduo esforço divino para eliminar da mente humana o conceito de magia: a noção de que, através de fórmulas mágicas ou procedimentos estabelecidos, Deus ou o universo podem ser manipulados para atingirmos o objetivo que temos em mente.

Desde a primeira página, um dos traços mais distintivos do Deus das Escrituras é que ele não faz barganhas. Não há ritual ou palavra mágica que possa torcer o seu braço a fazer o que queremos. Se Deus concede o que homens lhe pedem é reflexo da sua magnanimidade e da intimidade de relacionamento que ele propõe, jamais da habilidade humana em manipulá-lo.

Essa obsessão divina em apagar da experiência humana a idéia da magia explica muito nas filigranas dos mandamentos e da Lei de Moisés. Israel não deve ter “outros deuses além de mim”, entre outras coisas, porque os deuses dos outros povos são entidades manipuláveis – aceitam suborno, dobram-se diante do ritual certo, vendem-se por um sacrifício, negociam, especulam e cedem a barganhas. Deus sabe que não é assim que o seu universo funciona, e não quer que seu povo adote essa visão distorcida do mundo. Pela mesma razão ele deita rigorosas proibições contra feitiçaria, amuletos e toda espécie de adivinhação.

Os cristãos reincidem constantemente na magia.

O próprio regime de sacrifícios não pressupõe qualquer controle mágico do mundo; as prescrições deixam muito claro que trata-se de provisão graciosa para a purificação dos pecados, e não de instrumento de manipulação. Deus faz alianças e assina contratos que beneficiam outros além de si mesmo, mas não distribui senhas ou abracadabras. No mundo dele você pode pedir, mas não pode obter o que quer por mágica, isto é, pela força e pela argúcia.

O que o Primeiro Testamento elucida o Novo escancara: Jesus passeia pelo mundo demolindo a noção essencialmente mágica de favor prestado e retribuição. Deus – explica o Filho do Homem – não distingue méritos e não rebaixa-se a troca de favores, mas “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons”. Seus filhos não devem recorrer a repetitivas fórmulas mágicas em suas orações, “porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes”. Não é o pecado nem o bom comportamento que explicam as desgraças ou as felicidades, porque o mundo não funciona pela lógica simplista e retributiva da magia (”Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas?”).

O universo – Jesus explica – funciona pela lógica singular da graça, não pela lógica humana da magia e da retribuição. Esta é, essencialmente, a natureza da boa nova do reino: Deus não pode ser manipulado a fazer o bem que já está disposto a fazer em primeiro lugar.

Porém a magia tem um brilho sedutor, e os cristãos resvalam periodicamente nela: recorremos cheios de esperança a óleos milagrosos, profetas curandeiros, caixinhas oraculares de versículos, bibliomancia, quarentenas de oração e copos d’água. Mesmo a obsessão cristã com o domingo é essencialmente mágica, quando o Apóstolo alerta a não cairmos na velha armadilha de “dias de festa, ou lua nova, ou sábados”, coisas que “têm aparência de sabedoria e de rigor ascético (…), mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”.

O emblema final e mais eloqüente da capitulação cristã a uma visão mágica do mundo talvez esteja no abuso, popular à náusea entre evangélicos e pentecostais, da expressão “em [o] nome de Jesus”. Orar e pedir “em nome de Jesus”, conforme prescrito no Novo Testamento, era provavelmente para ser entendido como se lê; seria orar “como Jesus oraria”, ou pedir “imbuído do espírito de Jesus”. Com o tempo, o enfoque migrou do espírito para a letra; transferiu-se da pessoa e da postura de Jesus para as palavras, imbuídas supostamente de autoridade e poderes sobrenaturais (de forma semelhante ao Shem Hamphoras da tradição judaica medieval). O conteúdo reduziu-se a fórmula, abracadabra que abre – esperamos – todas as portas.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

No country for old men

No country for old men.
Ricardo Gondim

Dei o título para este texto em inglês de propósito. Quero comentar o filme “Onde os fracos não têm vez”, ganhador do Oscar de 2008 – produzido pelos irmãos Coen. Como não considerei a tradução apropriada, preferi o título original que descreve melhor a trama dessa produção americana.

Confesso que não gostei quando assisti ao filme. Saí do cinema com a sensação de que vira mais uma apologia de violência, parecida a tantas outras produções hollywoodianas, exageradas nas cenas explícitas de morte e de vingança. Porém, com o passar do tempo, quanto mais medito no filme, mais percebo sua mensagem metafórica.

O enredo é simples. Um acerto de contas entre traficantes num canto escondido do Texas promove uma chacina em que todos morrem. Pela mala de dólares que sobrou, começa uma nova caça de gatos e ratos, envolvendo polícia, traficantes, mexicanos e pessoas comuns. Um xerife prestes a se aposentar, portanto, um “old man”, se vê obrigado a trabalhar no caso, mas seu cansaço é notório. Sem pique diante da maldade, o xerife se revela uma figura tão amargurada que em determinado momento desabafa: “Eu sempre achei que quando ficasse velho, Deus entraria em minha vida de alguma forma. Mas ele não o fez. Eu não o culpo. Se eu fosse ele teria a mesma opinião sobre mim que ele tem”. O xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) simplesmente não tem mais forças para enfrentar a maldade que se mostra encarnada, renitente, perene.

Lembrei-me de que o xerife do filme representa todos os que lutam pelo bem e se sentem impotentes diante do avanço da maldade. A luta da polícia, dos investigadores, dos promotores é sem fim. Todo instante alguém tenta fazer o mal. Parece inesgotável a capacidade humana de inventar, imaginar, perversidades. Pedófilos se multiplicam e usam a internet para seduzir crianças. Traficantes se organizam em cartéis. Servidores públicos desviam verbas destinadas à compra de ambulâncias e merenda escolar. Recentemente, o mundo se horrorizou com um pai que por décadas escravizou e abusou sexualmente a própria filha.

As organizações que advogam o direito das crianças, os ecologistas que defendem o meio-ambiente, os juizes, os filantropos, os políticos do bem e o clero, semelhantes ao xerife, por mais que batalhem, acabam com a sensação de nunca terem sucesso algum.

Quase diariamente lido com pastores evangélicos esgotados. A luta deles também parece inglória e seus esforços pífios. Diante da avalancha de maldade que se avoluma, com recursos financeiros minguados e com dificuldade para mobilizar as pessoas para o trabalho voluntário, eles se unem aos outros que se sentem deprimidos.

Não me atrevo, de forma simplista, resolver esses dilemas. Minha intuição, entretanto, me diz que há caminhos alternativos que podem suavizar a desesperança que se espalhou.
É possível abandonar a lógica dos grandes projetos, das megalomanias, dos messianismos. As antigas propostas globais de mudança precisam ser redimensionadas (downsized) para pequenas iniciativas. Antes de querer mudar o planeta, devemos cuidar dos quintais. Para enfrentar o aquecimento global, mudar hábitos cotidianos, como poupar água com banhos rápidos, não abusar do automóvel e, sempre que possível, usar transporte público e até bicicleta. Na política, participar dos conselhos de bairro, envolver-se no chamado Terceiro Setor e nas pequenas ações de desenvolvimento comunitário.

Há uma historinha interessante, bastante conhecida. Um homem caminhava e ao mesmo tempo devolvia para o mar peixes que a maré baixa deixou agonizando na praia. Alguém o repreendeu ao afirmar que seu esforço era inútil e tolo; não faria a menor diferença salvar tão poucos peixes. Ao que respondeu: “Realmente, mas para os que se salvaram, fiz toda diferença do mundo”. Oskar Schindler não acabou com o holocausto, mas fez toda diferença para aqueles que resgatou dos fornos crematórios; Martin Luther King não viu o fim do racismo, mas deu dignidade para os que se inspiraram em sua vida e morte; Madre Teresa de Calcutá não resolveu a miséria da Índia, mas todos que morreram em sua clínica se sentiram amados.

O antídoto para o desânimo pós-moderno é concentrar os esforços nas pessoas e não nos empreendimentos. Os projetos devem servir homens e mulheres, nunca o contrário. As pessoas não podem ser consumidas no fortalecimento das instituições. No caso das igrejas, nenhuma programação, nenhum evento, pode tornar-se um fim em si mesmo. Eles estão a serviço dos indivíduos e só adquirem qualquer sentido quando promovem a vida.

Jesus de Nazaré amou pessoas, viveu numa pequena vila e não diluiu seus esforços com mega eventos. Ele se deu integralmente a doze homens, acolheu os excluídos e nunca se impressionou com o aceno do estrelato. Sua morte transformou-se no mais contundente triunfo. Assim, antes de terminar os dias desiludido, cínico, sem alma; antes de sentir-se derrotado pelo constante avanço da maldade e onipresente perversidade humana, todos precisam aprender a contentar-se com atos singelos, com iniciativas despretensiosas, com feitos simples.

Soli Deo Gloria.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

A falácia do sucesso

Por Paulo Brabo


Estocado em Goiabas Roubadas, Sociedade

Tem surgido no nosso tempo uma classe particular de livros e de artigos que penso de forma sincera e solene podem ser chamados dos mais imbecis conhecidos entre os homens. Trata-se de coisa muito mais extravagante do que os mais extravagantes romances de cavalaria e muito mais maçante do que os mais maçantes tratados religiosos. Além disso os romances de cavalaria eram, pelo menos, sobre cavalaria, e os tratados religiosos sobre religião. Essas coisas, no entanto, são sobre coisa alguma; são sobre o que se chama sucesso.

Em cada estante e em cada revista você encontra obras ensinando às pessoas como serem bem sucedidas. São livros que mostram às pessoas como obter sucesso em tudo, e são escritos por gente incapaz de sucesso até mesmo na sua iniciativa de escrever livros.

Para começar não existe, naturalmente, essa coisa chamada sucesso. Ou, se você quiser colocar a coisa dessa forma, não há nada que não seja bem-sucedido. Que uma coisa seja bem-sucedida quer dizer apenas que ela é; um milionário é bem sucedido em ser um milionário e um jumento é bem sucedido em ser um jumento. Todo homem vivo tem tido sucesso em manter-se vivo, e qualquer homem morto pode ter tido sucesso em cometer suicídio. Porém, se ignorarmos a má lógica e a má filosofia do conceito, podemos tomá-lo, como fazem esses autores, no sentido usual de sucesso em ganhar dinheiro ou posição social.

Esses autores alegam ensinar ao leitor comum como obter sucesso em seu ofício ou ramo de atividade – como, se ele é construtor, ter sucesso como construtor; como, se é corretor da bolsa, ter sucesso como corretor da bolsa. Afirmam mostrar a ele como, se é dono de mercearia, pode tornar-se um iatista profissional; como, se é um jornalista de décima categoria, pode tornar-se um aristocrata; como, se é um judeu alemão, pode tornar-se anglo-saxão.

Isso eles propõem de forma definida e metódica, e penso que as pessoas que compram esses livros (se é que alguém os compra) tenham o direito moral, se não legal, de exigirem o seu dinheiro de volta. Ninguém ousaria publicar um livro sobre eletricidade que não contivesse literalmente coisa alguma sobre eletricidade; ninguém ousaria publicar um artigo sobre botânica que mostrasse que o autor desconhece qual extremidade da planta cresce dentro da terra. No entanto nosso mundo está repleto de livros sobre sucesso e sobre gente bem sucedida que não contém nenhum tipo de idéia e praticamente nenhum tipo de coerência verbal.

Deveria parecer perfeitamente óbvio que em qualquer ocupação decente (como por exemplo, a construção de muros ou a autoria de livros) há apenas dois modos de ser bem sucedido. O primeiro é fazendo-se um bom trabalho, o segundo é trapaceando. Ambos são simples demais para requererem qualquer explicação literária. Se o seu negócio for salto em altura, ou você salta mais alto do que qualquer outra pessoa ou consegue de alguma forma fingir que conseguiu. Se você quer ter sucesso como jogador de bridge, ou você aprende a ser um bom jogador de bridge ou joga com cartas marcadas. Você pode recorrer a um livro sobre salto em altura, a um livro sobre bridge ou um livro sobre como trapacear no bridge. Mas você não vai querer recorrer a um livro sobre sucesso – especialmente um livro sobre sucesso como os que você encontra espalhados às centenas no mercado editorial. Você pode querer saltar ou jogar cartas, mas não vai querer ficar lendo declarações obtusas do tipo "saltar é saltar", ou "jogos são vencidos por vencedores".

Se esses autores fossem, por exemplo, dizer alguma coisa sobre o sucesso no salto em altura, soaria mais ou menos assim: "O competidor de salto deve ter um objetivo claro diante de si. Deve desejar de forma muito definida saltar mais alto do que todos os outros atletas na mesma competição. Não deve deixar que frívolos sentimentos de compaixão o impeçam de dar o melhor de si. Deve ter em mente que uma competição de salto é essencialmente competitiva e que, como demonstrado gloriosamente por Darwin, OS MAIS FRACOS IRÃO PARA O MURO DE FUZILAMENTO". É esse o tipo de coisa que o livro diria, e muito útil seria, sem dúvida, se lida por uma voz grave e tensa a um jovem logo antes de empreender o seu salto.

Supondo que no curso de suas divagações intelectuais o filósofo do sucesso acabasse examinando nosso outro caso, o do jogador de cartas, sua estimulante recomendação seria: "No ato de jogar cartas é inteiramente necessário evitar o erro comum de permitir que seu adversário vença o jogo. Você deve ter garra e coragem, e entrar para ganhar. Os dias de idealismo e de superstição terminaram. Vivemos numa época de ciência e de senso comum, e já foi definitivamente provado que em qualquer jogo onde dois competem, SE UM NÃO VENCER, É O OUTRO QUE VENCE". Tudo muito empolgante, naturalmente, mas confesso que se fosse jogar cartas daria preferência a um livrinho decente que me ensinasse as regras do jogo. Para além das regras do jogo é tudo uma questão de talento ou desonestidade.

Folheando uma revista muito popular encontro um exemplo ao mesmo tempo estranho e cômico. Trata-se de um artigo intitulado "O instinto que faz as pessoas enriquecerem", decorado com um retrato formidável de Lord Rothschild. É fato que existem muitos métodos definidos, tanto honestos quanto desonestos, de enriquecer, mas que eu saiba o único "instinto" capaz dessa façanha é o instinto que a teologia cristã descreve grosseiramente como "o pecado da ganância". Isso, no entanto, não vem ao ponto. Quero citar os impagáveis parágrafos que seguem como exemplo típico do conteúdo dos livros que falam sobre como se alcançar o sucesso. São sempre muito práticos, e deixam pouca dúvida sobre qual deverá ser o passo seguinte:

O nome Vanderbilt é sinônimo de riqueza no mundo empresarial contemporâneo. Cornelius Vanderbilt, fundador da família, foi o primeiro dos grandes magnatas do comércio norte-americano, tendo começado como o filho de um fazendeiro pobre e terminado como multimilionário.

Cornelius possuía o instinto de fazer dinheiro. Ele agarrava suas oportunidades, oportunidades que no seu caso surgiram com aplicação da máquina a vapor no comércio oceânico e com o desenvolvimento do transporte ferroviário num rico mais ainda subdesenvolvido Estados Unidos da América. Conseqüentemente, acumulou uma enorme fortuna.

É evidente que hoje em dia não podemos todos seguir precisamente os mesmos passos tomados por este monarca das ferrovias. As oportunidades muito precisas concedidas a ele não aplicam-se a nós. Porém, embora não seja dessa mesma forma, podemos ainda assim, em nossa própria esfera de circunstâncias, seguir seus métodos gerais. Podemos agarrar as oportunidades que nos são concedidas, dando a nós mesmos uma chance muito real de obtermos riqueza.

É em declarações bizarras como essas que podemos ver com clareza o que está realmente por trás de todos os artigos e livros dessa natureza. Não se trata de mero negócio; não se trata nem mesmo de mero cinismo. Trata-se de misticismo, o horrendo misticismo do dinheiro. O autor dessa passagem não tem na verdade a mínima idéia de como Vanderbilt fazia o seu dinheiro, ou de como qualquer outra pessoa pode fazer o seu. Ele, porém, conclui suas observações defendendo um programa; e é um programa que não tem absolutamente nada a ver com Vanderbilt.

Tudo que o autor tencionava fazer era prostar-se diante do mistério de um multimilionário. Pois, quando queremos prestar verdadeira adoração a alguma coisa, amamos não apenas sua clareza, mas também sua obscuridade. Exultamos na sua invisibilidade. Assim, por exemplo, um homem apaixonado por uma mulher encontra prazer particular no fato de que as mulheres sejam incompreensíveis. Da mesma forma o poeta piedoso, ao celebrar o Criador, encontra prazer em afirmar que Deus age de modos misteriosos.

Ora, o autor dos parágrafos que citei não parece ter coisa alguma a ver com um deus, e não vejo qualquer evidência (diante da impraticabilidade de suas recomendações) de que já tenha se apaixonado de verdade por uma mulher. Mas a coisa que ele sem dúvida alguma venera – Vanderbilt – ele trata precisamente dessa maneira mística, deleitando-se no fato de que sua divindade Vanderbilt guarde dele algum segredo. E sua alma enche-se de uma espécie de arrebatamento de astúcia, um êxtase de clericalismo, quando ele finge estar revelando à multidão o terrível segredo que ele mesmo desconhece.

Falando do instinto que enriquece as pessoas, o mesmo autor observa:

Na Antiguidade a existência desse instinto era compreendida por completo. Os gregos reverenciavam a história de Midas, o homem que transformava em ouro tudo que tocava. Sua vida era um constante avanço em meio às riquezas: de tudo que aparecia no seu caminho ele criava o metal precioso. "Uma lenda tola", diziam os sabichões da era vitoriana; "uma verdade", dizemos hoje em dia.

Todos conhecemos homens como esse. Estamos constantemente encontrando ou lendo sobre gente que transforma em ouro tudo que toca. Cada passo dessas pessoas é marcado por sucesso. Suas vidas são uma trajetória infalível de ascensão. São incapazes de fracassar.

Infelizmente, no entanto, Midas era capaz de fracassar – e fracassou. Sua vida não foi uma trajetória infalível de ascensão. Midas morreu de fome porque quando tocava um biscoito ou um sanduíche de presunto eles se transformavam em ouro. Essa é na verdade a moral da história, embora o autor se veja obrigado a suprimi-lo, delicadamente, por completo – talvez por estar escrevendo tão perto do retrato de Lord Rotschild.

As velhas fábulas da humanidade são, de fato, insondavelmente sábias, mas não devemos ter parte do seu conteúdo expurgado a fim de proteger os interesses do Sr. Vanderbilt. Não devemos engolir o rei Midas sendo representado como exemplo de sucesso, quando foi um fracasso de natureza particularmente dolorosa. E tinha, além disso, orelhas de burro. E conseguia, além disso (e como muitas outras pessoas famosas e abastadas) esconder dos outros essa condição. Se bem recordo era apenas o seu barbeiro que tinha acesso ao conhecimento dessa peculiaridade; e esse barbeiro, ao invés de agir como o tipo de pessoa que persegue o Sucesso-a-todo-custo e chatangear o rei em troca do seu silêncio, foi e sussurrou esse escabroso escândalo da sociedade nas orelhas dos juncos, que deleitaram-se enormemente em sabê-lo. Conta-se que os juncos repassaram-no então aos ventos que os embalavam para frente e para trás.

Olho com reverência para o retrato de Lord Rothschild; leio com reverência sobre as façanhas do Sr. Vanderbilt. Sei que sou incapaz de transformar em ouro tudo em que toco; porém sei também que nunca tentei, tendo uma preferência pessoal por outras substâncias, coisas como grama e um bom vinho. Sei que essas pessoas sem dúvida obtiveram sucesso em alguma coisa; sei que sem dúvida sobrepularam alguém; sei que são reis num sentido em que nenhum rei jamais foi antes deles; sei que criam mercados e cavalgam continentes. Porém parece-me sempre que há algum pequeno fato doméstico que vivem escondendo, e penso por vezes ouvir no vento a gargalhada e o sussurro dos juncos.

Tudo que podemos esperar é viver o bastante para vermos esses absurdos livros sobre sucesso cobertos com o escárnio e o abandono que lhes cabe. Não ensinam as pessoas a serem bem-sucedidas, mas ensinam-nas a serem esnobes; conseguem alastrar uma espécie de poesia maligna de materialismo.

Os puritanos denunciam continuamente livros que inflamam a lascívia. O que deveríamos dizer dos livros que inflamam as paixões (mais vis) da ganância e do orgulho?

Há cem anos tínhamos o ideal do Aprendiz Esforçado. Dizia-se aos meninos que com frugalidade e empreendedorismo podiam chegar todos a Senhores da Nobreza. Era mentira, mas era uma mentira viril, e possuía um mínimo de verdade moral. Em nossa sociedade a temperança não irá ajudar um pobre a enriquecer, mas poderá ajudá-lo a olhar para si mesmo com respeito. Um bom trabalho não fará dele um homem rico, mas um bom trabalho fará dele um bom trabalhador. O Aprendiz Esforçado surgiu de virtudes que eram escassas e estreitas, mas ainda assim virtudes. Mas o que dizer do evangelho pregado ao novo Aprendiz Esforçado – o aprendiz que não ascende por meio de suas virtudes, mas declaradamente através de seus vícios?

G. K. Chesterton
All Things Considered (1909)