Existem fenômenos estranhamente rotineiros, cíclicos que podem até acontecer em outros lugares também, mas no Brasil já se tornou um padrão.
Fantasmas vivos, pessoas invisíveis à nação, tem a estranha mania de ganhar nomes e virar referência de tempos em tempos. Mais precisamente de quatro em quatro anos.
Pessoas que buscam, com recursos escassos, seus sonhos. São esportistas sem qualquer bom incentivo, a maioria sem qualquer incentivo, que precisam primeiramente tomar a decisão mais difícil de todas, se dedicar ao esporte que ama e tem talento ou ir em busca de sustento para si e a família.
Pessoas que se tiverem nome é José Ninguém, da Silva provavelmente.
Acontece que algumas vezes esses fantasmas, Josés Ninguém conseguem chegar lá, chegam às Olimpíadas, realizam um sonho pelo qual tanto lutaram, sozinhos.
E magicamente ganham nome, não só ganham nome próprio, de estrela, mas viram uma referência. São os representantes da nação! Verdade que só o são aqueles que chegam às finais, que lutam por medalha.
Sim porque chegar aos jogos olímpicos não basta para darem algum orgulho à nação, é preciso medalhas.
"Fulaninho de Tal é Brasil nas Olimpíadas" diz o entusiasmado narrador. Aquele mesmo que pouco antes teve de ser "briefado" sobre quem era aquele estranho vestindo verde e amarelo, qual sua história, de onde vinha.
Nesses tempos de boa memória, em que a nação 'lembra' os nomes desses fulaninhos, toda a mídia fica sensibilizada com tantas histórias dramáticas. O Carinha de ouro, cujo pai fabricava as argolas de madeira para que o filho treinasse. O Fulaninho de prata que treinava em condições precárias com o pai boxeador. E os Datenas espalhados por todos os canais, choram as histórias tristes na TV e convencem os espectadores.
E os amarelões? Sim, alguns desses fantasmas, Josés Ninguém, tem a péssima mania de não darem orgulho à Nação que tanto apoia, de tempo em tempo. Tropeçam, caem, falham. "Ah, esse sujeito que eu mal sabia o nome, cujo qual eu desconheço o que faz no dia a dia, cujo qual eu ignoro as condições de treinamento, chega às olimpíadas e dá esse vexame, uhhhh, amarelão!".
E como todo o fenômeno cíclico, chega e logo vai embora, não dá um mês e logo todos os candidatos a heróis, representantes de toda uma Nação que não o apoia, voltarão para à sombra do país de um esporte só.
É preciso ser muito herói para sobreviver como fantasma Zé Ninguém no intervalo de silêncio, entre um grande evento e outro.
evandro l! melo
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