Imagino a vida como um grande tudo.
Uma imensa quantidade de tudo sem forma definida, sem voz e sem calor, tendendo ser nada.
Um grande espírito ou uma alma. Alma, melhor alma. Talvez a junção de todas elas, que em si e por si só, não basta.
É preciso bastar para ser.
Por ser infinita, não habita em um mundo forjado em tempo e espaço, por nele não caber.
É preciso caber para ser.
Como uma enorme porção de água, procura frascos, ainda que pequenos e frágeis, para neles se conter e deixar de ser uma massa única de tudo e se fracionar em pequenas partes administráveis.
É preciso se conter para ser.
Os frascos ao que parecem são escolhidos a esmo. De diversas formas e decorações, uns bojudos e baixos, outros finos e compridos, tem ainda os finos e baixos, compridos e largos, marrom, amarelo, branco, vermelho...
Ao passo que neles passa a conter uma fração de si, a vida o transforma, o torna raro. Cada frasco passa a ser único, ainda que parecidos e condicionados de formas semelhantes.
São frascos frágeis que carregam uma fração dessa imensa vida.
Tamanho presente da vida se dar assim, faz com que ao mesmo tempo frascos festejem graça e outros temam responsabilidade. De fato é uma carga valiosa demais para simples frascos de vidro carregarem. Vez ou outra derrubam e desperdiçam vida pelo caminho. Outros de tanto esmero - ou preguiça - deixam o fluido de vida parado dentro de si e ela perde o gosto.
Inevitavelmente quebram-se. Cedo ou tarde - na maioria das vezes tarde - derramam ao chão sua porção de vida e se tornam frascos inúteis, são descartados.
Mas há vida suficiente, que logo escolhe novo frasco para se dividir e voltar a ser.
É preciso dividir para ser.
evandro l! melo
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