A gente se acostuma. Com tudo. Qualquer que seja o incomodo, se não for logo cortado fora, a gente se acostuma.
Tal qual o velho exemplo do sapo que ao ser jogado em uma panela de água quente, pula fora sem demora. Mas se for colocado em água fria e ir aquecendo, morre cozido. Porque vai se acostumando.
Comprei um carro novo tempo atrás, tudo legal, mas um barulhinho vindo do banco de trás me incomodava. Era quase um grilo fanho cantando um fado.
Nos primeiros dias a irritação foi tanta, que coloquei a esposa no volante e saltei ao banco para acabar com o maldito grilo. E nada. Mais outra tentativa, mais uma e deu preguiça.
Foi indo, foi indo até que me acostumei. Continua lá o tal grilo, mas hoje meus ouvidos já não dão atenção a ele.
A maioria de nós ocupa a maior parte do tempo em um trabalho que não gosta, mas acostuma, a vida é dura.
A política pública, quase nula, incomoda, mas já acostumamos. Acostumamos com calçadas impossíveis de se caminhar, com buracos que exigem maestria no volante, com caos em forma de filas, descaso com os menos favorecidos, descaso com os aposentados, e por aí vai.
A gente se acostuma quando o contrário é que nos foi ensinado. "Não se acostumem com esse mundo", dizem suas palavras. Mas a gente se acostuma.
Que a inquietação existe, existe. Mas é que a gente de acostuma.
Evandro L! Melo
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