sábado, 20 de abril de 2013

limpeza à dedo


As avós são seres superiores, celestiais. As minhas são.
Uma espécie de ser superior que chegou a este status depois de vencer longos invernos, verões sem sombra, primaveras sem flores e outonos de ventos gelados. Superaram as pedras e buracos da vida, erraram o suficiente com os filhos para agora apenas acertarem com os netos.
Assim são as avós. As minhas são, que fique claro. Não sei como são as suas, mas se não são assim, a culpa é certamente sua.

Hoje me recordo de olhar pra cima, mãos dadas enquanto esperava pelo ônibus, que eu admirava aquela pessoa cheia de rugas e um belo coque na cabeça. No auge dos meus 7 anos eu apenas olhava.

Passo pelo mesmo bairro, (Jordanópolis, um bairro residencial em São Bernardo) e já não sinto a mesma atmosfera que antes. É a idade, eu sei, a observação da criança é mais pura, mais inocente, tudo é poesia e tudo tem graça.

Ali da casa da vó Lola, o tempo a passar vagarosamente, saíamos a passos lentos de mãos dadas caminhando em direção ao ponto, a cerca de 500m dali.
Aqueles 10 minutinhos eram diferente de qualquer outros 10 minutos.

Chegávamos ao ponto, em frente a um grande muro de uma casa de esquina, ali na Oswald de Andrade com a Av São Paulo. O ponto era identificado por pedaço de madeira enfincado no chão. Isso bastava.

Como um ritual, parávamos em frente ao grande muro, ela me olhava com as vistas cansadas nos óculos de armação grande e sempre percebia alguma sujeirinha em meu rosto. Pasta de dente se fosse de manhã, comida se fosse depois do almoço… E lá ia ela, levava o dedo indicador à boca, lambia e ia certeira tirar aquela malévola sujeira em meu rosto.
Eu reclamava, por reclamar, porque no fundo adorava e esperava aquilo.

Por fim, chegava o esperado ônibus (era o 37? acho que sim). Ah por que era tão bom pegar ônibus
Entrávamos pela porta da frente, como todo mundo, mas ao contrário dos outros, não passávamos pela catraca. Eu achava isso o máximo. Sentávamos nos poucos bancos antes do cobrador e lá fazíamos nossa viagem. Vó Lola olhando pra frente e eu observando pela janela.

O destino? Íamos ao centro de São Bernardo pagar algumas contas na Marechal, passando pela Jurubatuba e pela Faria Lima. Sempre sobrava tempo para uma Coca-Cola (de garrafinha de vidro) em uma padaria qualquer.
Da volta eu não tenho recordações. Mas a ida, essa sim tenho e era mágica.

evandro l! melo