quinta-feira, 31 de outubro de 2013

quão velho é você

a forma como se fala sobre a idade no inglês, demonstra mais nua e cruamente a força e a indiferença do tempo.
- how old are you?
- i am 32 years old.

que na tradução literária:
- quão velho é você?
- eu estou 32 anos velho.

nascemos e desde este dia ficamos velho a cada inda e vinda dos pulmões. quando bebês não pensamos muita coisa, apenas sobreviver, quentinho, seco e alimentado. qualquer alteração e disparamos o alarme.
mais crescidinhos, crianças, vivemos intensamente a cada dia. talvez por notar que o tempo é feroz no cumprimento do seu dever de passar, vivemos intensamente. dormir é perder tempo de vida. só dormimos porque o esgotamento vence a vontade.

a adolescência, aquela fatídica idade (a qual fui obrigado a passar), em que só pensamos em não pensar. crianças crescidas, jovens ranzinzas. tão rebeldes que queremos ficar mais velhos só para contrariar a nós mesmos de que ficar velho é um saco.

na fase adulta, não tem jeito. tudo se torna pateticamente claro. acordo, me encaro no espelho com dó
do que vejo. finjo não reparar nas marcas de expressão, na calvície e naquele maldito fio de cabelo
branco. eutearranqueiontemseufilhodeuma...

e ela chega. a velhice. aquela fase em que ninguém nunca se prepara para recebê-la e quando chega dá
um sustinho, uma melancolia, uma vontade de rever a vida e de ter aproveitado mais os espaços em branco do passado. na velhice, onde informados de que a vida passa ligeiro e impotentes para qualquer outra coisa, levantam num último brado de fulgor e tentam alertar aos mais jovens. vivam, seus imbecis, aproveitem melhor a vida. em vão, claro, bem sabem que deixaram passar diversos alertas dos profetas do pretérito, quando mais novos.

só não diga que não avisei.



evandro l! melo



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A igreja e o bar



Numa pequena cidade do interior dos Estados Unidos um sujeito resolveu abrir um bar bem em frente a uma igreja.

O padre e todos seus fiéis ficaram revoltados com a audácia e resolveram iniciar uma campanha para que o bar não fosse aberto.

Fizeram petições, espalharam folhetos, rezavam diariamente contra o estabelecimento.

Os dias passaram e o bar estava praticamente pronto para ser inaugurado.

De repente, uma forte tempestade chegou à cidade e um raio caiu bem em cima do bar, destruindo completamente o lugar.

O dono não teve dúvida: entrou na justiça pedindo 2 milhões de dólares de indenização, acusando a igreja de ter causado a destruição de seu negócio, mesmo que por “vias indiretas”.

No dia do julgamento, o padre e o pároco alegaram que aquilo era um absurdo, que não tinham absolutamente nenhuma responsabilidade pelo ocorrido ou qualquer conexão com o incidente. Como sustenção da defesa, anexaram inclusive o “Benson Study“, um trabalho realizado pelos pesquisadores de Harvard que mostra que orações de terceiros não têm influência sobre recuperação de pacientes após cirurgias.

Quando o caso finalmente chegou ao tribunal, o juiz examinou por alguns minutos os papéis da ação e comentou:

“Ainda não sei como vou decidir esse caso, mas pelo que vi nos papéis, temos aqui um dono de bar que acredita no poder das orações e uma igreja inteira que não”.

E deu uma olhadinha por cima dos óculos para ambas as partes.

O tom do julgamento estava dado.

E a hipocrisia, logo de cara, condenada.

***

Pequei emprestado do UoD

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Rede Sustentabilidade: Posição sobre a decisão da Rede Sustentabilidade de se coligar!

Os que me conhecem ou me acompanham já sabem o quanto eu admiro* a Marina Silva, por sua postura política, suas decisões corajosas (se demitiu do ministério, saiu do PT, buscou fundar um novo partido com novas idéias,etc) e também por seu posicionamento quanto à assuntos complexos.

Quando soube do projeto da Rede Sustentabilidade, confesso que meu coração foi tomado por uma alegre esperança de que algo novo estava surgindo. Afinal tínhamos Marina à frente.

Muitos me alertaram que isso não daria em nada, mas eu preferia acreditar que em meio ao deserto que o Brasil vive, eu seguiria esse Oasis, mesmo que este no fim se mostrasse uma miragem.

Pois aí surgiram as dificuldades e lá estava o discurso intacto do tal "Plano A". E logo surgiu o primeiro grande obstáculo, àquele que de fato provaria se o discurso era fato ou era bolha de sabão. E lá veio a surpresa (pra mim foi), 2 dias após a pedra no caminho, lá estava Marina fazendo a velha política. Lá estava ela de mãos dadas com Eduardo Campo do PSB se lançando em campanha. Lá estava todo o discurso jogado no lixo.

"Ah, mas o que era melhor, ficar sem se candidatar a nada por mais 4 anos?" SIM, se esse era o preço para algo NOVO, que se pague o preço. Mas não, a covardia logo fez sua parte e lá estava a VELHA forma de fazer política reinando.

*Ainda admiro Marina, frente aos outros ela é diferenciada, mas confesso que hoje admiro um tanto menos.

Abaixo segue o email de um dos líderes da #Rede, o qual desde Fevereiro envia emails semanais com o passo a passo da #Rede, o processo da criação, as dificuldades, a luta... Ele, assim como eu, está desapontado.

Acho que vale a leitura.

[]'s

Evandro Melo
@evandrolmelo


***
Hoje é quinta-feira e depois de refletir todas as postagens que foram feitas nesta lista sobre os fatos do último sábado e as manifestações sobre as minhas indagações e colocações acerca da decisão tomada institucionalmente pela Rede Sustentabilidade,  finalmente posso, com boa segurança, expor o que segue abaixo.

Em primeiro lugar, não discuto o direito de Marina Silva se filiar a qualquer partido como decisão final dela; o que eu penso sobre isso eu já externei ao grupo do RS, e estou entre a minoria que entendeu que ela não deveria se filiar a nenhum outro partido. As razões aqui não repetirei.

Sobre a decisão que foi adotada de forma restrita pela Executiva Nacional, isso discuto e digo que ela foi tomada contra os estatutos e valores da #rede.

Assim, ela é uma decisão que, do ponto de vista jurídico, e das regras que governam a Rede Sustentabilidade, inválida, não legítima, não podendo produzir os efeitos que se destinam.

A fim de que não fique dúvidas, diante do curso dos acontecimentos, nesse instante quero aqui deixar bem claro que eu WILLIAM SMITH KAKU declaro firmemente que considero ilegal e ilegítima a decisão de coligação tomada pela #rede no sábado passado, e que minha manifestação cabal nesta lista tenha o cunho de contrapor a uma ideia que futuramente possa ser veiculada no sentido de que, por unanimidade silenciosa ou consenso progressivo tácito, o grupo de Conselheiros da Comissão Nacional Provisória (CNP) da #rede aceitou e concordou com o referido acordo.

Dito isto, quero deixar claro a todos que as consequências, do ponto de vista jurídico, ao meu ver, é que a Executiva Nacional Provisória da #rede precisa no mínimo de um REFERENDO desta CNP para dar seguimento legal aos atos praticados no último sábado.

Entendo que a chamada para a reunião de domingo somente poderia ser no sentido de referendar ou recusar o acordo firmado. Mas a chamada é genérica nesse sentido e específica para dar continuidade às ações perante a coligação firmada.

Por isso recomendo que quem ainda estiver em dúvida sobre a ação tomada no último sábado ou não concorda com a coligação feitanão compareça - nem por internet - na reunião convocada, porque, estará chancelando tacitamente o acordo, ou seja, juridicamente, estará mesmo em silêncio, referendando tudo, por participar de uma reunião que praticamente dá por certo e encerrado o ato praticado. "Aceitação tácita" trata-se de uma figura jurídica de manifestação de vontade, portanto, produtora de efeitos jurídicos próprios, mesmo que a pessoa não saiba disso naquele momento. Não é aceitação expressa, mas aceitação tácita e produtora de efeitos como se fosse expressa.  

Repito que este referido ato somente poderia ser praticado pela CNP, após discussão e deliberação, com posterior emissão de mandato específico para a Executiva Provisória cumprir o decidido pela CNP.

Cabe à Executiva Provisória esclarecer e comprovar a legalidade e legitimidade do ato praticado, segundo o nosso estatuto. Em nenhum momento ela recebeu tal mandato específico e isso está longe dos poderes gerais que a ela foi conferida em fevereiro, qual seja, unicamente proceder com os atos necessários para obter o registro legal da Rede Sustentabilidade, nada mais. Nessa reunião eu estava e ouvi isso.

Quero deixar claro que respeito todos os posicionamentos aqui externados, mas em relação à #rede entendo meu dever lutar para preservar o que originariamente, em seu DNA, ela contém de bom para o país e todos nós, porque ela recebeu o melhor de cada um de nós, e em cada assinatura recebida, como seu patrimônio invisível inicial, a sua alma.

Vamos nos falando, mas agora fico com minha consciência leve e cumprindo um dever que me tira de profunda angustia, dor, sofrimento e infelicidade.

Grande Abraço a Todos(as)! :-)

William Smith Kaku (RS)

domingo, 25 de agosto de 2013

E se

E se houvesse um mundo
feito de E Se?
e se possível fosse
esquecer
relembrar
inventar
mudar
transformar
... Reticentear?

E se me fosse dado
um punhado de E Se

E Se pudesse...
tudo diferente escolher
das tristezas me esconder
de amor não morrer
vida simples viver...

Juntaria a porção de E Se
lançaria tudo ao vento
não gastaria um só lenço
e se esgotassem os E Se's
deixaria tudo de novo
acontecer.



evandro melo
@evandrolmelo

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A primeira poesia

A primeira poesia que ouvi nem era poesia. Bom, era na essência mas não nasceu poesia.
Tampouco eu, uma criança na primeira série do primário, sabia o que era uma poesia.
Mas desde menor ainda já sabia admirá-las, mesmo não sabendo que as admirava.
A primeira poesia que ouvi, jamais esqueci. Sem nenhum esforço para decorá-la. Poesias não são decoradas, são tatuadas na pele da alma.

A primeira poesia que tenho consciência foi dita pela professora Carmem na a
ula de ciências.
Foi curta, simples e direta. E bela, não esqueçamos da beleza.

A primeira poesia da minha vida de tantas outras, me abriu os olhos como uma criança diante do recém surgido Papai Noel. Me despertou os sentidos, me acordou de um sentimento de que as aulas não serviam para muita coisa senão para receber elogios ou broncas em casa. Me fez perceber que há sentido nas palavras.

A primeira poesia de minhas lembranças, ouvi quando pequeno, na aula de ciências pela boca da professora Carmem (ou era Lúcia? Telma, talvez), foi simples e direta e me ensinou a respirar vida.
E tudo isso por uma simples lição contida numa curta frase: O vento, é o ar em movimento.

A primeira poesia de minha vida me colocou em movimento. Como o vento.

Fim.



evandro l! melo

sexta-feira, 7 de junho de 2013

ENCONTRO MARCADO...


…Marcado por ele, porque eu mesmo não me lembrava de ter pedido nada disso.

Foi essa semana, precisei fazer uma tomografia computadorizada. Sabe aquele exame em que te colocam em um lugar que não foi bem projetado para você caber nele? Algum engenheiro engraçadinho fez aquilo de propósito só para se divertir à custa do sofrimento alheio.
Pois lá estava eu, uma espécie de múmia moderna, nariz rente ao teto do tomógrafo, me concentrando para não dar espaço (rá espaço!) para a claustrofobia, quando ainda de olhos fechados escuto alguém entrar.
- Oi.
Puta susto! E eu sem nem poder me mexer pra não atrapalhar o exame e ter que repetir tudo de novo.
- Hein? Quem é você, mas como, ei...
- Calma ae, você que me chamou.
- Chamei? Quem é você, mas como que...
- Sou Deus, Pai, Emanuel, Jesus, Senhor, Rei {haha} e todos esses nomes que vocês vão me dando.
- Mas.. {caramba} comé que você, err o SENHOR...
- Chama de você, chega de frescura.
- ...Tá, comé que o Senh…Você cabe aqui dentro?
- O que é caber? Eu sou o eu sou, esqueceu? Eu não 'caibo', eu apenas existo.
- Mas tem a lei de Newton, você sabe, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço e bem, aqui mal há espaço para um.
- Eu sou além do espaço. Newton… Menino legal, mas muito obcecado pelo que apenas podia ver e tocar.
- Mas é que...
- Mas é que nada. Você me pediu esse encontro, vamos papear antes que o exame acabe.
- Ah então, eu não te chamei não, {Só se foi aquele dia que bebi um pouco a mais} chamei?
- Opa, eu não costumo aparecer sem ser convidado.
- …
- Você me chamou quando tinha 8 anos, chamou de papai do céu e tudo.
- E você só vem agora?
- Sempre é agora.
- Hein? Faz uns 22 anos isso, nem me lembrava mais. Tanto tempo pra você chegar. Agenda cheia?
- Tempo… Eu sou além do tempo. Sou eterno, esqueceu? Você que é preso ao tempo, não eu.
- E aquele papo de Einstein, relatividade, tempo-espaço...
- Ah, o Alberto. Sonhador, mais que Newton é verdade, mas ainda sim desconhecia o eterno. Bons meninos viu, se divertem juntos na eternidade.

Eu que nunca fui lá muito esclarecido, fiquei ainda mais confundido com tudo aquilo ali. Será que o pessoal (os sádicos que ficam na salinha te vendo sofrer de claustrofobia) estavam sabendo daquele encontro surreal? Ninguém vinha me buscar.
Aquilo durou horas, dias talvez. Queria dar uma olhadela no relógio para conferir, mas havia deixado no armário junto dos demais pertences, e mesmo que estivesse usando, não conseguiria mexer os braços.
Eu não podia me mexer e engraçado, não parecia estar mexendo nem a boca para falar.
E lá continuava ele, todo leve e solto, rindo, o que imaginei ser da minha cara de espanto.

- Quando foi que criou o mundo hein?
- Ontem. {hehe} O que é quando, rapaz?
- Caramba, não vou ensinar Deus. Vem cá, e essa monte de porcaria por aí? Violência, fome e...
- Ah,isso não é coisa minha não. Não me meta nessa, isso é coisa de vocês sabichões.

Rapaz, que liso que era esse simpático senhor. Senhor? Não era um senhor, era, era… Sei lá, não consegui definir, era tudo ao mesmo tempo que não era nada que eu conhecesse.

Eu queria, sabia que queria, papear sobre outras coisas, mas a cabeça parecia não funcionar bem. Tentava bolar alguma pergunta inteligente, mas nenhuma parecia ser.
Ia me esforçar mais um pouco até que fui interrompido pelo barulho de motor elétrico em funcionamento e o movimento repentino da maca, me puxando para fora daquele cú, ops, do tomógrafo.

- Bom meu amigo, foi bom papear contigo. Me chame sempre que quiser que eu apareço. - disse Deus enquanto a maca ia lentamente se movendo.
- Puxa, passou tão rápido. Não deu tempo de perguntar quase nada.
- {hehe} E você ainda preocupado com tempo e espaço.
- Grande abraço Deus, fica na paz e vai com… Com você mesmo {haha}.
- Pode deixar, e fica comigo {hehe}.
***

evandro l! melo
@evandrolmelo
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sábado, 20 de abril de 2013

limpeza à dedo


As avós são seres superiores, celestiais. As minhas são.
Uma espécie de ser superior que chegou a este status depois de vencer longos invernos, verões sem sombra, primaveras sem flores e outonos de ventos gelados. Superaram as pedras e buracos da vida, erraram o suficiente com os filhos para agora apenas acertarem com os netos.
Assim são as avós. As minhas são, que fique claro. Não sei como são as suas, mas se não são assim, a culpa é certamente sua.

Hoje me recordo de olhar pra cima, mãos dadas enquanto esperava pelo ônibus, que eu admirava aquela pessoa cheia de rugas e um belo coque na cabeça. No auge dos meus 7 anos eu apenas olhava.

Passo pelo mesmo bairro, (Jordanópolis, um bairro residencial em São Bernardo) e já não sinto a mesma atmosfera que antes. É a idade, eu sei, a observação da criança é mais pura, mais inocente, tudo é poesia e tudo tem graça.

Ali da casa da vó Lola, o tempo a passar vagarosamente, saíamos a passos lentos de mãos dadas caminhando em direção ao ponto, a cerca de 500m dali.
Aqueles 10 minutinhos eram diferente de qualquer outros 10 minutos.

Chegávamos ao ponto, em frente a um grande muro de uma casa de esquina, ali na Oswald de Andrade com a Av São Paulo. O ponto era identificado por pedaço de madeira enfincado no chão. Isso bastava.

Como um ritual, parávamos em frente ao grande muro, ela me olhava com as vistas cansadas nos óculos de armação grande e sempre percebia alguma sujeirinha em meu rosto. Pasta de dente se fosse de manhã, comida se fosse depois do almoço… E lá ia ela, levava o dedo indicador à boca, lambia e ia certeira tirar aquela malévola sujeira em meu rosto.
Eu reclamava, por reclamar, porque no fundo adorava e esperava aquilo.

Por fim, chegava o esperado ônibus (era o 37? acho que sim). Ah por que era tão bom pegar ônibus
Entrávamos pela porta da frente, como todo mundo, mas ao contrário dos outros, não passávamos pela catraca. Eu achava isso o máximo. Sentávamos nos poucos bancos antes do cobrador e lá fazíamos nossa viagem. Vó Lola olhando pra frente e eu observando pela janela.

O destino? Íamos ao centro de São Bernardo pagar algumas contas na Marechal, passando pela Jurubatuba e pela Faria Lima. Sempre sobrava tempo para uma Coca-Cola (de garrafinha de vidro) em uma padaria qualquer.
Da volta eu não tenho recordações. Mas a ida, essa sim tenho e era mágica.

evandro l! melo

quinta-feira, 28 de março de 2013

Os dias de Páscoa


Penso nos acontecimentos destes 3 dias de Páscoa, da seguinte maneira:

- 6a-feira
Muita confusão, medo, aflição, ondas de terríveis pensamentos inundando a mente de todos.
Só Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) tinham ciência de tudo.

- Sábado
Luto. Muito pesar, muita tristeza e dor. Cada um relembrando os momentos terrivelmente únicos do dia anterior e pensando - "E agora?!"

- Domingo
Espanto e admiração. Adoração e compreensão. Entendimento do que tudo aquilo significara.
Dia de milagre, de transformação. Dia de salvação.

Obrigado Pai, por ser a nossa Páscoa!

Evandro L! Melo
@evandrolmelo
(originalmente escrito e postado em  sexta-feira, 2 de abril de 2010)

segunda-feira, 11 de março de 2013

minha vó previu o skype


Pessoas pertencem ao tempo ou é o tempo que pertence às pessoas?
Em alguns casos parece que nem um nem outro. Vira e mexe nasce alguém que é além de seu tempo. Cabeça diferente, atitude, humor e por aí vai.

Conheço uma pessoa assim, para ter uma idéia (e só uma para esta crônica) ela foi capaz de prever o skype muito antes dos computadores serem utensílios domésticos comuns. Aliás muito antes de saber o que era um computador. Essa pessoa é minha Vó Luiza, mãe de meu pai e mais 8, que hoje conta com 83 anos de Vida (com V maiúsculo). Uma pessoa incrível, cheia de bom humor e teimosia. Forte, não é de reclamar a toa (nem com motivo), trabalhadora e batalhadora. Religiosa, era capaz de ser super conservadora em alguns assuntos ao mesmo tempo que aconselhava os netos, "tenha 2 namoradas, porque quem tem 2 tem 1, quem tem 1 não tem nenhuma". (Ah Vó, se a Sra soubesse como era difícil conseguir uma).
A casa da Vó Luiza era o destino de férias de quase todos os netos, e todos de uma vez, e somos muitos! Uma casa simples mas espaçosa em Mauá, cidade próxima ao Grande ABC, São Paulo.

Estávamos nos anos 80, e eu era apenas uma criança que se deslumbrava com os adultos cheios de histórias. Não tenho a menor dúvida que a década de 80 foi a melhor década para ter sido criança, e como nasci em 1981, aproveitei bem ela. Não existia medo, brincávamos na rua até tarde. Vôlei de rua, quem se lembra? Passava um carro, erguia-se a rede que era presa em árvores uma em cada calçada, e logo recomeçava a brincadeira. Mãe da rua, pula mula, esconde-esconde, pega-pega, mestre mandou, vixe… Tô até perdendo a idéia do texto… Vamos lá.

Me lembro bem do dia em que minha Vó Luiza mandou um "chupa Steve Jobs" e previu o Skype e a Telefonia IP. Vale o parêntese de que minha Vó não terminou nem o estudo básico.
Estávamos falando ao telefone, eu devia ter 7 anos, conversa vai conversa vem e ela fala que um dia falaremos no telefone vendo um ao outro.
- É? - perguntei intrigado.
- É, lá no Paraguai já deve existir um telefone com televisão onde conversamos e vemos um ao outro. - Respondeu cheia de sabedoria (aposto que ela tinha acabado de inventar aquele casamento da TV com o telefone).

Naquele tempo quem conhecesse o amigo do amigo que tinha um pai que um dia foi pros EUA era a sensação da escola.
"Como é lá, ele falou? - O que tem lá? - Quanto custa as coisas lá? - O que o pai dele trouxe?"
Para a maioria dos meninos, ouvíamos falar apenas no Paraguai, que na minha imaginação era um país longe da gente, exótico, com tecnologia sequer imaginadas, uma Disneylandia dos cacarecos sensacionais.
E era lá, no Paraguai onde todas as idéias que ainda não existiam, deviam estar.

O tempo (que não nos pertence) passa e com ele vai toda a inocência dos anos 80. Chegaram os computadores, as novas tecnologias, a tal da Telefonia IP e o Skype. E o Paraguai já não é tão distante, menos ainda um Vale do Silício latino.

Mas minha Vó Luiza, essa só fez melhorar.

evandro l! melo
@evandrolmelo

quarta-feira, 6 de março de 2013

Ned Flanders






Homer Simpson: Flanders, por que chamou a policia ontem a noite?
Ned Flanders: Precisei, ouvi uma confusão.
Homer Simpson: O que foi que eu fiz?!
Ned Flanders: Eu não sei, mas como cristão, supus o pior.

@evandrolmelo

terça-feira, 5 de março de 2013

Sentimentos

Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante, eu e meu amigo Nuno Jr criamos um espaço chamado "Sobre Pensar". Um espaço para ensaios, idéias, textos, fotos, ilustrações e qualquer tipo de arte sobre determinados temas, que mudavam a cada 15 dias.
Pois este pequeno espaço nos deu o prazer de receber trabalhos incríveis e conhecer pessoas incríveis.
Na quinzena do tema "Sentimento", recebo o email de uma (até então) desconhecida enviando um MP3 com uma composição sua ao piano.

Ouvi aquilo com incredulidade e surpresa. Como algo tão legal veio até mim?! Agora, além do MP3 temos esse belíssimo vídeo da Heindrun tocando sua composição "Sentimentos".

Ouçam, assistam, deleitem-se:



Música de Heidrun Jakobovitsch Ferreira .



evandro l! melo
@evandrolmelo

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Marina Silva no Roda Viva 18/02/2013

Sou fã da Marina Silva. Mulher sonhadora, utópica e batalhadora, mas daquelas que desconhece barreiras entre o que é certo (sonhos e utopias) e o que é fácil (ou como preferem dizer, viável)

Como cristão, sou frequentemente perguntado sobre Malafaias, Macedos, Valdomiros e afins e tenho sempre que gastar um tempinho pra explicar que essa corja NÃO me representa. E na explicação costumo usar Marina Silva como exemplo. Vai lá, dá uma olhada na postura dela, na mensagem e na imagem, o que ela pensa e deixa de pensar sobre diversas questões como união civil de homossexuais, célula tronco, criacionismo x evolucionismo, etc. Marina Silva me representa!

Pois bem, aqui está uma ótima entrevista da Marina para o Roda Viva. Vale emprenhar um tempinho.


Demais blocos:



evandro l! melo

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

em memória dos esquecidos


escrever é uma antiga forma moderna de eternizar instantes. é desenhar com palavras e quando bem feito traz consigo (além de letras organizadas) perfumes, sensações, sorrisos… traz consigo o instante, que no instante que ocorreu se foi.

escrever é apalpar memórias e torná-las apalpáveis pra qualquer um.

escrevo para sobreviver, para não me esquecer. o tempo é muita coisa, e dentre tantas é também borracha, que apaga (se deixarmos) os momentos, os instantes. por isso escrevo, em protesto contra o tempo, que não tem tempo de memorizar.

escrever é protestar conta o tempo.

o tempo vive correndo atrás do futuro e, no caminho, vai transformando o presente em passado. é assim que é. mas não me deixo abater, vou atrás de seu rastro e sem que ele perceba (acho que ele sabe sim, e gosta) pego as sobras e remonto em lembraças.

escrever é remontar lembranças.

é renascer sem se estar morto. é retornar ao espírito do passado e reviver a vida que se foi. foi mas não acabou; foi e ainda é. desde que se escreva. e como não sou bobo nem nada (nem sou documentarista) não me fixo nos fatos chateantes. como num álbum de fotos, escolho os melhores instantes para eternizar em palavras. e revivo.

escrever é fotografar com palavras.

é protestar contra o tempo.
é apalpar memórias.
é remontar lembranças e momentos.
é desenhar com palavras.

é tudo isso, e tudo isso é muito pouco para descrever o que escrever é.

***
evandro l! melo
@evandrolmelo

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tiago e a cura pela conversa


"Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz." Tiago 5:16


Tiago, muito antes de Freud, já sabia que a palavra cura. Ele já defendia a 'cura pela conversa', tão defendido por Freud em seus estudos.

Confessar os pecados uns aos outros, nada mais é (na minha visão) que se abrir uns aos outros. Compartilhar com o amigo não apenas o verniz da superfície, mas o que existe debaixo. Expor suas mazelas, suas fraquezas, suas tristezas. E orar. Isso cura. Isso liberta. Alivia e refrigera a alma. 

A alma é feita para ser compartilhada. Sozinha ela fica aflita, pesada, encharcada com suas próprias dores. Mas quando é dividida... Ahh, ela flutua.

Parafraseando este trecho da carta de Tiago, diria assim: Vamos amigos, compartilhemos a vida uns com os outros. Oremos uns pelos outros. Isso cura. Essa ação e oração tem mais força do que podemos imaginar.

Valeu Tiago.





evandro l! melo
@evandrolmelo

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Domenico de Masi no Roda Viva

Muitos conhecem Domenico de Masi por seu livro mais famoso "O Ócio Criativo", ou pelo menos já ouviu falar. Porém poucos conhecem ou conhecem muito superficialmente todo o pensamento por trás disto.

Domenico de Masi é um sociólogo e escritor italiano que se dedica há 4 décadas a estudar as transformações do mundo principalmente no que tange o trabalho, a economia e a utilização do tempo.

Nesta ótima entrevista ao programa Roda Viva, é possível se aproximar um pouco mais das idéias desse homem criativo que não tem tempo para ser pessimista.



Entrevista inteira:
Bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=mfc67MO9NpI
Bloco 2: http://www.youtube.com/watch?v=MuYBxqJrjhA
Bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=JfAghDMUe74
Bloco 4: http://www.youtube.com/watch?v=R0g-gU7oUyw


evandro l! melo
@evandrolmelo

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

laranjeira




É de Deus
que eu seja barro
argila do chão
nas mãos do artesão

É de Deus
que eu seja pó
poeira no vento
na brevidade do tempo

É de Deus
não me ver sozinho
fez pra mim um ninho
com folhas de laranjeira

e é de mim
Te ver assim
graciosa graça.

evandro l! melo
@evandrolmelo

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

envelheço











faz-me companhia o tempo
que outrora passara
em rio, em vento, em pó

faz-me companhia o vento
toma-me pela mão
e minha idade avança

perco a criança
marca-me em linhas gastas
fatiga minhas retinas

de mãos dadas leva-me
o tempo de outros ventos
rumo a luz da escuridão

evandro l! melo
@evandrolmelo

domingo, 13 de janeiro de 2013

o sapo, o cavalo e a capela



É noite, o frio acompanha o vento suave farfalhando as folhas das árvores negras e cumpridas, em movimentos que se repetem.
Lá estou eu, incomodado. Estranho ao lugar mas parecendo já ter estado lá.
A chuva não tarda, logo chega de mansinho, em forma de garôa, e ganha força ao vento, vindo direto em minha direção.
Ando um pouco mais, sem saber o caminho certo, mas sem temer. Apenas um incômodo me acompanha.
Ouço o som de água caindo, se chocando em pedras duras. Logo avisto a cachoeira, uma bela cachoeira de águas espumantes.
O incômodo num ímpeto aumenta e a bexiga dá seu aviso. Preciso me aliviar.
- Não tem ninguém por perto, será aqui mesmo. - penso comigo. E continuo:
- Ei, não pode ser.Estranho. Nunca vim a este lugar e ele não me é estranho. Isso…Isso é um… Será?!Como saber?
Pergunto a um sapo, que sem me dar conta acaba de surgir.
- Ei como saber se isto é um sonho?
- Oras é fácil. - Mal termino de falar e o danado me atira uma pedra. Me acerta a perna. Dói.

Antes que eu chegue à conclusão, a dor me tira daquela floresta.
Me percebo então em um deserto, faz calor e está cercado de areia por todos os lados.
O ar seco me tira o fôlego, me seca a garganta.
- Preciso de água. - É só dizer que o incômodo dá sinal de vida.
Continuo andando e explorando confiante um lugar desconhecido mas ao mesmo tempo natural a mim.
Não demora e a garganta seca novamente. Penso em água. Sinto o incômodo. Droga!
Sigo andando e finalmente encontro algo além do nada. Uma velha casa de madeira, um cavalo amarrado ao chão e uma banheira cheia d'água onde o pangaré se refresca. A bexiga reclama.
- De novo não.
Olho para os lados. Ninguém por perto.
- Ah, vai ser aqui mesmo.
Me preparo e...
- Ei, tem certeza que isso não é um sonho? - Me pergunta o cavalo malhado.
- Como saber? Como saber? - pergunto balançando a perna, impacientemente.
Já devia esperar. Recebo um coice, na outra perna.
- Ai, que dor!

A dor dessa vez me leva de volta pra casa. Me percebo na minha cama. Sim é um sonho. Bons amigos o Sapo e o Cavalo. Me acertaram doído, mas obrigado. Talvez uma coceguinha bastasse, mas obrigado.
Sem perder mais tempo, me levanto e corro ao banheiro. Está diferente, devia ser o sono e a tremenda necessidade de fazer xixi, que aumenta cada vez mais. Não resta mais tempo, mas… Melhor não confiar, aplico um beliscão no braço esquerdo. Forte e giratório.
- Aaaai.
Dói pacas e mesmo com a dor, eu continuo no mesmo cômodo.
- Doeu e continuo aqui. Não é um sonho. - concluo.

Sem pestanejar nem mais um tanto, deixo a bexiga feliz. Olho pra cima curtindo aquele momento bom de deixar a bexiga feliz.
- Mas que estranho, meu banheiro nunca teve o teto da capela Sistina.
- Ah não! Ah não!

Acordo no meu quarto, com três hematomas e todo molhado.

evandro l! melo
@evandrolmelo

ilustração: Uiara Frabetti d'Melo

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

do que não sou












dos poemas que não existem
gosto mais daqueles que não fiz
[com esmero]
deixei-os escapar
livres pensamentos
[vão]
errantes ao esquecimento
como insetos que procuram luz
morrem em claridade

como mãe orgulhosa
me orgulho daquilo que não criei
daquilo que não sou
feito,
eu.

evandro l! melo
@evandrolmelo


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

reunião dos infernos



Estava mais agitado do que o de costume, ansioso, parecia trazer sua grande descoberta.
Não estivera contente com os números - que cresciam, era verdade - de almas conquistadas. Algo lhe dizia que podia ter mais e melhor.

Durante séculos cultivou a estratégia da truculência. Dono de pouca paciência, queria conquistar duma vez. 
"Quanto você quer pela sua alma? Anda, dá seu preço." Ou ainda arrancar-lhes os sonhos à força. Coisa que assustava os viventes.

Foi ali, naquele dia, durante seu banho de lava e enxofre, onde as idéias sempre vinham, que percebeu.
- Cacete! (é o 'eureca!' do diabo).

Chamou uma reunião de emergência com o conselho do Caos que era formado por todo tipo de demônio. Grandes e pequenos. Alados e rastejantes, feios e horrorosos. Todos tomaram seus lugares no Caos, cochichando entre eles sobre a agitação do chefe.

- Meus amigos e companheiros dos infernos! Que a discórdia esteja com vocês. - Iniciou ele de pé na ponta da grande mesa, e prosseguiu -
Pensando em uma maneira mais eficaz de conquistar almas, destruir sonhos e matar a fé, quero lhes dar novas diretrizes e apresentar minha nova estratégia.

Todos lhe observavam na mais intranquila desordem. 
- O que será que vem por aí? - deixou escapar o que tinha a cara de bicho preguiça.

-  Por séculos - continuou - fomos agressivos em nossa abordagem. Ganância fez um bom trabalho comprando almas, mas a preços bastante altos. 
Abordando os seres viventes com "quer vender sua alma?" acaba que assusta a maioria e quem não se assusta acaba cobrando caro demais. Além do que já temos roqueiros demais por aqui.

- Faremos o seguinte. Daremos a eles funções, quaisquer que sejam, e daremos pequenos pagamentos todo mês. Também faremos com que disputem entre si oferecendo prêmios a quem se destacar. Chamaremos isso de Meritocracia. Vaidade e Ambição, é com vocês.

- Mas o que ganhamos com isso chefe? - Quis saber Ambição.

- O business case se mostrou muito mais eficaz com este modelo de negócio. Ao invés de comprar as almas, alugaremos mensalmente. Sai mais barato e assim eles se entregam pra valer, sem melindres. Vão inventar desculpas a si mesmos e trabalharão mais e mais, vendendo fácil o que antes não tinha preço. Mamon vai adorar.

Continuou sua retórica:

- Também percebi que ao querer roubar-lhes a fé e reduzir os sonhos a pó de uma vez, fazia com que estas pestes acabassem buscando mais fé e sonhando mais, mesmo que mediocremente.
Portanto, não lhes tire tudo de uma vez, são sensíveis. Vão notar e chorar, sentir falta, abrir o berreiro. Ao invés disso Medo, vá tirando seus sonhos aos poucos; Dúvida, vá minando a fé deles de gota em gota, sem pressa, e logo teremos adquirido mais uma alma. 

- Os tempos são outros, temos que nos reinventar se quisermos conquistar essas almas. - Arremeteu orgulhoso.

Um mão se levanta timidamente lá atrás.
- Pois não? - perguntou Lúcifer, o chefe.
- Mas e aquele papo, aquela… aquela tal de Graça? Não pode acabar com esse negócio de méritos? 

Ele observava carrancudo o demoniozinho que perguntava.

- E também não pode, a tal da Graça se juntar à Esperança e insistir em encher os viventes com fé e sonhos? - finalizou o demoniosinho.

A empolgação havia deixado seu semblante. Levando a cabeça à mesa num movimento desanimado, dá um bufada:

- Demônios sinceros, quem precisa deles?

***

evandro l! melo