quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Uma conversa sobre a vida

...
- Ele já pensou em morrer, aliás ele pensa em morrrer.
- Como assim? Suicídio, tá doido?
- Quem falou em sucidio?! Disse que ele pensou em morrer, pensa na morte, nao em se matar.
- Hum e tem diferença?
- Claro, ele não quer acabar com a própria vida, mas pensa se morrer nao é o melhor caminho. Estamos sempre dizendo que o céu é o lugar perfeito, então porque não conhecê-lo logo?
- Não sei, isso me assusta... você sabe... morrer... sei que a vida não é mole, mas se entregar à morte me assusta.
- Assusta a todos.
- Pelo jeito não o assusta.
- Assusta sim, por isso ele anda inquieto. Pensa na morte, mas isso o assusta.
- Esta calor hoje heim.
- Muito, esse tempo maluco.
- Mas me diga, porque ele anda assim?
- Disse que não encontra sentido nas coisas, na vida.
- Hunf, sentido, tá achando que a vida é como o trânsito? Sentido das vias, farol, faixas? A vida é mais selvagem, é como uma selva, um caos divino. O sentido da vida é achar vida nisso tudo.
- Caos divino, essa é boa.
- E não é? Olha a criação, olha para as florestas, não tem nenhuma organização, nada muito definido, é simplesmente ela, um caos lindo e perfeito e você nao vê nenhum leão ou tartaruga procurando sentido na vida, simplesmente porque o sentido da vida deles é viver. Deus esta nisso tudo.
- Talvez porque sejam animais irracionais.
- Talvez por isso sejam felizes, não se preocupam em pensar tanto, os animais vivem mais.
- Mas para nós é diferente, não sei, mas não existe um botão para apertar e parar com os pensamentos... Aliás já reparou que os pensamentos tem vida própria? - Eles nascem, evoluem, se transformam, muitas vezes sem nossa vontade. Pelo menos comigo é assim.
- É verdade comigo também acontece isso, mais um dos misterios divinos.
- Pois é, e vira e mexe pensamos no tal sentido da vida.
- Pra falar a verdade não vejo problemas em procurar o sentido da vida, só acho que não devemos levar isso tão a sério, a vida não é pra ser levada tão a sério. E a forma como procuramos sentido na vida é que me assusta.
- Por que?
- Porque buscamos o tal sentido da vida em coisas materiais, palpáveis, procuramos nos espelhar em pessoas que temos como exemplo, buscamos uma solução pronta, como um manual de instrução.
- E como deveria ser essa busca?
- Primeiro que não deveria haver uma busca obstinada,a curto prazo, como que se não encontrar esse sentido em pouco tempo você não valha nada e viver passa a ser apenas uma questão de respirar.
- Segundo?
- Segundo que cada pessoa deve procurar e moldar a vida a seu modo. Pessoas, livros , filmes, arte, enfim tudo isso pode ajudar você a moldar seus pensamentos, mas devem funcionar apenas como uma fonte de inspiração. Você tem o papel e o lápis na mão, agora escrever é com você, você consigo mesmo...
...- Veja só, ele e tantas outras pessoas procuram as respostas prontas, mastigadas. Procuram em todos os lugares, como na Igreja, por exemplo.
- O que tem a igreja? Ela não serve para dar as respostas?
- Não da forma como as pessoas buscam.
- Heim?
- A Igreja deve ajudar a cada um encontrar seu caminho, deve funcionar como as linhas dos cadernos, serve de guia, mas quem deve encontrar as palavras, organiza-las e escrever sua história é você mesmo.
- E Deus, onde fica nessa historia?
- Deus... Deus é quem te acompanha o tempo todo, iluminando as idéias, sendo e servindo de fonte, te sustentando.
- E Deus nao está na Igreja?
- Deus está em todos os lugares, está sempre com você. Cabe a você desenvolver um relacionamento próximo para enxergá-lo, a igreja não pode fazer isso por você.
- É mas não é isso que as Igrejas dizem.
- As instituições realmente não fazem isso, mas igreja é muito mais do que um prédio, administrado por homens, vai muito além de encontros dominicais. Igreja não precisa ter paredes, igreja sou eu e você, somos a igreja...
...- Olha só, a igreja deveria funcionar como uma grande biblioteca. Na biblioteca você encontra resposta para tudo, mas cada ponto está em um livro diferente e cabe a você estudar cada um e formar seu ponto de vista.
- E onde entra a igreja nisso?
- Bom a igreja e seus representantes deveriam ser como uma bibliotecária, que escutaria o que você está procurando e te indicaria os livros, te diria onde você poderia encontrar tais respostas, mas a leitura e a interpretação cabe a cada um.
- E Deus? seria o que nessa grande biblioteca?
- Deus é a fonte de inspiração de cada escritor, de cada artista, de cada leitor, sua fonte de inspiração.
- Acho que entendi, ou melhor, comecei a entender.
- Nao tente entender tudo de uma única vez, temos a vida toda para entender o que é a vida.

Evandro L! Melo

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ética Cristã, uma luz no fim do túnel


Alguns acontecimentos recentes me trouxeram à mente algo que venho refletindo a muito tempo.

A ética Cristã/evangélica e o mundo em que vivemos.

O primeiro acontecimento foi o trágico acidente na igreja Renascer, onde como todos sabem desabou o teto ferindo muitos e matando 9 pessoas.

O que me chamou a atenção em meio a todo alvoroço que a imprensa cria, como urubus em volta da carniça, foi a contradição em que os líderes da igreja evangélica Renascer entraram.
O presidente da igreja afirmou veementemente que não houve qualquer reparo ou reforma no teto da igreja recentemente, enquanto vizinhos do local afirmavam ter visto obras no final de 2008.

No dia seguinte outro líder da igreja afirmou ao lado do presidente que houve sim reforma no teto da igreja no final de 2008, que o teto foi inteiro substituído e restaurado.

Uma coisa é certa, um dos dois mentiu.

O outro fato aconteceu hoje, foi a tão divulgada e festejada posse do Obama. O que me chamou a atenção foi a tradição dos presidentes americanos de fazerem o juramento com a mão direita sobre a Bíblia.

Esses acontecimentos fizeram voltar a minha mente a idéia de ética que o mundo tem sobre os evangélicos.

Desde criança eu vejo um tipo de "perseguição" aos evangélicos. Qualquer erro cometido pelo evangélico é seguido da frase: "e depois diz que é evangélico".

Muitos jogadores de futebol saem com diversas mulheres, gritam palavrões etc , mas se um 'atleta de Cristo' faz algo parecido ouvimos a frase "e depois diz que é evangélico".

No Brasil temos diversos políticos, e convenhamos, é difícil achar um que presta, mas tratam em Brasília especificamente da 'bancada evangélica'.

E porque isso?

Bom, porque é assim que deve ser mesmo.

Esta 'perseguição' muito me alegra para dizer a verdade, porque comprova e admite que esperam do evangélico uma posição de diferença no mundo. Assume-se que o restante do mundo esta indo para um lado e espera-se que o evangélico caminhe para o lado inverso, carregando junto sua cruz.

E não é assim que deve ser?

O que me entristesse é ver que a cada dia que passa, o 'ser evangélico' torna-se mais mecânico, algo trivial, banal e até popular, torna-se uma tradição, como a dos presidentes colocarem a mão sobre a Bíblia. Diz-se que é evangélico como diz-se que é são-paulino, corintiano etc.

Estamos passando por uma transformação em nossa sociedade. Não sou sociólogo, mas sou observador, e o que observo é que nos anos 80, década em que nasci, ser evangélico era totalmente fora de moda, era ser quadrado, ouvíamos gozações na escola, nas ruas, enfim eramos o patinho feio.

Nos anos 90 não foi muito diferente, porém algumas igrejas alternativas, como a Renascer, trouxeram uma roupagem nova a quadradona igreja, fez parecer mais divertida, atraiu mais jovens, o que foi muito bom, espetacular. Porém ainda nos anos 90 descobriram que essa nova roupagem rendia fruto$.

Começou então a onda das igrejas moderninhas, que trazem mensagens de muita bonança, bençãos materiais,conquistas etc.
Deixaram de lado o verdadeiro evangelho da cruz, do caminho estreito e partiram para uma moda mais chamativa, que cabe nas estratégias de marketing.

Vivemos isto nesse momento. Quase todos os canais de TV e diversas rádios propagando o evangelho dos milagres, das bençãos financeiras e a cada dia esta mais difícil ser Cristão verdadeiramente.
Envergonha-se o verdadeiro evangelho em troca de 30 moedas de prata (na verdade muito mais do que isso).

O mesmo movimento creio ter acontecido na igreja católica. Como não sou historiador não tenho dados concretos, mas acredito que no início a igreja católica era coerente com o evengelho ensinado por Jesus e ao longo do tempo foi se perdendo, ao ponto de hoje ninguém sequer se
indignar pelos mesmos erros cometidos pelos católicos como indignam-se com os evangélicos. Não existe a 'bancada católica', por exemplo.

O que eu vejo com tudo isso é que o 'movimento evangélico' (o qual quero distância) está trilhando um caminho inverso ao evangelho verdadeiro, mas ainda há luz no fim do túnel.

A indignação e a intolerância das pessoas a certos erros dos evangélicos comprovam que ainda esperam algo dos Cristãos, ainda esperam que honremos com a Ética Cristã.

então só nos resta HONRAR com a Ética de CRISTO.

PAZ!

Evandro.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A falácia do sucesso

Enquanto não vem um post novo, que deve chegar em breve, segue um post para releitura. Algo de muito valor.

Evandro


Por Paulo Brabo


Estocado em Goiabas Roubadas, Sociedade

Tem surgido no nosso tempo uma classe particular de livros e de artigos que penso de forma sincera e solene podem ser chamados dos mais imbecis conhecidos entre os homens. Trata-se de coisa muito mais extravagante do que os mais extravagantes romances de cavalaria e muito mais maçante do que os mais maçantes tratados religiosos. Além disso os romances de cavalaria eram, pelo menos, sobre cavalaria, e os tratados religiosos sobre religião. Essas coisas, no entanto, são sobre coisa alguma; são sobre o que se chama sucesso.

Em cada estante e em cada revista você encontra obras ensinando às pessoas como serem bem sucedidas. São livros que mostram às pessoas como obter sucesso em tudo, e são escritos por gente incapaz de sucesso até mesmo na sua iniciativa de escrever livros.

Para começar não existe, naturalmente, essa coisa chamada sucesso. Ou, se você quiser colocar a coisa dessa forma, não há nada que não seja bem-sucedido. Que uma coisa seja bem-sucedida quer dizer apenas que ela é; um milionário é bem sucedido em ser um milionário e um jumento é bem sucedido em ser um jumento. Todo homem vivo tem tido sucesso em manter-se vivo, e qualquer homem morto pode ter tido sucesso em cometer suicídio. Porém, se ignorarmos a má lógica e a má filosofia do conceito, podemos tomá-lo, como fazem esses autores, no sentido usual de sucesso em ganhar dinheiro ou posição social.

Esses autores alegam ensinar ao leitor comum como obter sucesso em seu ofício ou ramo de atividade – como, se ele é construtor, ter sucesso como construtor; como, se é corretor da bolsa, ter sucesso como corretor da bolsa. Afirmam mostrar a ele como, se é dono de mercearia, pode tornar-se um iatista profissional; como, se é um jornalista de décima categoria, pode tornar-se um aristocrata; como, se é um judeu alemão, pode tornar-se anglo-saxão.

Isso eles propõem de forma definida e metódica, e penso que as pessoas que compram esses livros (se é que alguém os compra) tenham o direito moral, se não legal, de exigirem o seu dinheiro de volta. Ninguém ousaria publicar um livro sobre eletricidade que não contivesse literalmente coisa alguma sobre eletricidade; ninguém ousaria publicar um artigo sobre botânica que mostrasse que o autor desconhece qual extremidade da planta cresce dentro da terra. No entanto nosso mundo está repleto de livros sobre sucesso e sobre gente bem sucedida que não contém nenhum tipo de idéia e praticamente nenhum tipo de coerência verbal.

Deveria parecer perfeitamente óbvio que em qualquer ocupação decente (como por exemplo, a construção de muros ou a autoria de livros) há apenas dois modos de ser bem sucedido. O primeiro é fazendo-se um bom trabalho, o segundo é trapaceando. Ambos são simples demais para requererem qualquer explicação literária. Se o seu negócio for salto em altura, ou você salta mais alto do que qualquer outra pessoa ou consegue de alguma forma fingir que conseguiu. Se você quer ter sucesso como jogador de bridge, ou você aprende a ser um bom jogador de bridge ou joga com cartas marcadas. Você pode recorrer a um livro sobre salto em altura, a um livro sobre bridge ou um livro sobre como trapacear no bridge. Mas você não vai querer recorrer a um livro sobre sucesso – especialmente um livro sobre sucesso como os que você encontra espalhados às centenas no mercado editorial. Você pode querer saltar ou jogar cartas, mas não vai querer ficar lendo declarações obtusas do tipo "saltar é saltar", ou "jogos são vencidos por vencedores".

Se esses autores fossem, por exemplo, dizer alguma coisa sobre o sucesso no salto em altura, soaria mais ou menos assim: "O competidor de salto deve ter um objetivo claro diante de si. Deve desejar de forma muito definida saltar mais alto do que todos os outros atletas na mesma competição. Não deve deixar que frívolos sentimentos de compaixão o impeçam de dar o melhor de si. Deve ter em mente que uma competição de salto é essencialmente competitiva e que, como demonstrado gloriosamente por Darwin, OS MAIS FRACOS IRÃO PARA O MURO DE FUZILAMENTO". É esse o tipo de coisa que o livro diria, e muito útil seria, sem dúvida, se lida por uma voz grave e tensa a um jovem logo antes de empreender o seu salto.

Supondo que no curso de suas divagações intelectuais o filósofo do sucesso acabasse examinando nosso outro caso, o do jogador de cartas, sua estimulante recomendação seria: "No ato de jogar cartas é inteiramente necessário evitar o erro comum de permitir que seu adversário vença o jogo. Você deve ter garra e coragem, e entrar para ganhar. Os dias de idealismo e de superstição terminaram. Vivemos numa época de ciência e de senso comum, e já foi definitivamente provado que em qualquer jogo onde dois competem, SE UM NÃO VENCER, É O OUTRO QUE VENCE". Tudo muito empolgante, naturalmente, mas confesso que se fosse jogar cartas daria preferência a um livrinho decente que me ensinasse as regras do jogo. Para além das regras do jogo é tudo uma questão de talento ou desonestidade.

Folheando uma revista muito popular encontro um exemplo ao mesmo tempo estranho e cômico. Trata-se de um artigo intitulado "O instinto que faz as pessoas enriquecerem", decorado com um retrato formidável de Lord Rothschild. É fato que existem muitos métodos definidos, tanto honestos quanto desonestos, de enriquecer, mas que eu saiba o único "instinto" capaz dessa façanha é o instinto que a teologia cristã descreve grosseiramente como "o pecado da ganância". Isso, no entanto, não vem ao ponto. Quero citar os impagáveis parágrafos que seguem como exemplo típico do conteúdo dos livros que falam sobre como se alcançar o sucesso. São sempre muito práticos, e deixam pouca dúvida sobre qual deverá ser o passo seguinte:

O nome Vanderbilt é sinônimo de riqueza no mundo empresarial contemporâneo. Cornelius Vanderbilt, fundador da família, foi o primeiro dos grandes magnatas do comércio norte-americano, tendo começado como o filho de um fazendeiro pobre e terminado como multimilionário.

Cornelius possuía o instinto de fazer dinheiro. Ele agarrava suas oportunidades, oportunidades que no seu caso surgiram com aplicação da máquina a vapor no comércio oceânico e com o desenvolvimento do transporte ferroviário num rico mais ainda subdesenvolvido Estados Unidos da América. Conseqüentemente, acumulou uma enorme fortuna.

É evidente que hoje em dia não podemos todos seguir precisamente os mesmos passos tomados por este monarca das ferrovias. As oportunidades muito precisas concedidas a ele não aplicam-se a nós. Porém, embora não seja dessa mesma forma, podemos ainda assim, em nossa própria esfera de circunstâncias, seguir seus métodos gerais. Podemos agarrar as oportunidades que nos são concedidas, dando a nós mesmos uma chance muito real de obtermos riqueza.

É em declarações bizarras como essas que podemos ver com clareza o que está realmente por trás de todos os artigos e livros dessa natureza. Não se trata de mero negócio; não se trata nem mesmo de mero cinismo. Trata-se de misticismo, o horrendo misticismo do dinheiro. O autor dessa passagem não tem na verdade a mínima idéia de como Vanderbilt fazia o seu dinheiro, ou de como qualquer outra pessoa pode fazer o seu. Ele, porém, conclui suas observações defendendo um programa; e é um programa que não tem absolutamente nada a ver com Vanderbilt.

Tudo que o autor tencionava fazer era prostar-se diante do mistério de um multimilionário. Pois, quando queremos prestar verdadeira adoração a alguma coisa, amamos não apenas sua clareza, mas também sua obscuridade. Exultamos na sua invisibilidade. Assim, por exemplo, um homem apaixonado por uma mulher encontra prazer particular no fato de que as mulheres sejam incompreensíveis. Da mesma forma o poeta piedoso, ao celebrar o Criador, encontra prazer em afirmar que Deus age de modos misteriosos.

Ora, o autor dos parágrafos que citei não parece ter coisa alguma a ver com um deus, e não vejo qualquer evidência (diante da impraticabilidade de suas recomendações) de que já tenha se apaixonado de verdade por uma mulher. Mas a coisa que ele sem dúvida alguma venera – Vanderbilt – ele trata precisamente dessa maneira mística, deleitando-se no fato de que sua divindade Vanderbilt guarde dele algum segredo. E sua alma enche-se de uma espécie de arrebatamento de astúcia, um êxtase de clericalismo, quando ele finge estar revelando à multidão o terrível segredo que ele mesmo desconhece.

Falando do instinto que enriquece as pessoas, o mesmo autor observa:

Na Antiguidade a existência desse instinto era compreendida por completo. Os gregos reverenciavam a história de Midas, o homem que transformava em ouro tudo que tocava. Sua vida era um constante avanço em meio às riquezas: de tudo que aparecia no seu caminho ele criava o metal precioso. "Uma lenda tola", diziam os sabichões da era vitoriana; "uma verdade", dizemos hoje em dia.

Todos conhecemos homens como esse. Estamos constantemente encontrando ou lendo sobre gente que transforma em ouro tudo que toca. Cada passo dessas pessoas é marcado por sucesso. Suas vidas são uma trajetória infalível de ascensão. São incapazes de fracassar.

Infelizmente, no entanto, Midas era capaz de fracassar – e fracassou. Sua vida não foi uma trajetória infalível de ascensão. Midas morreu de fome porque quando tocava um biscoito ou um sanduíche de presunto eles se transformavam em ouro. Essa é na verdade a moral da história, embora o autor se veja obrigado a suprimi-lo, delicadamente, por completo – talvez por estar escrevendo tão perto do retrato de Lord Rotschild.

As velhas fábulas da humanidade são, de fato, insondavelmente sábias, mas não devemos ter parte do seu conteúdo expurgado a fim de proteger os interesses do Sr. Vanderbilt. Não devemos engolir o rei Midas sendo representado como exemplo de sucesso, quando foi um fracasso de natureza particularmente dolorosa. E tinha, além disso, orelhas de burro. E conseguia, além disso (e como muitas outras pessoas famosas e abastadas) esconder dos outros essa condição. Se bem recordo era apenas o seu barbeiro que tinha acesso ao conhecimento dessa peculiaridade; e esse barbeiro, ao invés de agir como o tipo de pessoa que persegue o Sucesso-a-todo-custo e chatangear o rei em troca do seu silêncio, foi e sussurrou esse escabroso escândalo da sociedade nas orelhas dos juncos, que deleitaram-se enormemente em sabê-lo. Conta-se que os juncos repassaram-no então aos ventos que os embalavam para frente e para trás.

Olho com reverência para o retrato de Lord Rothschild; leio com reverência sobre as façanhas do Sr. Vanderbilt. Sei que sou incapaz de transformar em ouro tudo em que toco; porém sei também que nunca tentei, tendo uma preferência pessoal por outras substâncias, coisas como grama e um bom vinho. Sei que essas pessoas sem dúvida obtiveram sucesso em alguma coisa; sei que sem dúvida sobrepularam alguém; sei que são reis num sentido em que nenhum rei jamais foi antes deles; sei que criam mercados e cavalgam continentes. Porém parece-me sempre que há algum pequeno fato doméstico que vivem escondendo, e penso por vezes ouvir no vento a gargalhada e o sussurro dos juncos.

Tudo que podemos esperar é viver o bastante para vermos esses absurdos livros sobre sucesso cobertos com o escárnio e o abandono que lhes cabe. Não ensinam as pessoas a serem bem-sucedidas, mas ensinam-nas a serem esnobes; conseguem alastrar uma espécie de poesia maligna de materialismo.

Os puritanos denunciam continuamente livros que inflamam a lascívia. O que deveríamos dizer dos livros que inflamam as paixões (mais vis) da ganância e do orgulho?

Há cem anos tínhamos o ideal do Aprendiz Esforçado. Dizia-se aos meninos que com frugalidade e empreendedorismo podiam chegar todos a Senhores da Nobreza. Era mentira, mas era uma mentira viril, e possuía um mínimo de verdade moral. Em nossa sociedade a temperança não irá ajudar um pobre a enriquecer, mas poderá ajudá-lo a olhar para si mesmo com respeito. Um bom trabalho não fará dele um homem rico, mas um bom trabalho fará dele um bom trabalhador. O Aprendiz Esforçado surgiu de virtudes que eram escassas e estreitas, mas ainda assim virtudes. Mas o que dizer do evangelho pregado ao novo Aprendiz Esforçado – o aprendiz que não ascende por meio de suas virtudes, mas declaradamente através de seus vícios?

G. K. Chesterton
All Things Considered (1909)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

CORRENDO ATRÁS DE BÊNÇÃOS, MAS FUGINDO DA CRUZ

(Marcos 8:34) - E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.
(Marcos 8:35) - Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.
(Marcos 8:36) - Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
(Marcos 8:37) - Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma?
(Marcos 8:38) - Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.


Não é novidade que o mundo está vivendo uma grande crise. Todos os dias nós temos notícias de grandes empresas falindo, gigantes da eletrônica no Japão, Mega empresas nos Estados Unidos, todas entrando em colapso.

Eu fico observando isso e vejo como as pessoas se comportam em relação à crise e faço um paralelo de como se comportam em relação a Deus.

As pessoas correm atrás das bênçãos, na tentativa de amenizar os efeitos da crise, de aliviar o sofrimento, seja ele físico, financeiro ou de ordem familiar.

O que tenho notado muito me entristece.

É só falar que tem bênçãos que as pessoas correm atrás.

Quantas pessoas estão correndo de um lado para o outro atrás de bênçãos.

a) Onde é prometido cura, lá estão as massas enfermas.
b) Onde é prometida prosperidade, lá está a multidão atrás do vil metal, demonstrando toda a sua idolatria.
c) Onde é prometida a solução dos conflitos familiares, lá estão pessoas que têm a família destruída.

Jesus, após ter multiplicado os pães e peixes, percebeu que a multidão vinha atrás dele por interesses e diz isso claramente:

(João 6:26) - Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes.

Na seqüência dessa história, tendo Jesus proferido um discurso considerado duro pelos ouvintes, diz o texto bíblico que muitos discípulos O deixaram e não quiserem mais saber de andar com o Senhor.

(João 6:66) - Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.

AS MASSAS CORREM ATRÁS DE JESUS POR INTERESSE, correm atrás de bênçãos, mas fogem do compromisso, fogem da cruz!

Jesus diz que aqueles que O querem seguir devem pegar a sua cruz e ir atrás dEle.

(Mateus 16:24) - Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;

Cruz nunca foi sinônimo de vida fácil, de prosperidade e de solução de todos os problemas.

Cruz é sinônimo de compromisso com o Cristo vivo! É sinônimo de preço que se paga por seguir Àquele que morreu na cruz!

O próprio Jesus diz que não é fácil segui-Lo. Diz que Ele mesmo não tem “onde reclinar a cabeça.”

(Mateus 8:20) - E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

Jesus fala das dificuldades até mesmo em família para aqueles que O querem seguir.

(Mateus 10:35) - Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
(Mateus 10:36) - E assim os inimigos do homem serão os seus familiares.
(Mateus 10:37) - Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.


Mas, é claro, também fala das recompensas.

(Mateus 10:40) - Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
(Mateus 10:41) - Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo.
(Mateus 10:42) - E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.


(Mateus 19:27) - Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?
(Mateus 19:28) - E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
(Mateus 19:29) - E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.
(Mateus 19:30) - Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.

O que podemos notar é uma “massa” que corre atrás de Cristo de forma interesseira, mas também há pessoas que estão completamente perdidas.

Em Mateus 9.36 está o seguinte comentário sobre o sentimento de Jesus em relação às multidões:

(Mateus 9:36) - E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor.

Há uma “massa” sem pastor. Seguem líderes que muitas vezes estão interessadas na lã das ovelhas e não no seu bem-estar.

Siga a Jesus não pelas bênçãos, mas por amor a Ele.

Pague o preço! Nada é melhor do que seguir a Jesus.

Por Fernando Lopes - www.cristonaweb.com.br

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Espritualidade fora da moldura.

Primeiramente, desejo a todos um excelente 2009.
Aproveitando o anúncio do banco, que 2009 seja um 200inove.
Inove em sua vida comercial, particular,espiritual, nos relacionamentos etc.

E nada como começar o ano já com um texto que chacoalhe nossas cabeças, nos encha de perguntas e confunda nossos paradigmas.

Mando um texto do Gondim, que me identifiquei muito com os sentimentos dele e com seus pensamentos.
Passei, ou melhor, estou passando por essa transformação, revendo meus conceitos que antes eram intocáveis sabe se lá porque.

O texto não traz muitas respostas e conclusões não, ao contrário, deixa as questões no ar, para provocar em cada um uma reação, e que cada um chegue ao seu veredicto. O que mais importa é nos fazer pensar.

Algumas idéias de respostas para estes profundos questionamentos eu encontrei lendo o livro "A cabana" de William P. Young, o qual pretendo escrever um post ou alguns posts sobre e por causa dele.

Vale a leitura e reflexão.

Feliz 2009.

PAZ!
Evandro L! Melo
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Espritualidade fora da moldura
Ricardo Gondim

Parecido com o Chico Buarque, posso dizer que meu pai era paulista, minha mãe cearense, meu avô paterno, cafeicultor do interior de São Paulo e o materno, comunista de Fortaleza. Papai era professor de história e agnóstico; mamãe, artista plástica e levemente cristã - temendo a morte, ela se converteu ao cristianismo em seus últimos meses de vida. Cresci católico, emigrei para a Presbiteriana e acabei pentecostal. Eu também “vou na estrada há muitos anos”.

Depois que inteirei 50 anos de vida, iniciou-se outro momento em minha peregrinação. Passei a questionar certas lógicas da religião que aceitava desde a adolescência. A princípio, inquietei-me com os valores éticos que percebia embutidos em diversas empreitadas missionárias. Depois, revoltei-me com a prepotência estadunidense na cosmovisão e colonialismo religiosos. De repente, os simplismos dos sermões me aborreceram. Mas o caldo entornou mesmo com as "Marchas para Jesus", com os teleevangelistas oferecendo milagre a granel e com falta de escrúpulos dos mercadejadores da fé de usarem os desvalidos para se autopromoverem.

Embora nenhuma dessas razões isoladamente fosse capaz de me fazer abandonar o barco do movimento evangélico, o sofrimento universal me esbofeteou, pedindo explicações que eu não conseguia dar.

Tudo começo quando caminhei pelas ruas de Mumbai (antiga Bombaim) e vi um mendigo, totalmente nu, deitado numa sarjeta. O pobre dormia na lama, mal respirando. Aquela cena me roubou o sono à noite, perturbou-me por meses depois que retornei ao Brasil, e ainda permanece na retina do meu espírito. O que as minhas lógicas diziam sobre a sorte daquele “outcast” não foram suficientes para acalmar a angústia que nascia em mim.

O primeiro pressuposto teológico que ruiu foi o da Providência. De acordo com esse alicerce calvinista, Deus determinou, na eternidade passada, todos os eventos, todos os detalhes do andamento do universo que ele criou. Com plena sabedoria, Deus não só estabeleceu, como preserva o que existe para que a sua vontade sempre se cumpra.

Foi aí que pensei: se todos os mínimos eventos foram predeterminados por Deus, aquele mendigo jaz na imundície porque esse foi o quinhão divino para ele. Continuei e levei às últimas conseqüências meu raciocínio: Aushwitz, Ruanda e todos os genocídios, também fazem parte da engrenagem providencial, e vão trazer maior glória a Deus na eternidade. A partir desse evento, passei a duvidar se o que resta à humanidade é repetir pela fé que “Deus sabe o que faz". Algo dentro de mim diz que não, mil vezes não.

Comecei a estudar a Teodicéia - Teodicéia é um termo inventado no século XVII para lidar com o impasse do sofrimento humano diante da onipotência de Deus. A palavra é composta por duas raízes gregas: theos, que significa Deus e dikaios, que significa justiça. Teodicéia, portanto, é uma disciplina da filosofia que procura entender como Deus pode ser ao mesmo tempo justo e bom frente a tanto sofrimento, num mundo que ele criou e do qual é soberano.

A Teodicéia tem como marco o tratado que Gottfried Wilhelm Leibniz escreveu para conciliar três afirmações distintas:

Deus é Onipotente.
Deus é amor – Ele ama com perfeição.
O sofrimento do mundo criado por Deus é pavoroso.

Há um paradoxo irreconciliável nestas três afirmações. Elas não podem ser simultaneamente verdadeiras. Se Deus é Onipotente, portanto, livre para fazer o que desejar, é capaz de encontrar meios de acabar com todo o sofrimento. Se Deus é perfeitamente amoroso, então não pode tolerar tanta crueldade, tanto horror, no universo. Ele é poderoso e bom, contudo, milhões padecem. Qual a solução?

Qual a explicação para o que aconteceu no Camboja? Por que Deus não interveio quando o regime de Pol Pot chacinava dois milhões de pessoas? Alguns morreram só porque usavam óculos. O regime considerava que pessoas que precisassem de óculos, também gostavam de estudar e eram intelectualizadas. Esses deviam ser eliminados porque podiam representar um perigo para a revolução.

Qual a lógica divina para permitir um disparate dessa magnitude, que destruiu tantas vidas? Por que Deus não mandou um mega desastre da natureza para impedir o avanço desse comunista maluco?

Conversei com um homem que recebeu a notícia de que o filho vai nascer com uma grave deformidade genética. Ele não entende porque Deus faz aquilo. Perguntou-me onde tinha pecado para merecer tamanho castigo e repetiu várias vezes que, se Deus tem tudo sob o seu controle, não consegue imaginar que tenha um propósito tão pesado para a sua família.

Nas articulações clássicas da teologia, esse menino virá ao mundo para cumprir um propósito (usa-se bastante um texto poético do Salmo 139 para afirmar que Deus tece cada detalhe do código genético das pessoas, inclusive as deformações graves). No instante em que escutei o relato desse pai, perguntei-me: Por que Deus, na eternidade passada, predestinaria uma criança a sofrer com uma deficiência tão profunda? Deus realmente pune a humanidade com tanta severidade só porque Adão e Eva morderam a fruta proibida? Será que Deus realmente “precisa” de uma deformidade genética para produzir maturidade em um casal?

Mas o que dizer de mais de um bilhão de pessoas no planeta que não tem comida suficiente? Será que a maldição de Deus alcança prioritariamente os pobres? Por que a cada cinco segundos uma criança morre desnutrida no Terceiro Mundo? O que Deus tem para ensinar aos brasileiros com o desprezo que produz mortes desnecessárias nos imundos hospitais públicos da periferia do Rio de Janeiro? - Devido à falta de remédios básicos, médicos são forçados a escolher quem vai ser tratado e quem vai morrer à míngua.

Já estou até esperando as ferroadas. Esses questionamentos mexem com vespeiros. “O problema do Gondim é que ele desconsidera a soberania de Deus”, dirão os calvinistas. Os pentecostais repetirão que ouso minar os atributos divinos. Alguns me considerarão um tonto por afirmar que a doutrina da Providência conduz inexoravelmente ao fatalismo.

Deixei de acreditar que Deus seja um tapeceiro que trabalha às escondidas, no lado do avesso do tapete. Também abandonei que o sofrimento universal veio como castigo pelo "pecado original". Não acho que o andamento da história tenha que ser do jeito que é por alguma razão ainda obscura. Creio que a história descarrilhou. Que a vontade de Deus não se cumpriu como ele desejava. Que a injustiça, a má distribuição da riqueza, a dilapidação dos recursos naturais, o abuso do poder econômico e o egoismo que se alastrou, não representam a vontade de Deus. A desgraça daquele mendigo não aconteceu por uma "vontade permissiva", mas por fatores conjunturais perversos que produzem dor no coração paterno de Deus.

Diante dos desmantelos da história, acredito que o Altíssimo interpela homens e mulheres para se tornarem seus parceiros, agentes transformadores da história, construtores do futuro e antecipadores do Reino.

Comecei a repensar o meu edifício teológico sem o determinismo ou fatalismo da teologia clássica - que acredito mais grega que judaica - e agora vou até o fim.

Penso, inclusive, que se teólogos não fizerem o dever de casa, não reverem os pressupostos de seus discursos, o dilema do sofrimento humano continuará esbofeteando o movimento evangélico. Pior, as explicações dadas vão deformar o que se entende como bondade de Deus. Enquanto isso, muitos semelhantes a mim, terão de construir uma espiritualidade fora da moldura.

Soli Deo Gloria.