quinta-feira, 24 de março de 2011

Canção desajeitada

Eu fiz essa canção desafinada
pra fazer você dormir
Não consegui
Eu fiz essa canção desajeitada
pra fazer você ninar
não deu em nada
E agora esta música vai ter
um lá-lá-lá
lá-lá-lá
eu só queria te ninar
lá-lá-lá lá-lá-lá
eu só queria te ninar

  Canção Desajeitada by evandrospfc 


Letra: Evandro L! Melo
Música: Rafael Bertolino

domingo, 20 de março de 2011

Visita esperada

Quando ela, a morte, apareceu em seu espelho, numa manhã de segunda-feira, fria e chuvosa, lhe pediu a vida, ele sem susto e sequer com palpitação no coração, encarou o espelho, a morte, e com desdém voltou-se a torneira aberta e ao processo de abrir a pasta de dente, colocar na escova, molhar rapidamente e levar à boca. Tudo tão automático que seria capaz de fazer aquilo dormindo, ou até, morto.

Irritada, a morte não se conformava, tão acostumada com o pavor que provocava quando aparecia, ao desespero de pessoas tentando se agarrar à vida. Mesmo aquelas que passara a vida toda sem viver. Uma ponta de frustração lhe veio à tona e irritada ela interveio:
- Ei, estou aqui, sou sua morte, vim lhe buscar.

Sem parar a escovação, no modo automático, ele levanta o dorso, encara o espelho com desdém e se volta ao seu processo. Cospe, leva água à boca, gargareja, cospe, lava o rosto e enfim encara pra valer o espelho.
- Sim, você é a morte. E?
- E? Venho para te buscar.
- Pff, não me venha com essa.

Não parecia preocupado, realmente não estava. Não como aqueles que de tão cínicos, mesmo em momentos de pânico sabem disfarçar e manter a cara mórbida de desdém. Fato era que ele pouco se importava.
Saiu do banheiro, sem dizer nada, deixando a morte com cara de tonta. Situação ímpar na vida dela. Ei, morte tem vida?! Continuemos.

Entrou em seu quarto, já sentindo o aroma do seu café sendo passado na cafeteira elétrica, programada para passar o café sempre no mesmo horário. Cumprindo seu ritual diário, roboticamente, foi retirando do guarda roupa calça, camisa, gravata, já sabendo que qualquer peça que pegasse combinaria, seu guarda roupa era uniforme, as roupas todas parecidas, assim, dizia, não precisava perder tempo se arrumando.

Atônita, ela desistiu de fazer cena de terror e decidiu ir conversar com o rapaz.
- Tenho que te levar. Para isso que eu vim, te acompanho a vida toda e hoje é o dia em que tenho que te levar.
- Não, não é.
- Olha, de nada adianta sua tentativa de se apegar à vida...
- Hein?! Olha tenho pressa, tenho que sair, pegar 2 horas de trânsito e chegar no trabalho. Vamos tomar café e conversamos por lá.
- É...humm, certo. Vamos.
Antes de sair, fica alguns instantes se encarando no espelho com cara de que não está entendendo nada. - Mas, que diabos?!

Como hipnotizado, enche sua caneca com café, pouco açúcar, nada para comer, apenas o café amargo, que era tomado todos os dias enquanto ele lia as notícias em seu celular.
- Tem café na cafeteira, sirva-se. - Disse quando ela chegou.
Se servindo, ainda não acreditando na situação em que se encontrava, ela foi dizendo:

- Amigo, hum, obrigado pelo café, mas olha, realmente eu vim lhe buscar. É assim que as coisas funcionam.
- Assim como? Perguntou sem tirar os olhos do celular.
- Assim, você ganha a vida, eu e ela te acompanhamos durante um tempo, ela tomando a frente, e chega o dia em que eu tomo o lugar dela, assim.
- Essa é a questão. Você sequer se importa com seu trabalho. Eu abdiquei da vida há muito tempo, sequer me lembro do último dia em que a senti, há tempos seu trabalho deveria ter sido feito e você não percebeu. Que bela morte você é. Tem como trocar?
- Você é muito insolente, sabe o que eu sou capaz de...
- De que? De me matar? Uhhh que medo. Acha que me importo?

- Você já me acompanha faz tempo, se não percebeu o problema está contigo e não comigo. Vida é que eu não carrego mais, faz tempo.
- Sugiro mantermos esta relação, você me acompanha sem me incomodar e eu não lhe incomodo. Temos um trato? O que acha?

Após alguns minutos de goles de café amargo, ela quebra o silêncio.

- Trato feito.

Iniciou-se uma relação de amizade. Todos os dias tomavam café e mantinham a rotina, que era qualquer coisa, menos vida.

Evandro L! Melo

terça-feira, 15 de março de 2011

Sou do tempo que

Sou do tempo que em noites quentes de verão ficávamos todas as crianças brincando na rua enquanto as mães conversavam nas calçadas. E lá se ia dez, onze da noite.


Em dias quentes que antecediam chuva então, os siriris saiam da toca e nós saíamos de casa. Potes de margarina ou vidros de maionese às mão, a caçar esses bichinhos nojentos.
Sou do tempo que nenhuma criança tinha joelhos sem uma casca de ferida.
Do tempo que ninguém sabia ou dava a menor importância para o colesterol, quanto mais saber a diferença entre eles. Do tempo que o tempo parecia mais lento.
Sou do tempo que já se ouvia a expressão "sou do tempo que..."
Ouvia dos mais velhos o quanto a infância deles sim, havia sido intensa. Eles sim apreciaram a vida, o mundo era mais calmo e as preocupações menores.

A verdade é que o mundo gira e com esses movimentos vai se transformando, sem pedir permissão ou sequer avisar que sua vida está passando, como um trem que não tem fim, que nunca para.
Sentados na estação, nossas vidas, sem pausas, vai passando na nossa frente e cada um faz para si a melhor imagem desse trem.
Cada vagão desse trem, que nunca para e que também não tem fim, representa um ciclo, um período da nossa vida. Os vagões da minha infância sem dúvida foram os mais belos até agora.
O mesmo vagão que passa agora é visto por diferentes olhos e perspectivas. É visto cinza por alguns adultos e cheio de cores vibrantes pelas crianças.
E nos bancos da estação, ouvem-se suspiros melancólicos "sou do tempo que esse vagão era colorido", enquanto uma criança pensa "uau, que cores incríveis".

Nada vai mudar o curso do trem, diminuir sua bruta velocidade ou sua sorrateira passagem, mas percebê-lo de uma forma bela certamente tornará sua passagem mais agradável.
Até chegar o momento em que o trem para, e é o fim de um ciclo, uma vida.

Evandro L! Melo

segunda-feira, 14 de março de 2011

...guiça

De preguiça o eco só repete:
- Iça, iça, iça.


Evandro L! Melo

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sonhei Soneto

sonhei em versos
dormi em prosa
acordei em rimas
vivo em páginas

dormi em rimas
sonhei em prosa
acordei em versos
vivo nos cantos

acordei em pranto
dormi ao verso
sonhei em vão

acordei em prosa
sonhei romance
vivo em soneto

Evandro L! Melo

Este soneto faz parte do tema "Sonhos"no Sobre Pensar.