sexta-feira, 7 de junho de 2013

ENCONTRO MARCADO...


…Marcado por ele, porque eu mesmo não me lembrava de ter pedido nada disso.

Foi essa semana, precisei fazer uma tomografia computadorizada. Sabe aquele exame em que te colocam em um lugar que não foi bem projetado para você caber nele? Algum engenheiro engraçadinho fez aquilo de propósito só para se divertir à custa do sofrimento alheio.
Pois lá estava eu, uma espécie de múmia moderna, nariz rente ao teto do tomógrafo, me concentrando para não dar espaço (rá espaço!) para a claustrofobia, quando ainda de olhos fechados escuto alguém entrar.
- Oi.
Puta susto! E eu sem nem poder me mexer pra não atrapalhar o exame e ter que repetir tudo de novo.
- Hein? Quem é você, mas como, ei...
- Calma ae, você que me chamou.
- Chamei? Quem é você, mas como que...
- Sou Deus, Pai, Emanuel, Jesus, Senhor, Rei {haha} e todos esses nomes que vocês vão me dando.
- Mas.. {caramba} comé que você, err o SENHOR...
- Chama de você, chega de frescura.
- ...Tá, comé que o Senh…Você cabe aqui dentro?
- O que é caber? Eu sou o eu sou, esqueceu? Eu não 'caibo', eu apenas existo.
- Mas tem a lei de Newton, você sabe, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço e bem, aqui mal há espaço para um.
- Eu sou além do espaço. Newton… Menino legal, mas muito obcecado pelo que apenas podia ver e tocar.
- Mas é que...
- Mas é que nada. Você me pediu esse encontro, vamos papear antes que o exame acabe.
- Ah então, eu não te chamei não, {Só se foi aquele dia que bebi um pouco a mais} chamei?
- Opa, eu não costumo aparecer sem ser convidado.
- …
- Você me chamou quando tinha 8 anos, chamou de papai do céu e tudo.
- E você só vem agora?
- Sempre é agora.
- Hein? Faz uns 22 anos isso, nem me lembrava mais. Tanto tempo pra você chegar. Agenda cheia?
- Tempo… Eu sou além do tempo. Sou eterno, esqueceu? Você que é preso ao tempo, não eu.
- E aquele papo de Einstein, relatividade, tempo-espaço...
- Ah, o Alberto. Sonhador, mais que Newton é verdade, mas ainda sim desconhecia o eterno. Bons meninos viu, se divertem juntos na eternidade.

Eu que nunca fui lá muito esclarecido, fiquei ainda mais confundido com tudo aquilo ali. Será que o pessoal (os sádicos que ficam na salinha te vendo sofrer de claustrofobia) estavam sabendo daquele encontro surreal? Ninguém vinha me buscar.
Aquilo durou horas, dias talvez. Queria dar uma olhadela no relógio para conferir, mas havia deixado no armário junto dos demais pertences, e mesmo que estivesse usando, não conseguiria mexer os braços.
Eu não podia me mexer e engraçado, não parecia estar mexendo nem a boca para falar.
E lá continuava ele, todo leve e solto, rindo, o que imaginei ser da minha cara de espanto.

- Quando foi que criou o mundo hein?
- Ontem. {hehe} O que é quando, rapaz?
- Caramba, não vou ensinar Deus. Vem cá, e essa monte de porcaria por aí? Violência, fome e...
- Ah,isso não é coisa minha não. Não me meta nessa, isso é coisa de vocês sabichões.

Rapaz, que liso que era esse simpático senhor. Senhor? Não era um senhor, era, era… Sei lá, não consegui definir, era tudo ao mesmo tempo que não era nada que eu conhecesse.

Eu queria, sabia que queria, papear sobre outras coisas, mas a cabeça parecia não funcionar bem. Tentava bolar alguma pergunta inteligente, mas nenhuma parecia ser.
Ia me esforçar mais um pouco até que fui interrompido pelo barulho de motor elétrico em funcionamento e o movimento repentino da maca, me puxando para fora daquele cú, ops, do tomógrafo.

- Bom meu amigo, foi bom papear contigo. Me chame sempre que quiser que eu apareço. - disse Deus enquanto a maca ia lentamente se movendo.
- Puxa, passou tão rápido. Não deu tempo de perguntar quase nada.
- {hehe} E você ainda preocupado com tempo e espaço.
- Grande abraço Deus, fica na paz e vai com… Com você mesmo {haha}.
- Pode deixar, e fica comigo {hehe}.
***

evandro l! melo
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