quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas.


A dúvida não só faz parte da vida, como faz bem ao viver. Desde que através das dúvidas, dos questionamentos, das incertezas, nós não nos afastemos de Deus, mas sim o contrário, que as dúvidas possam nos levar ainda mais a procurar Deus, a questionar Deus, a conhecer Deus.

Fiquem na Paz.
Evandro
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Fico abismado com a insinceridade de quem jura não ter dúvida alguma. Senti um bruto alívio quando espalharam que Madre Teresa de Calcutá conviveu com várias suspeitas sobre Deus e sobre o mundo espiritual.

Que privilégio perceber-me seu companheiro! Eu também hesito quando encaro o mistério da Divindade, os porquês do sofrimento humano, a morte, e tantas outras questões.

Aliás, sem pretensões vaidosas, Madre Teresa e eu não estamos sozinhos em nossas inquietações.

Davi balançou em diversas ocasiões. Quando assediado pela dor, clamou: “Senhor, por que estás tão longe? Por que te escondes em tempos de angústia? (Salmos 10.1).

Isaías titubeou por não conseguir entender o jeito como Deus tratava seu povo: “Senhor, por que nos fazes andar longe dos teus caminhos e endureces o nosso coração para não termos temor de ti? Volta, por amor dos teus servos, por amor das tribos que são a tua herança!" (Isaías 63.17.

Elias foi o mais ousado profeta da Bíblia hebraica. Desgastado pelo confronto com os profetas de Baal, escondeu-se numa caverna e passou a vitimar-se: “Tenho sido muito zeloso pelo SENHOR, o Deus dos Exércitos. Os israelitas rejeitaram a tua aliança, quebraram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada. Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me” (1Reis 19.10).

João Batista balançou sobre sua própria mensagem, mesmo depois de ter anunciado que Jesus era “O cordeiro de Deus”: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Lucas 7.20).

Depois da ressurreição, os discípulos conviveram com Jesus por quarenta dias. Aparentemente, esse tempo não bastou para dar-lhes uma fé inabalável. Na hora derradeira, antes de Jesus subir ao céu, eles ainda não estavam persuadidos de sua mensagem e de seu projeto. “Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram” (Mateus 28.17).

Portanto, cismar não é estranho aos crentes. Madre Teresa não sofre nenhum desdouro por expressar sua fragilidade espiritual, pelo contrário, suas inquietações só lhe engrandecem.

Madre Teresa foi uma mulher que lidou com a indigência mais absurda, com a miséria mais absoluta. Como fitar seres humanos numa situação de extrema penúria e não se abalar?

A aflição humana continua um mistério sem resposta. Por que Deus permite que em Calcutá pessoas vivam em condições mais degradantes do que os porcos de uma favela? Caso Madre Teresa tratasse sua missão profissionalmente, bastaria responder com um chavão fundamentalista.

Madre Teresa era frágil. Embora fosse uma batalhadora incansável, totalmente dedicada ao que fazia, agoniava-se como qualquer mortal; jamais tentou passar por imbatível.

É triste constatar que o mundo atual tenta fabricar super-heróis, pretensos semideuses, todos falsos e forjados pela cultura do narcisismo.

Madre Teresa foi apenas uma mulher que persistiu em sua obstinação de servir a Deus, mesmo assaltada por perplexidades. Isso só a torna mais digna. Caso trabalhasse movida por certezas, sua determinação seria menos honrosa.

Ao continuar debilitada pela dúvida, ela acançou a bem-aventurança que só pertece aos sinceros. Jesus ensinou a Tomé que quem vê e crê é feliz, mas, completou: “muito mais ditosos são os que não vêem e crêem” (João 20.29). Madre Teresa creu sem ver.

Graças a Deus porque, mesmo depois de morta, o testemunho dessa mulher ainda fala: ninguém precisa esconder suas inquietações, somos amados de Deus mesmo com falta de fé - "Senhor, ajuda-me em minha incredulidade" (Marcos 9.24).
Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim.

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