sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

Dia desses fui ao cinema assistir “Ensaio sobre a cegueira” filme adaptado do livro de mesmo título, escrito pelo português José Saramago, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.
O filme conta a história de uma epidemia de cegueira que contamina uma cidade, deixando grande parte da população cega de um dia para outro. Com a cegueira, essas pessoas são enviadas para um local isolado, em uma espécie de quarentena onde são abandonadas à própria sorte.
É nesse contexto que o escritor coloca à mostra, em carne viva, o quão frágil é nossa sociedade, o quanto não sabemos conviver uns com os outros, como somos mesquinhos, egoístas, egocentricos, o quanto somos cegos.

Vivemos num mundo de faz de conta, onde fingimos estar tudo bem, tudo na perfeita ordem, sem estress, e quando algo sai da rotina, quebra o silêncio da tranquilidade, não somos capazes de nos organizar e lidar com essa situação.

O filme permite diversas leituras e entendimentos, o que relato agora foi o que mais me marcou.

Me marcou porque mostrou o quão superficial nós somos, o quão cegos estamos aos acontecimentos do dia-a-dia de nosso mundo, do nosso país, da nossa cidade.

Como posso estar feliz e em paz comigo mesmo, me dizendo Cristão, sendo que existem pessoas passando fome, frio, morrendo. Como posso me dizer Cristão e ainda estar em paz, apesar de tudo isso?

Lembro de uma pregação que ouvi recentemente de um pastor muito querido, que falava sobre a passagem do evangelho onde Jesus, que estava entre a multidão, ouve chamarem por seu nome. Eram dois cegos, que clamavam por ajuda ao mesmo tempo em que a multidão os mandava ficar quietos. Jesus então parou seu caminho e movido de íntima compaixão voltou até eles e os curou. (Mateus 20:30-34).

Qual seria nossa reação? Qual é nossa reação?
Qual é nossa reação quando vemos o menino vendendo drops no semáforo?

Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo drops no sinal pra alguém Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo drops no sinal pra alguém ...”(Relampiano – Lenine).

Estamos cegos e não percebemos. Estamos cegos como indivíduos e como igreja. Diria até que principalmente como igreja.

Jesus andava entre podres, mendigos, prostitutas, leprosos. Amava e vivia por esse povo, o povo necessitado. Como mandamento disse “amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesmo”. (Marcos 12:30-31)

Como ensimanento disse: “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.... quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim”. (Mateus 25: 31-46).

Vejo a igreja hoje mais preocupada com protocolos e costumes do que com os pobres e necessitados.
Vivemos um evangelho engomadinho, de pessoas bem vestidas, pessoas cultas, templos bem cuidados, som impecável e nenhum ou quase nenhum cuidado com as pessoas que realmente precisam do amor de Cristo.

Se você frequenta uma igreja, faça esse teste, durante o culto procure por algum mendigo, criança de rua, procure por alguém pobre a sua volta... não achou ninguém? Agora pergunte a si mesmo, isso está correto?

Vivemos um cristianismo “domingueiro”, esquecemos de pôr em prática tudo o que aprendemos através dos ensinamentos de Jesus.

- “ ...estou cego.
Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana...

O trecho acima, retirado das primeiras páginas do livro, relatam o momento em que o homem percebe-se cego. Nada indicava que estava, a íris apresenta-se nítida, luminosa, nada dava a impressão da cegueira.

Que Deus posso nos abrir os olhos enquanto há tempo.

PAZ!


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