segunda-feira, 15 de agosto de 2011

De corpo e alma

Parece-me que para ser bem sucedido neste mundo é preciso estar de corpo e alma no negócio. Seja este qual for.

Dedicar-se, priorizar e focar naquilo que você acredita e mergulhar fundo nestas águas, de corpo e alma.

O dilema, ou a crise para aproveitar a palavra do momento, é justamente a unidade necessária de corpo e alma.
Ou estes dois caminham juntos ou temos uma crise de identidade e identificação com o mundo e tudo que o abrange.

Esta crise se inicia para mim quando me dou conta que sou Cristão. Quando acordo, abro os olhos ainda sonolento e me dou conta que realmente creio que meu Deus criador cuida de mim e que sou seu filho.
Isto porque não me é possível escolher ou selecionar no que eu quero crer e seguir. Ou é tudo ou é nada. O meio termo, o "em cima do muro" não parecem definições de Cristianismo.

E segregar este casamento do corpo e alma é uma atividade dolorosa que requer habilidades cínicas e maestria em enganar-se, mentir a si mesmo.

É preciso certo nível de cinismo para acordar cedo, vestir-se adequadamente, apertar a gravata, tomar o café enquanto acompanha o jornal, seguir em seu carro por um longo período de tráfego, chegar na empresa e dedicar-se o dia todo ao trabalho, se não estiver envolvido de corpo e alma nisso. Também é preciso alto nível de cinismo para entender que isso faz parte da vida do homem, mesmo os que se dizem Cristãos, e que o evangelho cabe nas reuniões de Domingo.

A questão é que se torna difícil enganar-se quanto a isso, quando se tem, breve que seja, contato com as escrituras e portanto passando conhecer a filosofia do Mestre, que priorizava os pobres, os excluídos... Andava em meio ao povo, não se curvava frente ao sistema e não se deslumbrava com poder e riquezas.
Difícil conciliar corpo e alma, quando o corpo quer conforto e alma quer o bem ao próximo. Tarefa árdua fazer com que andem em paz, corpo e alma, quando o corpo é vaidoso e a alma quer vender tudo e seguir ao Mestre.

Como fazer com as mensagens de "olhai os lírios do campo e as aves do céu" se o corpo é ansioso e quer bastar-se em si mesmo, quer dirigir a própria vida?

Sem o cinismo e o sarcasmo é impossível levar essa vida ambígua e perversa, de traição ao corpo e a alma.
Como posso enganar a rotina maçante do dia-a-dia fazendo-me parecer estar de corpo e alma presente, se somente o corpo está lá, enquanto a alma voa longe?
E de igual forma, como posso trair minha crença e meus princípios se somente a alma está lá presente? O corpo já cansado pela rotina, pouco faz em acompanhar.

Parece-me que ser Cristão é viver na pele o dilema de Hamlet, "ser ou não ser, eis a questão".

Um comentário:

Lais disse...

Evandro, tenho acompanhado seu trabalho no "sobre pensar" e este texto me fez enxergar toda a sua sensibilidade. Que Deus continue te usando e que nosso corpo e nossa alma tenham, juntos, anseio de viver pra Deus.