sábado, 11 de agosto de 2012

Os famosos Ninguém


Existem fenômenos estranhamente rotineiros, cíclicos que podem até acontecer em outros lugares também, mas no Brasil já se tornou um padrão.

Fantasmas vivos, pessoas invisíveis à nação, tem a estranha mania de ganhar nomes e virar referência de tempos em tempos. Mais precisamente de quatro em quatro anos.

Pessoas que buscam, com recursos escassos, seus sonhos. São esportistas sem qualquer bom incentivo, a maioria sem qualquer incentivo, que precisam primeiramente tomar a decisão mais difícil de todas, se dedicar ao esporte que ama e tem talento ou ir em busca de sustento para si e a família.

Pessoas que se tiverem nome é José Ninguém, da Silva provavelmente.

Acontece que algumas vezes esses fantasmas, Josés Ninguém conseguem chegar lá, chegam às Olimpíadas, realizam um sonho pelo qual tanto lutaram, sozinhos.

E magicamente ganham nome, não só ganham nome próprio, de estrela, mas viram uma referência. São os representantes da nação! Verdade que só o são aqueles que chegam às finais, que lutam por medalha.
Sim porque chegar aos jogos olímpicos não basta para darem algum orgulho à nação, é preciso medalhas.

"Fulaninho de Tal é Brasil nas Olimpíadas" diz o entusiasmado narrador. Aquele mesmo que pouco antes teve de ser "briefado" sobre quem era aquele estranho vestindo verde e amarelo, qual sua história, de onde vinha.

Nesses tempos de boa memória, em que a nação 'lembra' os nomes desses fulaninhos, toda a mídia fica sensibilizada com tantas histórias dramáticas. O Carinha de ouro, cujo pai fabricava as argolas de madeira para que o filho treinasse. O Fulaninho de prata que treinava em condições precárias com o pai boxeador. E os Datenas espalhados por todos os canais, choram as histórias tristes na TV e convencem os espectadores. 

E os amarelões? Sim, alguns desses fantasmas, Josés Ninguém, tem a péssima mania de não darem orgulho à Nação que tanto apoia, de tempo em tempo. Tropeçam, caem, falham. "Ah, esse sujeito que eu mal sabia o nome, cujo qual eu desconheço o que faz no dia a dia, cujo qual eu ignoro as condições de treinamento, chega às olimpíadas e dá esse vexame, uhhhh, amarelão!".

E como todo o fenômeno cíclico, chega e logo vai embora, não dá um mês e logo todos os candidatos a heróis, representantes de toda uma Nação que não o apoia, voltarão para à sombra do país de um esporte só.

É preciso ser muito herói para sobreviver como fantasma Zé Ninguém no intervalo de silêncio, entre um grande evento e outro.

evandro l! melo

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