domingo, 13 de janeiro de 2013

o sapo, o cavalo e a capela



É noite, o frio acompanha o vento suave farfalhando as folhas das árvores negras e cumpridas, em movimentos que se repetem.
Lá estou eu, incomodado. Estranho ao lugar mas parecendo já ter estado lá.
A chuva não tarda, logo chega de mansinho, em forma de garôa, e ganha força ao vento, vindo direto em minha direção.
Ando um pouco mais, sem saber o caminho certo, mas sem temer. Apenas um incômodo me acompanha.
Ouço o som de água caindo, se chocando em pedras duras. Logo avisto a cachoeira, uma bela cachoeira de águas espumantes.
O incômodo num ímpeto aumenta e a bexiga dá seu aviso. Preciso me aliviar.
- Não tem ninguém por perto, será aqui mesmo. - penso comigo. E continuo:
- Ei, não pode ser.Estranho. Nunca vim a este lugar e ele não me é estranho. Isso…Isso é um… Será?!Como saber?
Pergunto a um sapo, que sem me dar conta acaba de surgir.
- Ei como saber se isto é um sonho?
- Oras é fácil. - Mal termino de falar e o danado me atira uma pedra. Me acerta a perna. Dói.

Antes que eu chegue à conclusão, a dor me tira daquela floresta.
Me percebo então em um deserto, faz calor e está cercado de areia por todos os lados.
O ar seco me tira o fôlego, me seca a garganta.
- Preciso de água. - É só dizer que o incômodo dá sinal de vida.
Continuo andando e explorando confiante um lugar desconhecido mas ao mesmo tempo natural a mim.
Não demora e a garganta seca novamente. Penso em água. Sinto o incômodo. Droga!
Sigo andando e finalmente encontro algo além do nada. Uma velha casa de madeira, um cavalo amarrado ao chão e uma banheira cheia d'água onde o pangaré se refresca. A bexiga reclama.
- De novo não.
Olho para os lados. Ninguém por perto.
- Ah, vai ser aqui mesmo.
Me preparo e...
- Ei, tem certeza que isso não é um sonho? - Me pergunta o cavalo malhado.
- Como saber? Como saber? - pergunto balançando a perna, impacientemente.
Já devia esperar. Recebo um coice, na outra perna.
- Ai, que dor!

A dor dessa vez me leva de volta pra casa. Me percebo na minha cama. Sim é um sonho. Bons amigos o Sapo e o Cavalo. Me acertaram doído, mas obrigado. Talvez uma coceguinha bastasse, mas obrigado.
Sem perder mais tempo, me levanto e corro ao banheiro. Está diferente, devia ser o sono e a tremenda necessidade de fazer xixi, que aumenta cada vez mais. Não resta mais tempo, mas… Melhor não confiar, aplico um beliscão no braço esquerdo. Forte e giratório.
- Aaaai.
Dói pacas e mesmo com a dor, eu continuo no mesmo cômodo.
- Doeu e continuo aqui. Não é um sonho. - concluo.

Sem pestanejar nem mais um tanto, deixo a bexiga feliz. Olho pra cima curtindo aquele momento bom de deixar a bexiga feliz.
- Mas que estranho, meu banheiro nunca teve o teto da capela Sistina.
- Ah não! Ah não!

Acordo no meu quarto, com três hematomas e todo molhado.

evandro l! melo
@evandrolmelo

ilustração: Uiara Frabetti d'Melo

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