segunda-feira, 11 de março de 2013

minha vó previu o skype


Pessoas pertencem ao tempo ou é o tempo que pertence às pessoas?
Em alguns casos parece que nem um nem outro. Vira e mexe nasce alguém que é além de seu tempo. Cabeça diferente, atitude, humor e por aí vai.

Conheço uma pessoa assim, para ter uma idéia (e só uma para esta crônica) ela foi capaz de prever o skype muito antes dos computadores serem utensílios domésticos comuns. Aliás muito antes de saber o que era um computador. Essa pessoa é minha Vó Luiza, mãe de meu pai e mais 8, que hoje conta com 83 anos de Vida (com V maiúsculo). Uma pessoa incrível, cheia de bom humor e teimosia. Forte, não é de reclamar a toa (nem com motivo), trabalhadora e batalhadora. Religiosa, era capaz de ser super conservadora em alguns assuntos ao mesmo tempo que aconselhava os netos, "tenha 2 namoradas, porque quem tem 2 tem 1, quem tem 1 não tem nenhuma". (Ah Vó, se a Sra soubesse como era difícil conseguir uma).
A casa da Vó Luiza era o destino de férias de quase todos os netos, e todos de uma vez, e somos muitos! Uma casa simples mas espaçosa em Mauá, cidade próxima ao Grande ABC, São Paulo.

Estávamos nos anos 80, e eu era apenas uma criança que se deslumbrava com os adultos cheios de histórias. Não tenho a menor dúvida que a década de 80 foi a melhor década para ter sido criança, e como nasci em 1981, aproveitei bem ela. Não existia medo, brincávamos na rua até tarde. Vôlei de rua, quem se lembra? Passava um carro, erguia-se a rede que era presa em árvores uma em cada calçada, e logo recomeçava a brincadeira. Mãe da rua, pula mula, esconde-esconde, pega-pega, mestre mandou, vixe… Tô até perdendo a idéia do texto… Vamos lá.

Me lembro bem do dia em que minha Vó Luiza mandou um "chupa Steve Jobs" e previu o Skype e a Telefonia IP. Vale o parêntese de que minha Vó não terminou nem o estudo básico.
Estávamos falando ao telefone, eu devia ter 7 anos, conversa vai conversa vem e ela fala que um dia falaremos no telefone vendo um ao outro.
- É? - perguntei intrigado.
- É, lá no Paraguai já deve existir um telefone com televisão onde conversamos e vemos um ao outro. - Respondeu cheia de sabedoria (aposto que ela tinha acabado de inventar aquele casamento da TV com o telefone).

Naquele tempo quem conhecesse o amigo do amigo que tinha um pai que um dia foi pros EUA era a sensação da escola.
"Como é lá, ele falou? - O que tem lá? - Quanto custa as coisas lá? - O que o pai dele trouxe?"
Para a maioria dos meninos, ouvíamos falar apenas no Paraguai, que na minha imaginação era um país longe da gente, exótico, com tecnologia sequer imaginadas, uma Disneylandia dos cacarecos sensacionais.
E era lá, no Paraguai onde todas as idéias que ainda não existiam, deviam estar.

O tempo (que não nos pertence) passa e com ele vai toda a inocência dos anos 80. Chegaram os computadores, as novas tecnologias, a tal da Telefonia IP e o Skype. E o Paraguai já não é tão distante, menos ainda um Vale do Silício latino.

Mas minha Vó Luiza, essa só fez melhorar.

evandro l! melo
@evandrolmelo

Um comentário:

Cristo na Web disse...

Evandro, fico impressionado com seus textos, realmente é um dom Divino..
Parabéns, que Deus o conserve sempre inspirado entre outras bênçãos..