terça-feira, 30 de outubro de 2007

Adoração na igreja evangélica contemporânea

Um fato que me traz boas lembranças, é quando eu morava no Paraná e frequentava a Ig. Batista local, havia um senhorzinho, muito simpático, que vez ou outra pedia ao Pastor um tempo no culto para louvar a Deus. O Pastor Joel, sabiamente sempre permitia. E lá ia o tiozinho com o Cantor Cristão em mãos, sem nenhum acompanhamento musical nem nada, só sua voz, e confesso não era das melhores. Para o ouvido da maioria, ele era desafinado, não cantava bem. Mas era de uma pureza, uma sinceridade, de uma adoração profunda, que tenho certeza, Deus se alegrava muito em vê-lo ali louvando. Eu ao contrário da maioria dos presentes que se olhavam e riam, sentia ali um momento santo, eu percebia ADORAÇÃO ali presente.
Fico muito frustrado quando vejo nas igrejas, na maioria das igrejas, uma busca pelo "perfeito", pela técnica, ensaios e mais ensaios para deixar tudo tinindo, mas que esquecem do principal, a adoração.
Não que eu não ache que Deus mereça o nosso melhor, Ele merece, mas Ele se alegra infinitamente mais quando é um louvor verdadeiro, seja qual for o talento.

O texto abaixo, é um pouco longo mas vale a pena ler, fala sobre isso, sobre o quanto estamos perdendo em LOUVOR, enquanto corremos atrás de agitar o povo, de aperfeiçoamento técnico, de músicas da moda, etc.
Fiquem na PAZ!
Evandro

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Há dois tipos de música: a boa e a ruim, seja ela
erudita, mpb, sertaneja, reggae, rap, rock ou gospel. O
que me surpreende é a capacidade do mercado absorver
música ruim. Com a proliferação de compositores,
interpretes, bandas e gravadoras o cenário evangélico não
poderia ser diferente. Tem música boa, mas também tem
muita música ruim.
Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da
Reforma, bastava um hinário, e tínhamos uma música com
letras densas, boa teologia e linha melódica harmoniosa.
Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão,
jogamos fora os hinários, a liturgia, aposentamos o piano
e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o
data-show, as coreografias e a aeróbica. Surgiu também a
figura do dirigente do louvor, responsável para animar a
congregação. Daí para frente têm muito barulho, muitas
palmas, muitas mãos levantadas, muitos abraços, muitas
caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é:
temos adoração?
O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração
na igreja de milhares de jovens que, atraídos pelas
bandas e pela euforia dos cultos, enchem os templos.
Trata-se de uma oportunidade única para ensinar estes
jovens, através do exemplo e da Palavra o caminho do
discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes
jovens crescendo na santidade e no serviço?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da
Broadway. Músicos profissionais, cenários, bailarinos,
iluminação chegam a rivalizar com os shows de artistas
conhecidos. A idéia é que uma produção caprichada com
interpretes competentes gera uma verdadeira adoração.
Novamente fica uma pergunta, toda esta parafernália
cênica tem levado o povo de Deus a uma genuína adoração?
A história da Igreja é rica em manifestações artísticas.
Ao longo do tempo o louvor foi expresso através de várias
expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os
hinos da Reforma, o negro spiritual e os cânticos
contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao
longo destes últimos séculos.
Trata-se, portanto, de um equivoco jogar fora toda a
herança histórica e achar que esta geração descobriu a
forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista
musical veremos que a história nos legou uma herança
preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita música
ruim, muita letra questionável, e muito dirigente de
louvor que mais parece um animador de auditório.
A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o
antigo e o novo e integrar na adoração tudo que há de bom
na sua herança histórica. Tem muita gente já cansada do
louvorzão barulhento de letras rasas, de bandas que tocam
no último volume, das coreografias esvoaçantes e das
ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente, de
trás e do lado dizendo que o amamos. É constrangedor
abraçar alguém e dizer que o amamos quando sequer o
conhecemos.
A igreja perde quando o dirigente do louvor, o data-show,
a coreografia e os solos de guitarra se tornaram mais
importantes do que o cântico congregacional. Ou seja,
quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para
o palco. Com raras exceções a música é ruim, a letra não
tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia
reformada e a performance no palco é apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa
de auditório e não cultiva mais a boa música com cordas,
sopros, bons arranjos, corais, quartetos. Mas a igreja
perde muito mais ainda quando a adoração se torna um
evento estimulado sensorialmente e não uma melodia que
emerge de um coração quebrantado e temente a Deus.
Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre, reverente
àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo aconteceu,
algo nos foi revelado, e não o contrário como pensam
alguns: que é porque adoramos que recebemos a revelação e
as coisas acontecem.
A igreja perde quando não há reverência ou temor, o que
resta é euforia, excitação e sensações prazerosas. O que
é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração.
É um equivoco pensar que Deus se impressiona com nossos
cultos de domingo. Ao contrário, Ele acolhe muito mais
nossos gestos simples do quotidiano, frutos de um coração
humilde e quebrantado, que busca se desprender de
ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração não é
um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de
vida que glorifica ao Senhor.
Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais
destinou o balcão posterior para o coro, o órgão e a
orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se
posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao
lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado.
No centro havia, quando muito, alguns símbolos da fé que
ajudam a despertar a consciência para a experiência do
sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. Era a
congregação face ao altar de Deus, nada se interpondo
entre a Santa Presença e a congregação. Este lugar só
pode ser ocupado por Jesus Cristo, ele é o único
mediador, ele é o único que pode dirigir o louvor.
Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o
dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos
levando de volta à Antiga Aliança quando sacerdotes e
levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A
conseqüência é uma geração de crentes que dependem de
homens, coreografias e data-shows para adorar e para
ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e
mulheres a dependerem do Espírito Santo para seguirem a
Cristo que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e
mulheres a crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e
no amor, integrando adoração, oração e leitura das
Escrituras no seu quotidiano.
A contextualização se tornou uma armadilha na qual a
igreja caiu, na sua tentativa de se identificar com o
mundo ela ficou cada vez mais parecida com mundo. A
cultura gospel é auto centrada, materialista, se acha
dona da verdade, tornou-se uma religião que nos faz
prosperar, que não nos pede para renunciar a nada e que
resolve todos nossos problemas. Há um abismo colossal
entre a cultura gospel e o Evangelho de Jesus Cristo, que
nos chama a amar sacrificialmente o nosso próximo, a
cultivar um estilo de vida simples, a integrar o
sofrimento na experiência existencial e a ter a humildade
de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há
algum tempo. Pensei que estas coisas só aconteciam em
certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las
no papel, foi ter participado de um culto numa igreja
Batista da Convenção.
Osmar Ludovico da Silva

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