quarta-feira, 18 de junho de 2008

Se Deus é bom, porque existem maldades no mundo?

Amigos, esta mensagem do Ed René me abençoou de uma maneira inexplicável e com certeza poderá te abençoar também.
Consegui achar um resumo da mensagem em texto, segue abaixo, mas a mensagem em áudio é muito mais completa e muito boa.
Recomendo a todos que leiam o texto e ouçam a mensagem, com certeza irá acrescentar muito à sua vida cristã.

Para baixar a mensagem em áudio, clique AQUI.

Fiquem na PAZ


Teodicéia

Ed René Kivitz.

Acho que Epicuro foi quem formulou a questão a respeito da relação
entre a onipotência e a bondade de Deus. A coisa é mais ou menos
assim: se Deus existe, ele é todo poderoso e é bom, pois não fosse
todo-poderoso, não seria Deus, e não fosse bom, não seria digno de
ser Deus. Mas se Deus é todo-poderoso e bom, então como explicar
tanto sofrimento no mundo? Caso Deus seja todo-poderoso, então ele
pode evitar o sofrimento, e se não o faz, é porque não é bom, e
nesse caso, não é digno de ser Deus. Mas caso seja bom e queira
evitar o sofrimento, e não o faz porque não consegue, então ele não
é todo-poderoso, e nesse caso, também não é Deus. Escrevendo
sobre a Tsunami que abalou a Ásia, o Frei Leonardo Boff resume: “Se
Deus é onipotente, pode tudo. Se pode tudo porque não evitou o
maremoto? Se não o evitou, é sinal de que ou não é onipotente ou
não é bom”.
Considerando, portanto, que não é possível que Deus seja ao mesmo
tempo bom e todo-poderoso, a lógica é que Deus é uma
impossibilidade filosófica, ou se preferir, a idéia de Deus não faz
sentido, e o melhor que temos a fazer é admitir que Deus não existe.
Parece que estamos diante de um dilema insolúvel. Mas Einstein nos
deu uma dica preciosa. Disse que quando chegamos a um “problema
insolúvel”, devemos mudar o paradigma de pensamento que o criou.
O paradigma de pensamento que considera o binômio
“onipotência/bondade” como ponto de partida para pensar o caráter
de Deus nos deixa em apuros. Existiria, entretanto, outro paradigma
de pensamento? Será que as palavras “onipotência” e “bondade” são
as que melhor resumem o dilema de Deus diante do mal e do
sofrimento do inocente? Há outras palavras que podem ser colocadas
neste quebra-cabeça?
Este problema foi enfrentado por São Paulo, apóstolo, em seu debate
com os filósofos gregos de seu tempo. A mensagem cristã era muito
simples: Deus veio ao mundo e morreu crucificado. Pior do que isso:
Deus foi crucificado num “jogo de empurra” entre judeus e romanos,
isto é, diferentemente dos outros deuses, o Deus cristão foi morto
não por deuses mais poderosos, mas por homens. Sendo Deus,
jamais poderia ser morto por mãos humanas, e sendo o Deus
onipotente, jamais poderia nem mesmo ser morto. Paulo, apóstolo,
estava, portanto, diante de um dilema semelhante ao proposto por
Epicuro: Deus era uma impossibilidade filosófica.
Foi então que os apóstolos surgiram com uma resposta tão genial que
os cristãos acreditamos que foi soprada pelo Espírito Santo: antes de
vir ao mundo ao encontro dos homens, Deus se esvaziou da sua
onipotência[i], isto é, abriu mão do exercício de sua onipotência, e
por amor[ii], deixou-se matar por eles[iii]. (Eu disse que “Deus
abriu mão do exercício de sua onipotência”, bem diferente de “Deus
abriu mão de sua onipotência”).
O apóstolo Paulo admitia que não era possível pensar em Deus sem
considerar o binômio bondade/onipotência. Optou pela palavra amor,
assim como o apóstolo João, que afirmou “Deus é amor”[iv]. Jesus
de Nazaré foi Deus encarnado na forma de Amor, e não Deus
encarnado na forma de Onipotência.
Isso faz todo o sentido. Um Deus que viesse ao encontro das pessoas
em trajes onipotentes chegaria para se impor e reivindicar obediência
irrestrita, impressionando pela sua majestade e força sem iguais.
Jung Mo Sung adverte que “a contrapartida do poder é a obediência,
enquanto a contrapartida do amor é a liberdade”. Também assim
pensou o apóstolo Paulo, ao afirmar que o que constrange as pessoas
a viver para Deus é o amor de Deus (demonstrado na morte de Jesus
na cruz)[v], e nunca o poder de Deus.
Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao decidir criar o ser humano
à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um
relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a
liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de
ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada.
Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá
liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor
que se lhe quer dar.
André Comte-Sponville é um ateu confesso (sei que vou levar
pedradas) que discorre a respeito do amor divino como poucos que já
li. Acredita que o amor divino é um ato de diminuição, uma fraqueza,
uma renúncia. Usa os argumentos de Simone Weil: “a criação é da
parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de
renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho.
Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou de si uma parte do ser.
Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz
que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus
permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo
infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo,
como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus
negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar
por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância
voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência
aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a
verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande
Revelação. As religiões que representam a divindade como
comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas.
Mesmo que monoteístas, são idólatras” [vi].
Você já imagina onde quero chegar. Isso mesmo, entre a onipotência
e a bondade de Deus existe a liberdade do homem, e o compromisso
de Deus em respeitar esta liberdade. Isso ajuda a entender porque
existe tanto sofrimento no mundo. O mal não procede de Deus e não
é promovido ou determinado por Deus. O mal é conseqüência
inevitável da liberdade humana, que teima em dar as costas para
Deus e tentar fazer o mundo acontecer à sua própria maneira. Diante
do mal e do sofrimento, o Deus com os homens, encarnado em Amor,
também sofre, se compadece, tem suas entranhas movidas de
compaixão[vii].
Mas você poderia perguntar por que razão Deus não acaba com o
mal. Isso é simples: Deus não acaba com o mal porque o mal não
existe, o que existe é o malvado. O mal não é uma entidade ao lado
de Deus. O mal é o resultado de uma ação humana em afastar-se do
Deus, sumo bem. O monoteísmo cristão afirma que há um só Deus, e
que o mal é a privação da presença de Deus. Os cristãos não somos
dualistas que postulamos a existência do bem e do mal. O mal é
apenas a ausência do bem. Por isso, o mal não existe, o que existe é
o malvado, aquele que faz surgir o mal porque se afasta de Deus, o
supremo e único bem.
Ariovaldo Ramos me ensinou assim, e completou dizendo que “para
acabar com o mal, Deus teria que acabar com o malvado”. Mas,
sendo amor, entre acabar com o malvado e redimir o malvado, Deus
escolheu sofrer enquanto redime, para não negar a si mesmo
destruindo o objeto do seu amor. Por esta razão Deus “se diminui”,
esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos
de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com
base no amor, fazendo nascer o sol sobre justos e injustos[viii], e
mostrando sua bondade, dando chuva do céu e colheitas no tempo
certo, concedendo sustento com fartura e um coração cheio de
alegria a todos os homens[ix].
É uma pena que Epicuro não tenha lido os apóstolos cristãos, e nem
tenha assistido às aulas de Jung Mo Sung.
____________________
[i] Carta aos Filipenses 2.6-8
[ii] Evangelho de João 3.16
[iii] Atos dos Apóstolos 2.23
[iv] Primeira Carta de João 4.7
[v] 2Coríntios 5.14,15
[vi] Comte-Sponville, André, Pequeno tratado das grandes virtudes,
São Paulo: Martins Fontes, 1995, Capítulo 18: Amor.
[vii] Evangelho de São Mateus 9.36; 14.14
[viii] Evangelho de São Mateus 5.44,45
[ix] Atos dos Apóstolos 14.17
Uma colaboração de ÁLVARO DE AMORIM GARCIA XIMENES.

Um comentário:

Anonymous disse...
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