sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A pobreza tem fim?



Teria fim a pobreza? Tem solução para a destruição social chamada pobreza?

Pensar em consertar o mundo e dar fim a esta triste realidade é utopia, mas atuar para fazer diferença no mundo e transformar nem que seja uma gota dos 7 mares em água doce potável não.

Não só não é utopia como é nosso dever. Nosso dever como cidadão e mais ainda nosso dever como cristão. Não estou aqui me referindo às estúpidas divisões dentro do cristianismo, a qual erroneamente chamamos de religião e igreja, mas sim da filosofia, ética e forma de viver a qual Jesus tentou nos ensinar.

Como descreve bem o post "Por que desisti de servir os pobres", o qual considero uma excelente provocação à reflexão, pobreza vai além da pobreza material, existem muitos pobres abastados.

Mas quero focar neste momento na probreza material, e quando digo material, me refiro a recursos básicos como alimentação, saúde, segurança etc.

A probreza social funciona como um ciclo vicioso, este ciclo se repete e se renova a cada dia. A criança que trabalha vendendo drops nos semáforos e que sentimos compaixão e dó, um dia se tornará o adolescente que "ameaça nossa segurança" e que tememos e mais tarde o adulto que explora o filho vendendo drops nos semáforos e que sentimos tanta raiva.

"tá relampiano, cadê Nenem, tá vendendo drops no sinal pra alguém..."

Este ciclo não terá fim a menos que algo, algum evento o interrompa e mude sua direção. Quando generalizamos e falamos neste ciclo social, nào conseguimos ver solução, mas trazendo isto para mais perto de nós, olhando mais no detalha percebemos que este ciclo acontece de forma individual, acontece com famílias distintas e se com ações corretas estas famílias podem ser ajudadas, podem ser salvas.

"todo dia é dia, toda hora é hora, Nenêm não tem hora pra se levantar, mãe lavando roupa, pai já foi embora, e o caçula chora pra se acostumar, com a vida lá de fora do barraco, há que endurecer um coração tão fraco..."

Para as estatísticas certamente não irá representar grande coisa, mas para aquela criança, adolescente, adulto, para a família atingida certamente fará grande diferença.

"tudo é tão normal, todo tal e qual, Nenêm não tem hora para se deitar, mãe passando roupa do pai de agora, de um outro caçula que ainda vai chegar, é mais uma boca dentro do barraco, mais um quilo de farinha do mesmo saco..."

Quando chamo de estúpida as divisões que estúpidos criam no cristianismo, é porque perde-se tanto tempo discutindo qual seguimento, denominação, costume é o correto, que não sobra tempo para se dedicar ao que é a obrigação da igreja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Dedicar-se aos pobres e necessitados é a obrigação secundária da igreja e dos indivíduos cristãos, não o fazem (não o fazemos, preciso me incluir nisto).

Precisamos ser os causadores dos eventos que rompem este ciclo de pobreza. Difícil? Pode ser que sim, mas impossível nunca.

Recentemente li o livro "Falcão meninos do tráfico" escrito por MV Bill e Celso Athayde. O livro conta as histórias das curtas vidas dos meninos que trabalham para o tráfico de drogas pelo Brasil à fora.

Fácil é criticar os adolescentes e adultos marginais bandidos, difícil é aceitarmos que eles iniciam nesta vida ainda criança, e acreditem, não é por opção, mas sim pela falta de.

Uma coisa que me chocou neste livro é o relato muito parecido de cada falcão dizendo que aquilo ali não era vida não, estavam naquela vida para sobreviver, para sustentar a família e levantar uma grana e que queriam sair daquela vida. Perguntado de quanto precisavam ganhar para escolher um emprego digno, veio a resposta que me surpreendeu, mil reais era uma meta de salário deles.

"MV Bill: Hoje você é vapor. O que você imagina pra você daqui a 3 anos, por exemplo?
Falcão: (sorri) Porra, sei lá, não sei nem se eu vou estar vivo..."

Eu sempre imaginei que ganhassem bem mais do que isso e que por isso estavam naquela vida, mas não, eles ganham pouco mais de mil reais por mês para viver aquele inferno.

"Mv Bill: Você pensa em sair do crime?
Falcão: Penso. Isso não é profissão não."

E fato é que com o trabalho do MV Bill e a CUFA (Central Única das Favelas) dezenas de vidas foram transformadas. De mareginais e bandidos, viraram trabalhadores de bem. E isto só ocorreu porque MV Bill não conformado com o ciclo da pobreza, resolveu interromper alguns destes ciclos.

Por que então não fazemos mais isto? Porque a igreja é tão tímida nestas ações? Porque se preocupam muito mais no crescimento interno e na propagação de suas cranças do que na abrangência social?

"Meu sonho é ser palhaço. Quando eu fizer 18 anos, vou largar este fuzil e procurar um circo."

O tempo não para, a vida continua e o ciclo da pobreza vai se renovando, se repetindo e nós assistindo confortáveis em nossas poltronas.


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