terça-feira, 15 de março de 2011

Sou do tempo que

Sou do tempo que em noites quentes de verão ficávamos todas as crianças brincando na rua enquanto as mães conversavam nas calçadas. E lá se ia dez, onze da noite.


Em dias quentes que antecediam chuva então, os siriris saiam da toca e nós saíamos de casa. Potes de margarina ou vidros de maionese às mão, a caçar esses bichinhos nojentos.
Sou do tempo que nenhuma criança tinha joelhos sem uma casca de ferida.
Do tempo que ninguém sabia ou dava a menor importância para o colesterol, quanto mais saber a diferença entre eles. Do tempo que o tempo parecia mais lento.
Sou do tempo que já se ouvia a expressão "sou do tempo que..."
Ouvia dos mais velhos o quanto a infância deles sim, havia sido intensa. Eles sim apreciaram a vida, o mundo era mais calmo e as preocupações menores.

A verdade é que o mundo gira e com esses movimentos vai se transformando, sem pedir permissão ou sequer avisar que sua vida está passando, como um trem que não tem fim, que nunca para.
Sentados na estação, nossas vidas, sem pausas, vai passando na nossa frente e cada um faz para si a melhor imagem desse trem.
Cada vagão desse trem, que nunca para e que também não tem fim, representa um ciclo, um período da nossa vida. Os vagões da minha infância sem dúvida foram os mais belos até agora.
O mesmo vagão que passa agora é visto por diferentes olhos e perspectivas. É visto cinza por alguns adultos e cheio de cores vibrantes pelas crianças.
E nos bancos da estação, ouvem-se suspiros melancólicos "sou do tempo que esse vagão era colorido", enquanto uma criança pensa "uau, que cores incríveis".

Nada vai mudar o curso do trem, diminuir sua bruta velocidade ou sua sorrateira passagem, mas percebê-lo de uma forma bela certamente tornará sua passagem mais agradável.
Até chegar o momento em que o trem para, e é o fim de um ciclo, uma vida.

Evandro L! Melo

Um comentário:

Léo disse...

É EV........eu era do tempo que os Brasileiros eram Campeões na F1 e não ouviam ordens de equipe.........bem, deixa quieto.
Sempre a sensação é que antes era tudo melhor, mas o trem da vida passa, e o que nos resta é aproveitar.
Estamos ficando velhos não?