domingo, 31 de janeiro de 2010
DEVO ORAR PELO QUE MESMO?
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Você acaba de perder o jogo
O Jogo tem duas regras:
1. Quando você pensa no Jogo, você perde o Jogo;
2. Quando perde o Jogo você deve anunciar que perdeu àqueles ao seu redor.
Todos que sabem sobre o Jogo estão jogando. Tecnicamente ninguém pode ganhar o Jogo; o máximo que se pode fazer é não perder o Jogo (isto é, enquanto não se pensa no Jogo), ou levar outras pessoas a perderem (levando-as a pensar no Jogo).
Você acaba de perder o Jogo.
* * *
Mais sobre O Jogo aqui , aqui e aqui.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Por não conhecer a palavra
- Os documentos por favor. Pede o guarda ao motorista.
- Aqui estão.
O guarda verifica que está tudo em dia, e então pergunta:
- O senhor conhece as leis de trânsito?
- Conheço sim senhor.
- O senhor conhece o artigo 172 da lei de trânsito?
- Aí o senhor está pedindo demais, não conheço não.
Enquanto respondia o guarda foi retirando o boleto do bolso para lhe aplicar uma multa. O motorista então pergunta, chocado:
- Mas o senhor não pode me multar por não conhecer a lei de trânsito. Não sou obrigado a conhecer tudo.
O guarda então lhe diz:
- Tem razão, você não é obrigado a conhecer tudo e não posso lhe aplicar uma multa por não saber me dizer o artigo 172 da lei de trânsito.
- E então?! - questiona o motorista.
- Mas se o senhor conhecesse melhor a lei, saberia que o artigo 172 diz que é proibido atirar objetos ou substâncias do veículo, e isto é uma infração média com multa como penalidade.
- "..." - silêncio do motorista.
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O fato de não conhecermos a bíblia toda não é pecado, mas por causa do nosso desconhecimento cometemos erros. Pecamos por não conhecermos a palavra.
Evandro L! Melo
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
O pronunciamento
Os quatro eram teólogos e estavam mortos, mas suas indignações não descansavam.
– Numa crise dessa magnitude – disse o primeiro – seria impreterível que Deus não se esquivasse, como tem feito com demasiada frequência, de um pronunciamento oficial. O ideal seria que ele lesse pessoalmente, em cadeia planetária, uma nota redigida por nós.
– Se ele continua se recusando a liberar os recursos celestiais para as operações de salvamento e reconstrução – disse o segundo – o absoluto mínimo que ele deveria fazer seria manifestar de forma inequívoca sua solidariedade pelas vítimas e familiares. Repito: o absoluto mínimo.
– O que também não pode ser contornado indefinidamente – exigiu um o terceiro, abrindo seu laptop e apontando para uma pasta impossivelmente repleta do seu Google Reader – é o caso do comportamento temerário de Pat Robertson e de seus asseclas. Esses andam dizendo, em nome de Deus mas evidentemente sem o seu endosso, que a calamidade é intervenção divina, castigo aplicado devido à impenitente simpatia dos atingidos pela ortodoxia errada. Seria conveniente que no seu pronunciamento Deus deixasse bem claro o seu distanciamento dessa posição.
– Pelo contrário – asseverou um quarto, como se já viesse aguardando esse momento. – Em seu pronunciamento Deus deverá endossar cada palavra de seu servo Pat Robertson, de modo a expor as mentiras dos liberais e confundi-los publicamente. Tendo em vista a posição oficial da divindade com relação à sua própria soberania, inaceitável é o que andam afirmando os teólogos liberais: que Deus nada tem a ver com o desastre em questão e que, como se não bastasse, nada poderia ter feito para evitá-lo. Desnecessário apontar que é essa a posição sem qualquer precedente escriturístico, sendo além de tudo heresia defendida há séculos por ateus desprovidos de qualquer mérito.
E, apesar das suas diferenças doutrinárias, nos dias que seguiram os teólogos conseguiram redigir uma nota contendo sete pontos essenciais sobre os quais os quatro concordavam, a respeito da origem do mal e da posição divina diante das grandes calamidades. Deixaram o documento na caixa de sugestões do céu, que não tem fundo, juntamente com uma carta de apresentação e um abaixo-assinado com poucas assinaturas, mas de prestígio.
A resposta demorou meses a vir, e chegou endossada por um número impossivelmente abundante de selos, rubricas e carimbos, cada um atestando a passagem do processo por uma repartição celeste.
“O último pronunciamento oficial da divindade foi abraçar uma plena humanidade e morrer, e no intervalo entre uma coisa outra investir seus esforços em mitigar os sofrimentos dos homens e reparar as injustiças a que se submetem mutuamente, tendo deixado instrução para que seus seguidores vivessem e morressem dessa mesma forma. Não existe qualquer previsão para uma revisão deste pronunciamento, e a divindade não encontra-se disponível para esclarecimentos adicionais. A primeira vez em que foi visto publicamente Deus estava com as mãos sujas de barro, e na sua última aparição pública ostentava as cicatrizes de sua paixão pelos seres humanos. A administração do céu não reconhece outro lugar onde Deus possa ser encontrado, ou outra maneira pela qual possa ser reconhecido”.
– Lamentáveis essas respostas automáticas – disseram os teólogos uns aos outros, e passaram o resto da tarde lamentando a burocracia celestial.
Paulo Brabo
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Porque NÃO desisti de servir os pobres
Há algum tempo postei o texto "Porque desisti de servir os pobres" que encontrei no Bacia das almas.
O texto é provocador, horas parecendo absurdo outras fazendo sentido e que pelo simples fato de nos fazer parar, raciocinar, criar um pensamento (nem que seja contrário) vale a pena a leitura.
Seis meses se passaram e não deixei de pensar nisto. Hoje consigo ver da seguinte forma, não desisto de ajudar nem aos pobres nem a ninguén, nunca.
Explico porque:
Tudo o que é feito com amor, o amor verdadeiro, não espera nada em troca, nem mesmo gratidão.
Tudo o que é dado com amor é ação de graça e por ser de graça não se pode querer nada em troca.
O verdadeiro amor só mesmo Deus possui, é verdade, mas cabe a nós nos esforçarmos para alcançar este amor, mesmo sabendo que não
alcançaremos.
O ato de tentar, de buscar, o verbo imperativo, nos torna melhores e mais parecidos com o caráter de Cristo.
Deus quando criou o mundo, deu ao homem para que cuidasse de sua criação e quando nos amou de tal maneira a enviar seu filho para que
sofresse por nossos pecados, não o fez pensando que assim seríamos melhores, mais gratos e dignos.
Deus conhece todas as coisas, Ele é onipresente, onipotente e ONICIENTE, Ele sabia que não zelaríamos e não mereceríamos esse amor, mas
assim mesmo o fez por nós. Sem esperar e sem querer nada em troca.
Ao contrário, nos deu também de presente o livre arbítrio, que nos permite até mesmo sermos ingratos.
Nós, limitados que somos, estamos sempre a trocar nosso 'amor'por alguma recompensa, seja ela qual for.
Se não a temos, nos desanimamos, nos desapontamos e nos zangamos e concluímos que o melhor a fazer é deixar de fazer.
Mesquinhos que somos. E somos.
Ajudar alguém esperando algo em troca, não é amar ao próximo, mas sim condicionar o próximo.
Amar ao próximo não é adestrá-lo para que seja melhor e estes não sendo, se frustar a ponto de desistir de ajudá-los.
Amar ao próximo vai além de nossas expectativas, é um ato de fé.
E por fé, entende-se algo que fazemos sem esperar resultado, sem saber o que acontecerá.
PAZ.
Evandro L! Melo
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Por que desisti de servir os pobres
[…] Observo o quanto a pobreza se entranha na vida dos pobres, e quanto esta somente revela muitas vezes o seu desejo mal sucedido de possuir, de ter acesso ao consumo destruidor de tudo; observo como sua situação se constrói pela sedução das mesmas coisas que seduzem e destróem os ricos. O mesmo individualismo, o mesmo egoísmo, a mesma tendência a sentir-se confortável e identificado com a posse das coisas.DESISTI DE
AJUDAR
OS POBRES,
DE SERVÍ-
LOS E DE
SALVÁ-LOS E a adesão inegociável a um estilo de vida e modo de pensar que os prende ao mito da necessidade moderna, ao desejo mítico de evoluir e à submissão ao mito do desenvolvimento.
Igualmente a ricos, pobres e remediados estão convencidos de que o que precisam é de algo que o mercado, o dinheiro, o governo ou alguma agência pode lhes oferecer. Que serão felizes com a posse, com a pança cheia (uns com pão, outros com brioches) e com o fluir permanente do dinheiro que tudo pode e tudo resolve. E dentre estes, alguns bem intencionados estendem a mão para “incluir” outros no estilo de vida ou no patamar que alcançaram. À mão estendida de cima para baixo chamamos serviço.
Descobri ao longo dos anos que a própria posição de servir aos pobres, de compromisso com a libertação, estava cheia de superioridade, daquele tipo de superioridade que se traduz por dar ao outro o que eu tenho. Sutilmente, com meus atos, assumo que o que eu tenho ou faço era o que ele deveria ter ou fazer –Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. uma tradução percebida na sutil arrogância das tais políticas de “inclusão”, sempre buscando colocar o outro dentro da caixa onde vivo, incluído no meu estilo de vida.
[…]
Desisti de ajudar os pobres, de servi-los e de salvá-los. E isso porque tenho re-descoberto uma verdade dura: a de que Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. Jesus não veio trazer boas notícias a quem serve os pobres, ele trouxe uma boa notícia aos pobres. Ele não tem nada a dizer a outros salvadores, a quem disputa com Ele o cargo de Messias, de Redentor. A agenda de Jesus só traz uma mensagem aos que se reconhecem pobres, nus, feridos, cansados, sobrecarregados, carentes e sem esperança. Aos demais, sua agenda tem pouco ou nada a oferecer
A única maneira de permanecer com os pobres é se descobrimos que somos nós mesmos os miseráveis. É se reconhecemos a nós mesmos, ainda que bem disfarçados, naquele que está diante de nossos olhos.Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Ao encontrarmos neles nossa miséria, ao nos dar-mos conta de nossa carência, da desesperada necessidade de sermos salvos, aí nos encontramos com a agenda de Jesus.
Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Descobrir esta nossa fraqueza nos coloca sem nada para oferecer, servir, doar, mas revela nossa necessidade de sermos amados, curados e restaurados.
Desisti de servir aos pobres. Estou voltando a encontrar os pobres e me encontrar neles. Voltei a descobrir a miséria que se esconde nas vidas bem montadas de nossa falsa segurança. E com isso posso entender o Jesus que fala com leprosos e com ricos homens de negócios, com cobradores de impostos em suas festas e com enfermos miseráveis. Em sua identificação com todos e cada um Ele via o que talvez mais ninguém via: a extrema miséria e pobreza da condição humana, independente de qualquer status ou roupagem social.
***
De um texto absolutamente devastador do insubordinado Claudio Oliver. Posso ter de processá-lo por massacrar sem dó as ilusões que venho alimentando tão ternamente há anos.
Leia na íntegra clicando aqui, se tiver coragem de ser visto na rua com Deus.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
O vento e a moça
Lá vai o vento,
feliz a soprar
à procura da moça bonita
ele a encontra
ela reclama
ele, sorri.
Texto: Evandro L! Melo
Desenho: Uiara F. Melo (http://www.flickr.com/photos/uiarafm)
*Também em http://ohraios.zip.net/
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Tecnologia: os dois lados da moeda

Quando antes tínhamos meia dúzia de amigos, companheiros de churrasco, cerveja e bate papo, agora temos centenas e até milhares de "companheiros" virtuais e anônimos.
O que percebo nas redes sociais principalmente, são centenas de pessoas querendo falar ao mundo todo e alguns poucos dispostos a escutar, a dialogar, a trocar idéias.
E o pior é que a maioria não tem nada a dizer e diz ao mundo todo.
A tecnologia, ao mesmo tempo é admirável pela sua beleza e capacidade de alcançar um universo quase infinito, é também trágica no campo dos relacionamentos de afeto.
Quando antes os estudantes se reuniam na biblioteca da escola para fazer trabalhos em grupo, e enquanto um ia pesquisando na 'Barsa' ou no 'conhecer', outro ia resumindo, outro tirando cópia das ilustrações e outro escrevendo à mão em papel almaço. Hoje pesquisam no Google e se conversam por MSN.
Quando antes reuníamos a família e amigos para sortear o amigo secreto das festas de fim de ano, hoje fazemos por um Site amigosecreto.com.br.
Quando antes eu guardava no pensamento uma boa piada (ou nem tão boa), para contar a 2 ou 3 amigos da escola ou trabalho, hoje a publico no twitter para 50 pessoas que mal conheço.
A sociedade no geral se comporta de maneira estranha quando está em grupo ou no anonimato.
O mesmo rapaz que torce para o corinthians e tem amizade com um palmeirense, é o que quando está no estádio com a torcida, parte para a briga com a torcida rival.
Na internet o anonimato dá um certo poder à pessoa de botar pra fora aquilo que não é capaz de fazer ao vivo e a cores. E o que parece é que existe muita gente no mundo com um monstrinho sádico que habita nelas e quando estão na segurança que o anonimato proporciona o deixam sair e extravazar.
São os dois lados da moeda, e não creio que estamos com o poder de escolher um deles. Estamos sim é lançando essa moeda para cima todo dia, sem saber qual lado vai cair.
* Escrevi este post depois que li este AQUI do Paulo Brabo no Bacia das Almas.
Evandro L! Melo
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Avatar nenhum
Paulo Brabo, postou em seu Blog o post "Avatar nenhum" o qual segue na íntegra abaixo, coloquei meu entendimento e ele retornou. Bom chega de papo, a quem interessar possa, segue a conversa (pequena, bem pequena é verdade)
*****
Avatar nenhum
Posted: 01 Jan 2010 09:41 AM PST
Se você ainda não assistiu Avatar, o primeiro filme do diretor James Cameron depois de Titanic, provavelmente não vai querer ler esta nota.
O protagonista de Avatar ousou adentrar e abraçar um novo mundo; ousou dar um passo além da carne e do sangue e adotar como seus um povo outro e uma outra cultura. Avatar, o filme, apesar da pirotecnia das paisagens impossíveis, da invenção de idiomas e espécies e do descortinar de imensos abismos em 3D, ousou muito menos.
Trata-se, para começar, de um filme com uma mensagem, o que – anote o que estou dizendo – nunca é bom sinal. Na maior parte do tempo o ruído dessa intenção evangelística passa despercebido diante de ofertas mais imediatas e interessantes, mas na meia hora final, quando o diretor/autor se mostra inteiramente incapaz de amarrar a sua mensagem sem maculá-la com contradições, o castelo desmorona por completo. E em 3D.
Apesar do apelo de aventura, apesar de ser a história de um mocinho que contorna perigos e subjuga espécies exóticas, Avatar se considera um filme muito sério, e seu grande conflito fundamental desenrola-se entre capitalistas e populações nativas. De um lado está um modo de vida predatório e desumanizante, de outro uma vida natural e sustentável; de um lado estão burocratas e corporações, de outro xamãs e pés descalços; de um lado exércitos, do outro crianças.
Nada tenho contra esse conflito, que, entre outras coisas e infelizmente, é baseado em fatos reais. Apenas não devemos absolutamente acreditar quando Avatar dá entender que pode ter encontrado para ele um desfecho satisfatório.
Há, por exemplo, o tremendo desconforto de ver o grande herói branco transformando-se em deus cavalgador de dragões e salvador de civilizações devido à sua mera capacidade de, em poucos meses, aprender a manejar seu avatar melhor do que os nativos adultos de Pandora aprenderam a manejar seus próprios corpos desde que nasceram. É a sobrevivência no nosso tempo da terrível sombra do Mighty White, o grande salvador branco das narrativas colonialistas e imperialistas, cujos avatares são Tarzan e Jim das Selvas e Daktari e George, o rei da floresta.
Depois há o constrangimento de ver trazido seriamente à tona, e em pleno terceiro milênio, o mais desgastado e incompetente dos encantamentos naturebas, “não agrida a natureza ou ela irá voltar-se contra você”. A fórmula inspirou bons filmes de terror entre as décadas de 1950 e 1970 (”cuidado ao fazer testes nucleares no deserto ou derramar produtos químicos no pântano mais próximo, do contrário os <-inserir aqui qualquer espécie animal arbitrária-> gigantes irão invadir a sua cidade”), mas a nossa própria era, que enfrenta dilemas maiores e mais urgentes, requer solução menos infantilizante.
Porque Avatar pretende que o conflito em Pandora seja uma metáfora apta para os conflitos ambientais da nossa própria terra e do nosso própria tempo, e o que sabemos da nossa experiência é que não, a natureza não irá voltar-se contra você não importa o que você faça – pelo menos não a tempo, não de uma forma que o faça reconsiderar sua intenção de destruir e descaracterizar. Não importa o júbilo incandescente que promovam as vitórias de Avatar (e de filmes semelhantes), os rinocerontes não irão atacar as lojas do Wallmart e as baleias não vão derrubar as plataformas de petróleo. O mais perto que a natureza chegará de revidar será atendendo nosso pedido de um futuro isento de complicações como rinocerontes e baleias, mas então será tarde demais, e esta é a única moral da história e também sua contradição. Em termos ambientais, só se aprende a noção de sustentabilidade quando é cedo demais, na dura bem-aventurança das populações nativas, ou tarde demais, entre nós que já consumimos o planeta e vendemos o futuro.
Na verdade, as populações nativas acompanham invariavelmente a natureza em sua intransigente sujeição à destruição. Não devemos acreditar em mitos tardios de bons selvagens, mas é preciso reconhecer que uma coisa índios e culturas nativas têm em comum com a natureza: seu cavalheirismo de submeter-se ao apagamento sem luta. Entregam-se invariavelmente com docilidade, como quem cede a um abraço, ao toque que irá cancelá-los da realidade.
Esta é a contradição e a falha final de Avatar, o fato de que no filme a solução que os nativos destilam para vencer a violência dos exércitos financiados pelas corporações é engendrar sua própria estirpe de violência. Avatar não conhece outra solução para a guerra que não seja a guerra, e esta é uma tremenda derrota para narrativa tão bem-intencionada. O que acontece em Avatar é um caso homérico da rivalidade mimética denunciada por René Girard: a fim de vencer o inimigo sem alma os nativos imitam-no em tudo, deixando para trás até mesmo sua característica mais essencial e mais celebrada, seu respeito à vida, na ânsia de empreender justiça e salvar algum terreno. Desnecessário lembrar que na vida real, como provavelmente no universo do filme, as corporações estarão inteiramente prontas para revidar qualquer iniciativa violenta dos nativos, e quando voltarem estarão armados da justificativa inteiramente à prova de balas da vingança. Avatar é nisso indistinguível de Tropa de Elite.
Na vida real os frágeis não fazem guerra e ninguém fala em nome da natureza. Tudo que o meio-ambiente faz diante da violência (e entenda-se meio-ambiente como paisagens, espécies, tradições e culturas) é recolher-se e calar. Sua violência é apagar-se, e só o futuro será capaz de revelar por completo, pelo clamor impensável da ausência, a extensão desse horror.
E não importa o que sugira a ficção, não teremos outro planeta belíssimo para destruir. Não terás avatar nenhum.
Brabo das selvas e a mais severa das advertências
Brabo das selvas e a mais severa das advertências
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Olá Paulo Brabo, td certo?
Assisti ontem o filme Avatar. Como sei separar filmes cults de filmes pipocas, sei curtir cada um no seu estilo.
Gostei do que vi, e o que vi foi uma velha história, cheias de clichês, bem contada. Os efeitos são inovadores, nunca vimos algo assim nos cinemas e o ritmo do filme é intenso
do começo ao fim. Mas é um filme pipoca, sem dúvida e é bastante óbvio o que acontece nas cenas.
Fora isso, em relação a mensagem do filme, eu entendo assim: James Cameron gastou 10 anos nesse projeto e dizem que muito mais de 500 milhões de dollares no filme.
Sendo assim, ele precisa do retorno desse investimento, é lógico. Por isso penso que ele tremeu um pouco para inovar demais e fazer algo muito estranho e sem apelo ao grande
público. Ele é bom nisso, lembremos de Titanic.
Agora uma cena, que pouca gente comentou, eu entendi como a real mensagem do diretor/criador do filme. É a hora em que o protagonista esta falando em seu videolog, e diz que
pensou que sua guerra traria paz, mas que em um momento a gente tem que acordar e voltar ao mundo real.
Ou seja, o mundo já era mesmo e não há o que fazer a não ser sonhar, mas que iremos acordar e ver que nossos atos "heróicos" não adiantam de nada.
E não só em relação ao meio ambiente, mas a tudo, como fome, miséria, violência, etc.
Mas concordo plenamente contigo, os 'NAVI' não acharam outra solução à guerra a não ser a própria guerra. Isso é triste mesmo.
É como ver Barak Obama, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, enviando mais soldados às guerras com o discurso de que para ter paz é necessário a guerra.
Contraditório e estranho isso.
Um abraço.
Evandro Melo
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Evandro,
Pode não ter transparecido, mas também curti o filme. Entre outras coisas rola um poderoso simbolismo da assimilação/aceitação do Outro. Também achei o ritmo impecável e apesar
das obviedades um suspense delicioso.
São a mensagem ecológica e o discurso da guerra que penso ficaram capengas, mas para uma superprodução norte-americana já foi muito mais lúcida do que a maioria.
Forte abraço
PB
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É extamente isso mesmo. Separando as coisas dá para ter 2 opniões sem ser contraditório.
Olhando o filme como um blockbuster, é muito bom, olhando o roteiro é um tanto quanto clichê e realmente esses apelos ecoloóicos soam meio babacas mesmo. Assim como acho babaca
as caricaturas, do rapazinho ambicioso, do general forte e valente, do herói redimido...
Para mim o filme é uma mistura de Pocahontas+Smurfs+Matrix e uma pitada de Senhor dos anéis (a hora em que os animais vão à guerra).
Mas diferente de Matrix, que usou os efeitos visuais nunca vistos até então para dar suporte ao excelente roteiro (minha opnião), Avatar usa os efeitos visuais sensacionais para
salvar e carregar o fraco roteiro nas costas.
...
Gostei de ter essa "troca"de email contigo. Sei que você não gosta disso, rs, mas sou um fã do Bacia das almas. Curto até mesmo quando discordo de você , pois ao menos me
provocou a pensar, e isso já basta.
Grande abraço.
Evandro Melo
OBS.: Se ele me responder este último email, o que acho difícil, atualizo aqui.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Mário Quintana
Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.