sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Porque NÃO desisti de servir os pobres

Há algum tempo postei o texto "Porque desisti de servir os pobres" que encontrei no Bacia das almas.

O texto é provocador, horas parecendo absurdo outras fazendo sentido e que pelo simples fato de nos fazer parar, raciocinar, criar um pensamento (nem que seja contrário) vale a pena a leitura.

Seis meses se passaram e não deixei de pensar nisto. Hoje consigo ver da seguinte forma, não desisto de ajudar nem aos pobres nem a ninguén, nunca.

Explico porque:

Tudo o que é feito com amor, o amor verdadeiro, não espera nada em troca, nem mesmo gratidão.

Tudo o que é dado com amor é ação de graça e por ser de graça não se pode querer nada em troca.

O verdadeiro amor só mesmo Deus possui, é verdade, mas cabe a nós nos esforçarmos para alcançar este amor, mesmo sabendo que não

alcançaremos.
O ato de tentar, de buscar, o verbo imperativo, nos torna melhores e mais parecidos com o caráter de Cristo.

Deus quando criou o mundo, deu ao homem para que cuidasse de sua criação e quando nos amou de tal maneira a enviar seu filho para que

sofresse por nossos pecados, não o fez pensando que assim seríamos melhores, mais gratos e dignos.

Deus conhece todas as coisas, Ele é onipresente, onipotente e ONICIENTE, Ele sabia que não zelaríamos e não mereceríamos esse amor, mas

assim mesmo o fez por nós. Sem esperar e sem querer nada em troca.

Ao contrário, nos deu também de presente o livre arbítrio, que nos permite até mesmo sermos ingratos.

Nós, limitados que somos, estamos sempre a trocar nosso 'amor'por alguma recompensa, seja ela qual for.

Se não a temos, nos desanimamos, nos desapontamos e nos zangamos e concluímos que o melhor a fazer é deixar de fazer.

Mesquinhos que somos. E somos.

Ajudar alguém esperando algo em troca, não é amar ao próximo, mas sim condicionar o próximo.

Amar ao próximo não é adestrá-lo para que seja melhor e estes não sendo, se frustar a ponto de desistir de ajudá-los.

Amar ao próximo vai além de nossas expectativas, é um ato de fé.

E por fé, entende-se algo que fazemos sem esperar resultado, sem saber o que acontecerá.

PAZ.

Evandro L! Melo

_______________

Por que desisti de servir os pobres

[…] Observo o quanto a pobreza se entranha na vida dos pobres, e quanto esta somente revela muitas vezes o seu desejo mal sucedido de possuir, de ter acesso ao consumo destruidor de tudo; observo como sua situação se constrói pela sedução das mesmas coisas que seduzem e destróem os ricos. O mesmo individualismo, o mesmo egoísmo, a mesma tendência a sentir-se confortável e identificado com a posse das coisas.DESISTI DE
AJUDAR
OS POBRES,
DE SERVÍ-
LOS E DE
SALVÁ-LOS
E a adesão inegociável a um estilo de vida e modo de pensar que os prende ao mito da necessidade moderna, ao desejo mítico de evoluir e à submissão ao mito do desenvolvimento.

Igualmente a ricos, pobres e remediados estão convencidos de que o que precisam é de algo que o mercado, o dinheiro, o governo ou alguma agência pode lhes oferecer. Que serão felizes com a posse, com a pança cheia (uns com pão, outros com brioches) e com o fluir permanente do dinheiro que tudo pode e tudo resolve. E dentre estes, alguns bem intencionados estendem a mão para “incluir” outros no estilo de vida ou no patamar que alcançaram. À mão estendida de cima para baixo chamamos serviço.

Descobri ao longo dos anos que a própria posição de servir aos pobres, de compromisso com a libertação, estava cheia de superioridade, daquele tipo de superioridade que se traduz por dar ao outro o que eu tenho. Sutilmente, com meus atos, assumo que o que eu tenho ou faço era o que ele deveria ter ou fazer –Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. uma tradução percebida na sutil arrogância das tais políticas de “inclusão”, sempre buscando colocar o outro dentro da caixa onde vivo, incluído no meu estilo de vida.

[…]

Desisti de ajudar os pobres, de servi-los e de salvá-los. E isso porque tenho re-descoberto uma verdade dura: a de que Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. Jesus não veio trazer boas notícias a quem serve os pobres, ele trouxe uma boa notícia aos pobres. Ele não tem nada a dizer a outros salvadores, a quem disputa com Ele o cargo de Messias, de Redentor. A agenda de Jesus só traz uma mensagem aos que se reconhecem pobres, nus, feridos, cansados, sobrecarregados, carentes e sem esperança. Aos demais, sua agenda tem pouco ou nada a oferecer

A única maneira de permanecer com os pobres é se descobrimos que somos nós mesmos os miseráveis. É se reconhecemos a nós mesmos, ainda que bem disfarçados, naquele que está diante de nossos olhos.Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Ao encontrarmos neles nossa miséria, ao nos dar-mos conta de nossa carência, da desesperada necessidade de sermos salvos, aí nos encontramos com a agenda de Jesus.

Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Descobrir esta nossa fraqueza nos coloca sem nada para oferecer, servir, doar, mas revela nossa necessidade de sermos amados, curados e restaurados.

Desisti de servir aos pobres. Estou voltando a encontrar os pobres e me encontrar neles. Voltei a descobrir a miséria que se esconde nas vidas bem montadas de nossa falsa segurança. E com isso posso entender o Jesus que fala com leprosos e com ricos homens de negócios, com cobradores de impostos em suas festas e com enfermos miseráveis. Em sua identificação com todos e cada um Ele via o que talvez mais ninguém via: a extrema miséria e pobreza da condição humana, independente de qualquer status ou roupagem social.

***

De um texto absolutamente devastador do insubordinado Claudio Oliver. Posso ter de processá-lo por massacrar sem dó as ilusões que venho alimentando tão ternamente há anos.

Leia na íntegra clicando aqui, se tiver coragem de ser visto na rua com Deus.

Nenhum comentário: