sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ensaio: Violência



A maior violência não está nas telas de TV, nas capas dos jornais pelo mundo nem na pauta das conversas de barzinho, escritório, faculdade.

A maior violência é a violência velada, escondida e impreguinada em nós na forma de medo. Medo que não é ensinado na escola, ou em qualquer outro lugar, é o medo adquirido como instinto como osmose.

A maior violência é a que deixa mães aflitas passarem a noite em claro enquanto seus filhos estão tarde da noite aproveitando a juventude.
É o medo de quem fica em casa enquanto seu esposo(a) está ganhando o pão de cada dia.

É o medo que tirou as crianças das ruas. Agora estão todas livres dentro de apartamentos e condomínios cheios de grade.

É justamente a violência que nos obriga a fugir da violência, colocar grades em todas as janelas e ver o céu
listrado. Pessoas comuns instalar câmeras de segurança em suas casas, subir muros, instalar grades eletrificadas, pagar por segurança particular, mudar os planos do programa de final de semana para chegar mais cedo em casa.

É o pavor que gela o corpo quando você vê alguém "mau encarado" na rua, vindo em sua direção.
O receio de não mais ajudar o pobre que pede esmola julgando que pode ser um bandido.
É o medo que deixa alerta os motoristas que ao cair da noite não param em semáforos vermelhos.

A maior violência, a mais brutal violência é cultural, te tira a paz e faz parte do seu cotidiano sem que você
perceba, sutil como um sussurro macabro em seus ouvidos.

Evandro L! Melo

Um comentário:

Léo disse...

Estamos cada vez mais presos pelo nosso próprio medo, chegando ao ponto de ficarmos neuróticos, sinceramente, o meu maior medo é saber até onde isso vai chegar.
Um abraço e parabéns pelo texto.