terça-feira, 28 de agosto de 2007

Donos de dons.

Tudo é dom; tudo renasce com gratuidade; nada se explica pela necessidade. Os olhos que seguem o girassol; o amor que constrói o Taj Mahal; a mão que dobra a carta, sem saber celebram o Poeta.

Tudo é dom, tudo acontece na liberdade; nada se adensa por imposição. O sim que recusa o não, o atalho que nega a estrada, o significado de também admirar com um “muito bom”, mostram a filiação.

Tudo é dom, tudo é convite à aventura; nada se restringe no destino. O imprevisto da incerteza e a emoção de dançar na beira do abismo fazem todos repetir: “a vida é bonita e é bonita”.

Tudo é dom, tudo se integra; nada pode ser esquecido. As lágrimas que brotam por pura rebeldia, as navalhadas, o gosto amargo do fel, compõem o material da mais doce poesia. Não exise poeta sem agonia. A fé brota da dúvida e o descanso carece da fadiga.

Tudo é dom, tudo morre; nada permanece. O tempo não existe; ele é só o passar do próprio tempo, cruel e impessoal. As tardes que se esgarçam, as noites que se calam e as madrugadas que se levantam, não respeitam monarcas e vassalos, santos e pecadores. Vivem os que sabem adestrar o dobrar do sino em cada hora cheia.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

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